segunda-feira, 25 de novembro de 2024

Comemorações [588]

 


Há disparates inconscientes,

por carências mentais,

com o mesmo automatismo

que os instintos do corpo,

tal como a administração

do estômago ou dos intestinos

fazem das suas excreções.

Mas a compreensão da leviandade,

sem ato de contrição,

é um atentado à inteligência.

E há memórias salgadas, ou temperadas

com outros condimentos impúdicos,

que procuram turvar os factos

e a paisagem dos contextos a seu favor.

Comemorar os ziguezagues de uma revolução,

por carências mentais ou leviandade,

colorindo os causadores dos mortos

com outras cores,

é um insulto à memória coletiva.

 

© Jaime Portela, Novembro de 2024

 

 

PS: As comemorações do 25 de Novembro de 1975 a realizar hoje na Assembleia da República (pela primeira vez em 49 anos) é polémica e divide os partidos políticos e as pessoas. Acha que faz sentido comemorar datas deste tipo?


segunda-feira, 18 de novembro de 2024

A obrigação de informar [587]

 


Para que as flores da verdade

floresçam depois de pisadas,

há que inventar a sincronia das palavras

boleadas na razão e nos factos

e evitar os antídotos que destruam

o viço de flores de outras cores.

 

Porém, menções às divergências,

de maxilas esfalfadas

na intenção de melhores resultados,

onde os pontos de vista contrários

são como as cerejas,

são atiradas pelas janelas partidas

e caem mortas na rua dos tabus.

 

Porque, no caminho

onde a difusão requer lógica

para que se torne compreensível,

a vastidão de análises sem ética,

que repetem mensagens disruptivas

exibidas até à exaustão,

disfarça a obrigação de informar.

 

© Jaime Portela, Novembro de 2024


segunda-feira, 11 de novembro de 2024

Tacticismos [586]

 


O estridor,

na azáfama do arregimentar

dos cardumes do peixe miúdo

nas salgadeiras dos votos,

é costumeiro.

No rescaldo,

há mão firme na queimada

de escárnio e maldizer

para que a ruína dos opositores

se construa.

E, não havendo misericórdia

para os perdedores,

os beneméritos hipócritas

são desnecessários.

 

© Jaime Portela, Novembro de 2024


segunda-feira, 4 de novembro de 2024

O futuro é já ali depois da morte [585]

 


O tempo pode ser um lago sem margens

onde se torna invisível.

Quando o sentimos, é um rio em linhas sinuosas

que flui por entre as pedras,

contando histórias de lembranças

e seguindo os destinos que nos podem marcar.

 

Cada escolha no tempo

é um universo que altera o futuro,

é uma tela em branco de um novo caminho,

é um sopro de vento que nos impele

numa jornada mais importante que a chegada.

 

O tempo não perdura no futuro

porque este ainda não existe.

Todos nos limitamos a medir o futuro

em passos que iremos dar

e em sonhos que brotarão da luz

que perseguimos.

 

O tempo é um amigo que espera por nós.

Quando dormimos, o tempo não passa.

Os crentes

não precisam de medir o futuro em anos-luz,

porque o futuro é já ali depois da morte.

 

 

© Jaime Portela, Novembro de 2024