À margem dos sentidos que as mantêm cativas,
trago comigo palavras que me querem decifrar,
que lutam entre si
para me dividir indignamente
e devassar esconderijos que desconheço.
Destes pássaros altruístas,
que cantam ao sol continuamente de graça,
não fujo nem me salvo,
porque entre eles e eu há uma certeza cravada
que se arruína mal se constrói à deriva do não dito,
naufragando sem rumo nas brumas do
sentido.
Apesar disso, em fila indiana,
o rebanho silvestre das palavras vai sendo riscado
em poemas vivos de pássaros
que se constroem pousados nas linhas,
na mira dos contornos de um confuso retrato
que mesmo impreciso descubram.
© Jaime
Portela, Abril de 2022