quinta-feira, 26 de maio de 2016

A minha imagem real [071]


 

A minha imagem real
anda do corpo arredia, fugidia.
Não a vejo, não a toco,
escorrega-me dos dedos
qual enguia libertina.
Não a domino, a vadia.
Cata-vento e dançarina,
mostra-se sempre diferente,
muda de cor, de feitio,
de tamanho e de feição
a cada olhar que pressente.
Estou a pensar que a travesti
é obra alheia e não minha.
Por isso,
não presumam como certos
os retratos que vos dou.
Inacabados e toscos, nenhum
deles me revela por inteiro
e nem eu sei o que sou.
 
Jaime Portela

62 comentários:

  1. Os poetas são assim. Vivem metamorfoseando os sentimentos, em permanente desassossego.
    Um abraço e bom feriado

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  2. Importante é não dispersar-se para manter o tônus dessa lírica tão rica. Do outro lado, Sá-Carneiro também leu atento o seu poema.
    Abraço forte,

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  3. Olá, Amigo Jaime

    Somos vários e a nossa multiplicidade leva-nos a desempenhar milhentos papéis no palco da vida, mas a nossa essência lá está, sempre, a comandar os nossos passos em atenção aos nossos valores.

    Abraço

    Olinda

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  4. OI JAIME!
    SOMOS MUITOS EM NÓS MESMOS E MUITAS VEZES NOS PERDEMOS AO NOS BUSCARMOS.
    ABRÇS
    http://zilanicelia.blogspot.com.br/

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  5. Somos tantos,estamos sempre tentando encontrar a nos mesmos...

    Beijos...

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  6. Muito verdadeiro, amigo Jaime! A vida inteira nos buscamos, ansiosos para conhecermos a nossa verdade e chegamos à conclusão que a tarefa jamais se encerrará. Não somos únicos, apenas um, somos diversos, e o bom seria conhecer profundamente qual das nossas imagens está agindo no momento e por que dessa e não de outra maneira.Saberíamos todas as nossas reações.
    Gostei do tema, gosto de tratar de coisas complexas.
    Beijo, amigo, bom resto de semana.

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  7. Oi Jaime
    Sua poesia se faz difícil para o meu entendimento. Você é um poeta lírico?
    Beijos
    Lua Singular

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  8. Pois é, os retratos quase sempre nos traem (ou pensamos que traem), nele nos vemos não como somos (ou que pensamos ser), mas de forma distorcida, que por mais que o olhemos, neles não nos reconhecemos. Não será maldição do relógio do tempo, que se recusa parar?
    Gostei do seu poema, amigo Jaime.
    Um abraço.

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  9. Vagueamos por entre nós; somos complexos... Ficamos desordenados...ilógicos ou a verdade de nós próprios é estarmos sempre a encontrar-nos, desencontrar-nos, organizar e reorganizar...
    Brilhante...
    Obrigada pela visita
    Beijos e abraços
    Marta

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  10. Não me canso de referir o "Mestre" quando se fala do fingimento dos poetas...
    Mas todos sabemos que o poeta finge apenas quando escreve, embora o fingimento não seja total, dado que a sua poesia sempre deixa transparecer algo do que lhe vai na alma.
    Gostei muito deste seu "fingimento", querido amigo Jaime.

    Bom Fim-de-semana
    Beijinhos
    MARIAZITA / A CASA DA MARIQUINHAS

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  11. Belo e interessante poema! Acontece-me o mesmo :)

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  12. Sempre com maravilhosos poemas! Este é um deles! Parabéns

    Beijo, bom fim de semana.
    http://coisasdeumavida172.blogspot.pt/

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  13. com a verdade te engano, não é meu caro Jaime?
    pois é - "somos ponte/entre nós/ e o Outro..." (já dizia o outro rss)

    abraço, poeta

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  14. Verdadeiramente, Jaime, ou somos quem (e o que) somos ou tornamo-nos camaleões da vida.A Poesia trancede-nos...


    Abraço
    SOL

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  15. Amigo Jaime somos todos camaleões, sempre buscando o que fazer e como ser e de repente nos achamos e tão logo nos perdemos, é uma luta constante entre nós e nós mesmos. "Ser ou não ser, eis a questão."
    Mas sendo ou não, sei que és um maravilhoso poeta.
    Beijinhos, Léah

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  16. Olá Jaime,diante dessa magnitude de palavras,sentimo-nos ínfimos a sua cultura e versatilidade em descrever cada verso que a nós compartilha.
    Muito lirismo em seu lindo poetar.
    Obrigada pela visita e um ótimo final de semana.
    Carmen Lúcia.

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  17. JP

    bem rimado, melodioso até dava uma belíssima canção.
    um pouco diferente do que tenho lido de tua autoria, mas confesso que é um excelente trabalho que dá uma definição da dualidade do Poeta e quiçá de todo o seu humano.
    um bom momento de poesia.
    bom fim de semana.
    beijinho
    :)

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  18. Mas quem diz que a sombra não será o recanto mais apreciado quando a realidade da força do sol convida a recolher o corpo na penumbra dançarina?
    O camaleão metamorfoseia-se para se defender. Mudar de ar e de feição é capacidade só de inteligentes!
    Belo, este poema cata-vento, Jaime :)
    Beijinho! *

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  19. Amigo Poeta Jaime Portela, quem somos nós?
    Meros mortais que nada sabemos, o que fazemos ou quem somos!
    Estamos sempre à procura de nós...
    Mas tu tens o talento das palavras, que rimam e se cruzam, nos
    deleitando a saborear as belezas dos teus versos!
    Excelente final de semana, abraços carinhosos
    Maria Teresa

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  20. O ser humano é complexo e nem sempre consegue mostrar a sua real identidade; a cada instante que passa somos diferentes e perante os diversos desafios de cada momento, agimos de maneira diferente, muitas vezes não entendendo as nossas próprias decisões e atitudes. Quantas vezes nos interrogamos sobre o motivo que nos levou a agir desta ou daquela maneira; temos a sensação de que não fomos nós, de que outra pessoa bem diferente nos substituiu. Nem sempre conseguimos ser coerentes com as nossas ideias, com a nossa etica, com os nossos valores e de repente vemo-nos a ter atitudes nunca por nós pensadas, É... pensamos que nos conhecemos muito bem, que estamos seguros nas nossas crenças, nos nossos objectivos, nas nossas posições perante a vida, mas não é bem assim: a vida modifica-nos e por mais que tentemos ser fiéis à nossa imagem real, ou antes,à imagem que pensamos ser a real, nem sempre conseguimos. Mas tu, como sempre, conseguiste mais um belo poema que me levou a uma divagação, sem a pretensão de querer entender o que te ia na alma quando o compuseste. Isso só tu sabes. Jaime, obrigada pelo belo momento. Um bom fim de semana, Beijinho
    Emilia

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  21. Somos impotentes em arbitrarmos nossa existência. E, em nossos momentos de fraqueza, escondermo-nos para não deixarmos vir à tona nossa realidade. Maneira sutil de nos protegermos.
    Abraço.

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  22. Bonito retrato onde também me retrato
    As cores que nos vestem em cada dia.
    Momentos nossos e que nos passam sem os podermos travar.
    Abraços de amizade.

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  23. OLÁ JAIME

    Belíssimas palavras as suas, com as quais concordo em absoluto:
    Por isso,
    não presumam como certos
    os retratos que vos dou.
    Inacabados e toscos, nenhum
    deles me revela por inteiro
    e nem eu sei o que sou.

    Magnífico poema, gostei imenso.

    Aqui admito que tenho andado afastada dos blogues.
    Há períodos nas nossas vidas que nos deixam assim,
    nem sei como os apelidar.
    Desmotivação, será?

    O que é certo é que já nada publicava neste meu blog: ORIENTEvsOcidente" desde Janeiro de 2015 - há 16 meses - muito tempo mesmo.

    Só que ontem, meramente por acaso fui procurar uns artigos
    e dei conta que era o seu 4º aniversário e pensei:

    Não posso deixar passar esta data sem fazer uma referência e decidi fazer um novo post.

    Para ver o meu post é neste link:
    http://orientevsocidente.blogspot.pt/

    Aguardo por si, Amigo!

    Beijinho

    Bom fim de semana.

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  24. Olá, Jaime.
    Muito bom, marcando um outro passo - lá está: vários eus aí se guardam, nessa alma de poeta ;)
    Aliás, como seres únicos, somos muitos: o meio, o momento, a necessidade, a emoção fazem de nós o que somos - camaleões em permanente transformação. Por outro lado, a experiência e o tempo também moldam-nos: hoje não somos os mesmos que ontem e não nos reconheceremos amanhã - duvida? Eu não. A pedra que é pedra, transforma-se: dêem-lhe tempo ;)

    abç amg

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  25. Olá:

    Essa fugidia está a precisar de um puxão nas orelhas.

    Todos com retratos toscos e mais para descobrir...

    Beijinho doce:)

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  26. Belas e lindos dizeres de uma profundidade grandiosa, daquela que nos faz refletir em momentos longínquos...
    Desejo-te meu grande amigo um belo findar de semana repleto de muita paz...forte abraço

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  27. Bom dia, Jaime.
    Excelente definição da não definição do que somos nós, seres mutantes sempre em transição.
    Amei teu poema,parabéns!
    Obrigada por todo carinho e presença nos seus comentários no "Redescobrindo a Alma".
    Paz e luz.
    Beijos na alma.

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  28. Os teus poemas são um caleidoscópio..lindo.

    Bom domingo, amigo

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  29. Somos o que somos. Nem sempre o que queremos. Este belo poema fala da complexidade de nos aceitarmos? Ou o poeta é mesmo um fingidor?...
    Beijos.

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  30. Jaime: poemas que mostram aos poucos as tantas facetas dos poetas...o que os tornam mais e mais instigantes.
    Um Domingo de muita paz pra ti.abraços mil!

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  31. Pode ser que sim...pode ser que não..."O poeta é um fingidor, finge tão completamente que chega a fingir que é dor, a dor que deveras sente" e a que não sente; malabarista, saltimbanco, "cigano", "falsário"...(esconde/esconde)...
    Mais uma obra prima que "a tua imagem real" nos dá!

    Boa semana JP

    Beijo.

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  32. Bonitas palavras!
    http://retromaggie.blogspot.pt/

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  33. Sempre fantástico!

    r: Muito obrigada :)
    Boa semana*

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  34. Boa tarde Jaime.
    Muito verdadeiro as suas indagações meu amigo. Muitas vezes nos buscamos, nós encontramos e voltamos a nós perder. Não somos únicos, a nós sentir assim. Muitas vezes faço meditação buscando as respostas. Mais de uma coisa eu sei você é um grande poeta rsrs. Voltei ao virtual. Uma linda semana. Enorme abraço.

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  35. Excelente poema!

    Andei dando uma pequena pausa que acabou se alongando. Mais a saudade bateu, e de volta estou no meu blog.
    Um abraço e ótima semana Jaime!

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  36. Olá Jaime.
    Assim se processa nesta busca incansável e constante.
    Bela arte de criar reflexões em poesia.
    Meu abraço e boa semana.

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  37. Os grandes poetas como você amigo Jaime vivem a metamorfose do eu
    Belíssima expressão poética meu amigo
    Um abraço

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  38. A minha imagem real, também assim é.... e em certos momentos (muitos deles) nem eu sei o que sou....
    Lindo como sempre....
    Beijo de..
    Saudade

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  39. Lindo o seu poema, Jaime, mas, no fundo de nós mesmos, sabemos quem somos...
    Grande abraço, querido amigo!

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  40. Jaime, lindo texto, me encantou profundamente, porque penso assim, como suas linhas, sou muitas em mim mesma, e, quando penso que estou a me desvendar, novamente me encanto com uma nova faceta, com nossos desejos, que nascem e trasbordam desse meu inesgotável e mutável ser.
    Gostei imenso, amigo.
    Um ótima semana para você, beijo.

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  41. Excelente e belíssimo o teu poema, caro Jaime!

    Acredito que todas as tuas imagens vestem a Poesia,
    ela é essencial em ti, Poeta!...

    Beijo.

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  42. Somos princípios e valores, ao sabor das circunstâncias... e quando nos perdemos de nós mesmos... é quando mais nos encontramos...
    Somos muito mais do que aparentamos... e de como os outros nos vêem...
    somos como nos sentimos...
    Um poema belo e profundo... e mais um dos meus preferidos, por aqui, Jaime!...
    Beijinho! Continuação de uma boa semana!
    Ana

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  43. a nossa imagem real esta sempre a mudar dependendo do dia, do sitio, do que nos rodeia

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  44. Pois é, nem nós, por vezes, sabemos quem somos. Beijo.

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  45. Meu querido, fizeste-me lembrar de um texto de Augusto Cury:
    “Não sei quem sou nem o que sou, pois o que pensava que era não é o que sou. Estou me desintoxicando do que era para ser o que sou. Não compreendo ainda quem sou, mas estou a procura de mim.”
    Acredito que estejamos todos a pedir que não nos interpretem pelos versos ou textos (ou até mesmo prosa) que muitas vezes vamos deixando pelo caminho. E isto bem disseste nestes versos:
    “não presumam como certos
    os retratos que vos dou.
    Inacabados e toscos, nenhum
    deles me revela por inteiro
    e nem eu sei o que sou.”
    Somos a nossa maior incógnita, aquela pergunta que não se cala e para a qual a resposta ainda está a ser construída. Acredito que a multiplicidade de nós se torna um incentivo para a não estagnação, pois ao procurar nos entender/compreender/conhecer estamos ativando aquela parte do cérebro que grava a memória e a quer paralisada, engessada num único registro. E o fato de não desejarmos ser apenas aquilo que a nossa lembrança nos mostra - por ser insuficiente ao nosso próprio requisito ou porque a ela queremos acrescer melhores condições de avaliação – se torna a mola propulsora para uma busca interior mais íntegra, coerente e justa.
    Um excelente poema, meu amigo, a nos mostrar a versatilidade da tua poesia.
    Sorrisos e estrelas, sempre, no teu caminhar.
    Com carinho,
    Helena

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  46. Amigo Jaime, gostei dessa imagem real arredia do corpo a escorregar p'los dedos, libertina vadia enfim! Endiabrada com um pouco de loucura, no sentir faz travessura. O poeta é mesmo assim. Mais um poema lindo que adorei. Boa semana e beijos com carinho

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  47. Os seus poemas fazem-me lembrar os de Fernando Pessoa .
    As mesmas dúvidas existenciais, o mesmo sentimento e mestria. Parabéns amigo Jaime.

    Um beijinho grato

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  48. Soberbo enredo no sentir do poeta. O meu aplauso. Abraço amigo

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  49. Soberbo enredo no sentir do poeta. O meu aplauso. Abraço amigo

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  50. Lá está: o poeta é um fingidor!
    Beijinhos, amigo.

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  51. Lá está: o poeta é um fingidor!
    Beijinhos, amigo.

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  52. ... por isso vivemos: para perseguir a vã glória do autoconhecimento.
    Por isso morremos: cansados e autistas de nós já que é vã a glória. Mas ricos de tanto se nos decidirmos a perseguir cada momento possível dentro de nós e reflectido nos outros.

    Ler-te é um desses momentos amigo poeta: um momento possível de puto prazer.

    Um beijinho

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  53. Reli o teu poema... continuo a pensar nas tuas palavras ...e não me vou revelar... (sorrisos)

    Continuação de boa semana, JP

    Beijo


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  54. ============================================================

    Caros amigos
    Obrigado pelos vossos comentários. Voltem sempre.
    Entretanto, acabei de publicar novo poema. Espero que gostem.
    Continuação de boa semana para todos.
    Saudações poéticas.

    ============================================================

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  55. Excelente poesia, Jaime! Eu acredito que todos nós não nos conhecemos perfeitamente, pois cada ser é uma caixinha de surpresa. Contudo, os poetas são aqueles que mais buscam essa difícil tarefa de transcrever os verbos ser e sentir. Beijinhos...

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  56. E, quem sou eu?
    Eu que me visto e dispo
    sem saber por que sou
    pelos versos defenestrado

    Gostei, Poeta.

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  57. Olá meu querido amigo... vim atrasada mas não me esqueci de ti...
    Só sei que tu és excepcional a dizer o que te vai na alma...

    Bjo

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  58. Boa noite Jaime,
    Só sei que nada sei e tantas vezes me pergunto o que faço aqui. Mas uma coisa sinto: o Jaime é um enorme poeta.
    Parabéns por mais este excelente momento de poesia.
    Beijinhos e bom fim de semana.
    Ailime

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