É no teu âmago que batem as horas
que nos arrastam ao recomeço,
samba inadiável nas artérias
do fuso difuso das emoções.
Os dias
contam-se pela fermentação do mosto,
adormecido,
até que o álcool ruborize as nossas bocas,
destilando bebidas seminuas,
imagens a dançar
coladas ao odor do nosso orvalho.
Nesse tempo de choco,
pouso ave inebriada nos teus seios
ao ritmo a que me adotas
no teu corpo,
ao compasso do começo sem ponteiros
a germinar no teu rosto.
Revolvemos
a terra e o ar da hora desmedida,
onde os ventos sem lama se derramam
nas unhas que se apegam à carne,
em fogo.
O nosso tempo só é cadáver
quando as nossas bocas, cansadas,
deixam de se alimentar
das estrelas da carne.
É o alarme para darmos corda
ao relógio do nosso silêncio,
o tempo de nos alvoroçarmos
para voltar ao recomeço.
O tempo mede-se a partir de ti.
© Jaime
Portela, Julho de 2022