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quinta-feira, 5 de maio de 2016

Há mãos vazias que partem do cais [068]


 

Há mãos vazias que partem do cais,
apressadas,
fugindo em naus que sulcam águas
de brandura na querença da chegada,
cavadas na crença de rasgarem, destemidas,
quaisquer vagas alterosas
que à proa do desígnio se acostem.
Há barcos velhos ancorados
numa enseada de mar traiçoeiro
a encarecer os sonhos,
mal estivados e a zarpar sobrelotados,
na maresia da flor de sal espraiados
de tão arpoados no sangue.
Há vontades acossadas de partir e de ficar,
de ser pássaro migrante e sedentário,
de passar a vau para a outra margem
sem percorrer todo o rio de gente que sufoca.
Haverá limbos verdejantes e fanfarras
que desfraldem cantilenas de braços abertos
no porto de abrigo à chegada?
Ou apenas umas tábuas
para os afogados que derem à costa?
Porto de uma razão e timoneiros da desgraça,
vão na esteira de outras partidas
numa rota vezes de mais naufragada.
 
Jaime Portela

45 comentários:

VITORIO NANI disse...

Olá, Jaime!
Mais uma vez, você nos brinda com um poema maravilhoso!
As imagens em seu poema são fortes e verdadeiras, como se o narrador estivesse assistindo às aventureiras travessias contemporâneas.
Quem dera, houvessem vaus a tantas almas necessitadas!
Forte abraço, amigo!

Brisa disse...

Meu amigo Jaime
Estou a ler-te e a pensar que,a nossa vida é uma chegada e uma partida... Por isso é preciso viver os sonhos e lutar por eles...
Gostei das tuas mãos,cheias de palavras,que brotam dos teus dedos e dos teus pensamentos...

Bjo e desejo-te um bom fim de semana

Marta Vinhais disse...

O que há verdadeiramente? O que resta afinal? Sufoca-se, vive-se como?

Naufragamos ou chegaremos a bom porto? Espero que se chegue a bom porto, sem traições...

Obrigada pela visita...

Beijos e abraços
Marta

Cidália Ferreira disse...

Boa noite, Amigo!
Um encanto de poema, adorei ler.

Beijo
http://coisasdeumavida172.blogspot.pt/

Blog da Gigi disse...

Suas poesias são belíssimas, Jaime!!!! Obrigada pela advertencia!!!!! Beijos

Lua Singular disse...

O Jaime,
Você derreteu suas amarguras. Pensa nas amarguras de quem não empregos. Imagina que o pobre não pode comprar quase nada para comer aqui no Brasil.
Enquanto o pobre não consegue comprar um quilo de batata os prefeitos das minúsculas cidade ganham 13.000 reais.É mole? Imagine os grandes políticos?. Eu vou brigar com o sistema eu queria era o finado Getúlio Vargas estivesse na presidência acabava com toda essa "bandalheira"
Beijos
Lua Singular

Arco-Íris de Frida disse...

Assim é a vida... idas e vindas... portos e mais portos... as vezes chegamos bem,as vezes aos pedaços... tenho para mim que o importante é sempre chegar...

Abraços...

Célia disse...

Plena sensação de libertar-se, assumindo responsabilidades de ficar ou partir... Um poema incitante a revolucionarmo-nos, extirpar bolores que muitas vezes deixamos que se instalem em nossas vidas!
Abraço.

Gracita disse...

Estimado amigo Jaime
A vida é um ir e vir incessante. E nessa travessia temos a liberdade de escolha de como iremos para a outra margem. Apesar dos transtornos o que importa é chegar do outro lado
Sempre intenso no seu versejar caro amigo
Um abraço

Maria Teresa Valente disse...

Quanta verdade no teu poema, Poeta Jaime Portela!
Estamos sempre a decidir entre ficar e partir, para definir nosso existir. Muito intenso...
Abraços carinhosos
Maria Teresa

Ana Freire disse...

Um poema intenso, tocante, e emocionante, que aborda de uma forma magistral, a dramática viagem dos refugiados, que procuram chegar a uma Europa, indiferente e impotente, para os acolher... pelo menos foi esta a forma, como o interpretei...
Mais um trabalho de qualidade excepcional, Jaime!
Beijinho! Bom fim de semana!
Ana

Fá menor disse...

Que haja sempre uma tábua onde nos agarrarmos.

Bom-fim-de-semana, meu amigo.

Bjs

São disse...

Receio que não haja naus triunfantes e sobrem barcos naufragados...

Abraço, meu querido Jaime

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

JP

este poema é intenso e muito forte, pois relata uma realidade que nos merece atenção e nos comove até às lágrimas, e cujas soluções, não são tão fáceis assim.
conseguiu transportar para este trabalho toda a sua sensibilidade de Poeta.
um trabalho muito bom.
bom fim de semana.
beijinho
:)

Graça Alves disse...

Muito interessante!
Gosto do vocabulário marítimo :)
bj :)

Elvira Carvalho disse...

Mais um excelente poema, com enfoque na génese portuguesa, sempre em busca de um lugar que lhes dê o futuro que o país lhes nega,mas também evidenciando o drama dos refugiados.
Um abraço e bom fim de semana

Mariangela l. Vieira - "Vida", o meu maior presente. disse...

A vida é linda em suas idas e vindas!
Se preciso for... Iremos!
Não tentar, é que não podemos.
Poema belo e verdadeiro Jaime!
Abraço!
Mariangela

SOL da Esteva disse...

O Cais da Vida nem sempre é Porto seguro. Muitas vezes chegamos (ou partimos) vazios de tudo.
Belíssimo Poema, Jaime.


Abraço
SOL

Aline Goulart disse...

Cada porto uma história. Uma história com final feliz ou não. Acredito que a vida pode ser comparada, por analogia, com um porto. Quantas idas e vindas, quantas partidas e chegadas, quantas alegrias e tristezas anunciadas... Belíssimo poema, Jaime. Ótimo fim de semana. Beijinhos.

Suzete Brainer disse...

Tão belo poema,
o grito da dor silenciosa
dos sem destinos em busca
de uma pátria e recomeço de vida!...

Sentido o teu grito poético num voo humano, caro Amigo!
Bom final de semana, Jaime.
Beijo.

Unknown disse...

Olá, Jaime.
Poema construído com mestria e rara beleza, dum tema tão forte, tão duro, tão vergonhoso de ser testemunhado na era do "nada é impossível" - a quem tem tudo...
Estes, que nada têm, além de vidas que jazem todas, por igual, em águas feitas duma mescla de lama e sangue, em que, agarrados ao nada, as "vontades acossadas de partir e de ficar" já não são coerentes, porque nada aqui rima com coerência.

abç amg

linksdistodaquilo disse...

Um poema com varias leituras, mas todas dolorosas.
Beijo.

madrugadas disse...

Gostei de ler. Poesia diferente.

Marineide Dan Ribeiro disse...

Uns vão e não voltam mais...outros ficam porque não podem partir...E há os que vão e voltam, mas logo querem partir novamente. Mas quem se aventura mar a dentro nunca sabe ao certo o que lhe espera...

Bjus e feliz dia das mães!!!

Helena disse...

Jaime, meu querido amigo, mais uma vez tu a nos brindar com um poema de tocantes versos. Um dos mais bem compostos de todos que já li a respeito dessa tragédia dos emigrantes. Quando lemos algo a respeito ficamos sempre a pensar no destino de tanta gente que desassistida da sorte ainda tem que enfrentar o desamor, o descaso, a indiferença daqueles que possuem os meios mais eficientes para, pelo menos, sanar-lhes um pouco do desespero, do sofrimento, da desesperança.
Ah, meu amigo, são tantos os males a afligir este mundo nosso!!!
Deixo-te um punhado de sorrisos adornados de estrelas para enfeitar o teu final de semana.
Com carinho,
Helena

MEU DOCE AMOR disse...

Olá.

Há que mudar o rumo ...

Beijinho doce:)

Mirtes Stolze. disse...

Boa tarde Jaime.
Mais uma vez, um poema maravilhoso. Lindos dias. Enorme abraço.

Manuel Veiga disse...

por vezes a dúvida queima os dedos...

mas importa lançar o dardo e queimar as pontes, caso contrário nunca se saberá das rotas...

um excelente poema. abrir pistas de reflexão.

gostei muito

abraço, meu caro Jaime

Ailime disse...

Boa tarde Jaime,
Magnífico poema em que de forma brilhante realça o drama dos povos que atravessam os mares em busca da sobrevivência e onde tantas vezes naufragam como se não pertencessem a este mundo. Dramática situação sem fim à vista.
Beijinhos e bom domingo.
Ailime

Ana Simões disse...

Como sempre fico enternecida ao ler-te, hoje fiquei tb comovida.. este teu belo poema projecta-me para a correria quotidiana de todos que atravessem o rio num barco lotado de gente e vazio de emoções e correm para casa emprego e terminam o dia com as mãos vazias....
Outra leitura será o trajecto da nossa vida.. a chegada... para uns haverá no mínimo o amor fraterno, o que á nascença é o suficiente.. lamentavelmente tb há quem chegue ao cais da vide sem sequer esse amor... e depois haverá inevitavelmente a partida para todos.. e essa sim.. será feita de mãos vazias.
Bom domingo amigo Jaime Beijinho

Daniel Costa disse...

Jaime
Tudo pode estar na interrogativa, conforme o momento da mente do poeta, mas uma coisa é certa: o poema e belo pela certa. É mesmo de gostar e reler, como me aconteceu.

BRASIL: O SORRISO DE DEUS.
Capitania de São Vicente
Se comentar o post agradeço.
http://amornaguerra.blogspot.pt/

Abraço

LuísM Castanheira disse...

tempos do nosso descontentamento, na fuga de quem da guerra procura outras margens, ou a morte traiçoeira do naufrágio.poema de homenagem a um destino incerto e a uma incerta compreensão. gostei muito.
um abraço.

mixtu disse...

tábuas de um naufrago, na outra margem...
partidas que nunca têm chegadas...

oh desgraça! desgraças!

Graça Pires disse...

Um poema fantástico! A lembrar que nem sempre todos chegam ao cais. A dizer que há náufragos por dentro dos nossos olhos, às vezes tão apressados e desatentos a verem o que se passa. Um poema a fazer pensar... Obrigada Jaime.
Beijos.

By Me disse...

A verdade nua e crua naufragada no teu poema! Cada vez mais... as mãos vazias, é triste, muito triste!

Excelente a tua escrita,em memória dos que partem sem esperança e regressam a qualquer cais, mal supondo o que irão encontrar...

Boa semana, querido amigo, JP.

Tais Luso de Carvalho disse...

...Mas muito bonito!! Comove.

"Há vontades acossadas de partir e de ficar,
de ser pássaro migrante e sedentário,
de passar a vau para a outra margem
sem percorrer todo o rio de gente que sufoca."

Beijo, meu amigo.

rosa-branca disse...

Amigo Jaime, uma verdade que dói. O saber que há muitos mais naufrágios, que portos seguros. Uma boa reflexão quem quiser dar-se ao trabalho...de reflectir claro. Boa semana e beijos com carinho

CÉU disse...

Agonia, crença, descrença, em forma de poesia, que, infelizmente retrata uma dura realidade social.
Beijo e boa semana, Jaime...

Minhas Pinturas disse...

Caro POETA JAIME;
As partidas nem sempre levam a portos seguros, foge-se com esperanças que naufragam. Há que se pensar na realidade do mundo atual, muita dor ira e indiferença e pouca solidariedade e amor.
Seu poema nos instiga a pesar, é real e contundente.
beijinhos,Léah

MS disse...

Um poema de profunda contemplação da contemporaneidade.

Imagens (de palavras) fortes ,autênticas, como se todos nós estivessemos a vê-las. E sim, são reais, as travessias. Assistimos. Impotentes?

As pontes não se fizeram, apenas portos de abrigo (desabrigo).

Beijo, Jaime.

Zilani Célia disse...

OI JAIME!
MESMO QUE SEJAMOS SOBREVIVENTES DE MUITOS NAUFRÁGIOS, ESTAREMOS SEMPRE DE MALAS PRONTAS PARA NOVAS PARTIDAS, CRENTES QUE NA MARGEM HAVERÁ UMA NOVA TÁBUA DE SALVAÇÃO.
LINDO AMIGO.
ABRÇS
http://zilanicelia.blogspot.com.br/

Magda Carvalho disse...

Bonito poema
http://retromaggie.blogspot.pt/

Jaime Portela disse...

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Caros amigos
Obrigado pelos vossos comentários. Voltem sempre.
Entretanto, acabei de publicar novo poema. Espero que gostem.
Continuação de boa semana para todos.
Saudações poéticas.
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Odete Ferreira disse...

Partir ou ficar. Agir ou esperar. Falar ou escutar. Confiar ou desconfiar. Dilemas subentendidos num excelente poema.
Bjo, amigo :)

Graça disse...


Para quando o livro???

:)