Muito antes do tempo que hoje é o nosso,
as naus fizeram-se ao largo, temerárias,
por caminhos dúbios à descoberta,
iluminadas pelo sextante das estrelas
de um céu de azul nem sempre forrado.
Foram os tempos dos vírus, dos piratas,
da peste, da malária e do escorbuto,
na procela de façanhas
armadas à força e à vela de fidalgos
a navegar sem remorsos,
a cavalo e a bordo da servidão infligida
no carcomido corpo de escravos.
Por toda a parte mais tarde conhecida,
eis que uma nova epopeia se levanta
num corrupio ainda mais dominador,
onde a distância se condensa
e astrolábios e bússolas são inúteis
nos avisos virtuais aos navegantes:
“- Introduza o seu nome e a sua senha”.
Frotas de todo o mundo, em liberdade,
a partilhar o mesmo mar sem fim à vista,
miríades de embarcações embandeiradas
na imensidão de toda a cor e toda a raça
na arte e no engenho do ver e do mostrar,
ainda que haja em cada rota
um Adamastor ou um pirata acantonado
a espalhar o vírus das tormentas.
Com espantos sempre novos, desusados,
a reinventar o fogo-de-santelmo remoçado,
é nos porões de uma aldeia infinita e global,
depois do imperativo
“- Introduza o seu nome e a sua senha”,
que são carregadas todas as vontades
em diluviana profusão de navegantes.
Mas sem ventos de feição,
tudo é silenciado e naufragamos sem velas
que nos façam bolinar:
“- A
senha que introduziu está incorreta.
Digite
a sua senha novamente”.
Gostei muito deste poema e da comparação
ResponderEliminarum beijinho e bom fim-de-semana
Gábi
Bem real sua poesia,Jaime
ResponderEliminarSó mudaram os nomes e o tempo,mas tudo continua igual.
Obrigada pela visita e feliz sexta_feira e fim de semana
Donetzka
Meu blog não está na sua lista. Como recebe minhas atualizações,Jaime?
ResponderEliminarClique no nome que chega lá
Blog Magia de Donetzka
Este final é surpreendente! Mais um excelente poema
ResponderEliminarr: Sim, é mesmo. Caso contrário, vamos focar-nos em verificar sempre se as relações avançam num movimento de troca direta.
Muito obrigada!
Continuação de boa semana*
Boa noite!
ResponderEliminarComo sempre me delicio com os seus maravilhosos poema! Maus um, de excelência.
Beijinhos
Oi Jaime
ResponderEliminarTodo país tem seu lado de podridão, de sofrimento.
Ninguém consegue parar a ganancia do homem do Mundo.
Pelo ao menos você concordou com meu testo. Não não estamos vivendo um mar de rosa.
Beijos
Lua Singular
Demos novos mundos ao Mundo, Jaime Portela.
ResponderEliminarE, graças a isso mesmo, vivo hoje numa terra distante na qual há muitos anos aportámos.
Aquele abraço, bfds
Querido amigo, Jaime; que poema! que fabulosa análise ao mundo digital, a esta "aldeia global" onde vamos navegando entre Adamastores e novas pestes, novas rotas, nem sempre devidamente mapeadas.
ResponderEliminarEsta epopeia que, afoitamente, abraçamos mostra-nos, tantas vezes, que estes "mares nunca dantes navegados" são mais desafiantes (perigosos?) que essoutros de nem sempre boas memórias. Mas sem sombra de dúvida mares para vencer e conquistar. ainda que a irritante mensagem: "A sua senha está incorrecta, digite a sua senha novamente", ou "senha incorrecta, tem mais 3 tentativas", nos assolem os olhos com muita frequência.
Bom fim de semana, meu amigo. Obrigada por esta delicia.
Beijo de luar
Quando comecei a ler o seu poema, lembrei-me da Sophia quando escreveu "Saudavam com alvoroço as coisas Novas. O Mundo parecia criado essa mesma manhã." Agora os tempos mudaram e o olhar dos homens neste mundo global já não é de espanto mas de cobiça... Magnífico poema, Jaime. Um bom fim de semana.
ResponderEliminarUm beijo.
Muito bonito!
ResponderEliminarWonderful poetic narration!!!
ResponderEliminarawesomely interesting and touching
Jaime lendo seu poema,sinto ver o que estamos passando em nosso País,nada mudou,e ontem comemoramos a Independência do Brasil!
ResponderEliminarbjs,obrigada pela visita e um ótimo final de semana.
Carmen Lúcia.
Poema Épico numa actualidade gritante. Os Cabos das Tormentas e os Adamastores estão no teclado de cada um.
ResponderEliminarAbraço
SOL
Uma viagem ao Mundo Digital.... onde somos senhas, nºs... Perdidos num Mundo feito de ambição desmedida...
ResponderEliminarObrigada pela visita
Beijos e abraços
Marta
Sim, o mar português! Portugal abriu as portas e o mundo, explora o mundo com a ganância dos loucos. Diria qual Castro Alves: Portugal, fecha fecha as portas do teus mares! Belíssimo poema, Jaime! Parabéns! Grande abraço. Laerte.
ResponderEliminarMuito inteligente sua crônica, Jaime!
ResponderEliminarSim, hoje navegamos talvez, por mares muito mais perigosos, onde monstros ainda desconhecidos nos espreitam e a cada senha introduzida, invadem sorrateiramente nossas entranhas cibernéticas. Há que ter muito cuidado ao navegar por esses mares!
Abraços!
ResponderEliminarSim, navegantes, mas sem a senha não entra.
Um poema inusitado e que gostei muito.
Bjs
ResponderEliminarMuito inteligente a forma como compara estes e outros tempos, Jaime.
Nos dias de hoje, os perigos são outros
tão ou mais perigosos!
Bem real o que escreve
e da forma que gosta, em poesia.
No meu blogue "Os meus pensamentos" faço o mesmo
Manifesto a minha opinião sobre aquilo que não concordo
nem posso aceitar, acho inconcebível
é o caso do meu último post...lá, nesse blogue
em que na visita com os meus netos a um "Borboletário"
vi fotos de estrangeiros para ilustrar e documentar
aquilo que o funcionário nos dizia na visita guiada
num organismo que pertence à Câmara Municipal de Cascais.
Cascais - Portugal, certo?
Então, porque não documentam a informação com fotos de gente de Portugal...?
Enfim...
é por os portugueses se calarem
que cada dia, mais nos pisam e calcam
(só que eu...não consigo ficar calada...)
Obrigada pela visita
e que tenha um excelente fim de semana.
Beijinho da Tulipa
ResponderEliminarAMIGO JAIME desculpe...vim emendar o meu erro:
No meu blogue "Os meus pensamentos"
Manifesto a minha opinião sobre aquilo que não concordo
nem posso aceitar, acho inconcebível
só que desta vez...enganei-me
e, acabei por o fazer neste blogue
http://tempolivremundo.blogspot.pt/
O tempo passa, muitos coisas mudam mas os poetas com seu jeito especial nos fazem voltar no tempo e ao mesmo tempo embarcar no tempo atual. Lindo poema, parabéns amigo. Abraços fica ma paz.
ResponderEliminarMagnífico!
ResponderEliminarBj
Uma das coisas boas da vida é ter amigos, reais ou virtuais. AMIGOS!
ResponderEliminarPassei para lhe desejar um fim de semana feliz, com saúde e muito sucesso. Abraços, fica na paz de Deus.
Belíssio Jaime
ResponderEliminarBfs
Bjocas
Olá Jaime!
ResponderEliminarDe novo a "navegar" cheguei ao teu porto e logo me encantei com este poema bem imaginado, bem escrito, verdadeiro.
Agora, sem nome e sem senha, mas com vento de feição, vou ler tudo o que publicaste em Agosto. Vai ser um gosto.
Beijo.
Jaime Portela
ResponderEliminarDesde sempre, nem sempre a senha estará incorrecta, mas sempre um porto espera. Gostei muito do poema, verdadeira ode, ao passado, apontando o presente.
Abraço
Muito boa reflexão sobre os tempos idos e os nossos!
ResponderEliminarBom domingo :)
Este trabalho, está magistral, Jaime... mostrando tal paralelismo... em tão diferentes epopeias!
ResponderEliminarJamais imaginaria, o volte-face no decorrer deste poema... que o seu início, não deixa adivinhar...
Parabéns, Jaime! Adorei!
Beijinho! Desejando-lhe uma feliz e inspirada semana!...
Ana
Internauta, tens de arranjar uma bandeira para o teu batel
ResponderEliminarpois eu perco-o no meio de tantos estandartes...
O teclado está a enfraquecer os navegadores e a torná-los
mais fracos por falta de exercício físico.
Gostei muito do excelente poema, da fina ironia e do humor
explícito, enfim, sempre é melhor rir do que chorar...
Abraço amigo.
~~~~
Escreveste este poema nos dia da independência do Brasil, dia em que D. Pedro, contrariando as vontades do seu pai D. João VI e a sua mãe, D, Carlota Joaquina, libertou o Brasil da coroa Portuguesa. Havia muitos escravos nessa época .e a mulher de D. Pedro, Leopoldina ( pessoa muito humana ) já tentava acabar com a escravatura Muito mais tarde com a lei Aurea esse mal terminou nessa pais, embora tanto lá quanto no resto do mundo os escravos continuem a existir; são de diferentes tipo os trabalhos " escravo ", mas, de uma maneira ou de outra o ser humano persiste na escravatura e deixa-se a todo o instante escravizar. Continuamos a navegar nesta rede global, comandados por uma senha que temos de introduzir para que nos livremos de " piratas " que nos amedrontam. Também navego, mas sem receio, apesar de não saber nadar, porque levo o barco com muito cuidado, procurando as águas serenas e tendo o cuidado de não o expor muito ; não há necessidade que todos conheçam com pormenor o meu barquinho e nele só quero que entrem aquelas pessoas que me querem bem. Serei escrava , talvez, como todos , pois há sempre alguma factor que nos tira alguma liberdade, mas, tentarei não o ser destas redes chamadas " net " que prendem, escravizam e maltratam aqueles que nelas se deixarem enredar.
ResponderEliminarAmigo, Jaime, adorei esta forma sublime que arranjaste para alertar as pessoas contra os perigos do mau uso das redes sociais. Muito bom! Um beijinho e uma boa semana
Emilia
No tempo que é o nosso , o Adamastor duplicou -se ,existem mesmo e não apenas nos nossos medos .
ResponderEliminarE mesmo com o nome e senha correta seremos silenciados e naufragaremos , com um único clicar " destes adamastores " carregados de loucura e ganância .
Gosto do poema , que encerra muitas leituras nas entrelinhas .
Uma boa semana , Jaime ,
um beijo .
Maria
Inspirado e belo poema.
ResponderEliminarUm abraço
Maria de
Divagar Sobre Tudo um Pouco
Grande verdade!
ResponderEliminarBjxxx
Ontem é só Memória | Facebook | Instagram
Amei seu poema, o qual suscita uma série de reflexões.
ResponderEliminarBeijos!
JP
ResponderEliminarcomeço a ler o poema e vou lembrando a história do nosso País, mas à medida que o mesmo vai evoluindo, gostei e achei muito original, e com um fim que nos surpreende e nos remete À reflexão dos tempos.
Gostei muito!
beijinhos
:)
Um mundo, para uns, usado com decência e bondade, e para outros, usado desavergonhadamente, e com maldade. Belo poema Jaime.
ResponderEliminarAbraços,
Furtado
Em tamanha epopeia, falta-me agora o engenho e a arte de inventar mais senhas...
ResponderEliminarAcutilante, de uma uma fina ironia, a inquietação de um mundo que não dá tempo para navegar em pele de águas mansas.
Fantástico, Jaime!
Abraço!
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ResponderEliminarCaros amigos, obrigado pelos vossos comentários. Voltem sempre.
Entretanto, acabei de publicar um novo poema. Espero que gostem.
Continuação de boa semana para todos.
Saudações poéticas.
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Fantástica criação poética, em modo apocalítico mas nada exagerado. Assim são estes tempos...
ResponderEliminarFascinou-me este poema.
Bj
Adorei ler!!!
ResponderEliminarTu és talento poético, tu sabes disso...
Beijo, amigo.
Jaime
ResponderEliminarPor que somente meu blog não está na sua lista 'Outros Rios'?Essa lista é de blogs favoritos,como tenho o meu "Blogs a Visitar' e o seu já esteve nessa lista.Se não gosta do blog,por que adicionou_me?
Como recebe minhas atualizações?
Responda nos comentários do meu,ok?
Abraços
Donetzka
Blog Magia de Donetzka
Entendi como você coloca sua lista de blogs,Jaime. É porque eu coloco o nome da pessoa depois do nome do blog e aparece a imagem do último post.Existe essa opção de imagem.
ResponderEliminarEu preciso disso para saber quem publicou ou não novos,visto que estou só com o celular e fica difícil porque muitos blogs abrem no Google+ e tenho que ficar procurando o endereço do blog.
Vou colocar o seu na minha lista.
Abraços e ótimo fim de semana
Donetzka
Blog Magia de Donetzka
Grande façanha a tua! Sabes dirigir as palavras como se fossem naus de descoberta.
ResponderEliminarBeijinho.