Despiste as vestes do passadopara trajar o futuro da vontade fugaz.Ficaste assexuadano vazio de emoções quando a paixãojá não te rasgava as entranhas.
Sangraste, exauriste até à gota derradeiraa tua seiva aturdidana transfusão ininterrupta de caminhoscada vez mais destroçados.
Emudeceste, ensurdeceste,para que os nossos tímpanoscontinuassem virgens ao engenho das palavras.
Trocaste a tua pele de tatuagens genuínaspela aparência maquilhadade uma boneca de pilhas.
Abandonaste braços, mãos, pernas e olhospara que eu não algemasse a tua fuga para a cegueira.
Amputaste neurónios, pensamentos e verdadesno desassossego de madrugadas vazias de sentido.
Atiraste para a lixeirao que restava do teu corpo enlouquecido,sem perceberes que a sua reciclagem era impossível.
Suicidaste-te para que nada mais te pedisse.Enterrei-te, bem fundo,a cadeado no meu paiol da indiferença,para que o meu cão não te desenterrassee morresse envenenadoao trazer-te de novo para mim.
Enterrei-meà mesma profundidade que tu, a teu lado,morri envenenado ao enganar o meu cãoquando voltaste para mim.
© Jaime Portela, Agosto de 2018
Poesia, boa poesia, não é só aquela enfeitada de palavras bonitas e declarações de amor. A poesia também pode ser dor, raiva, alucinação, desespero, abandono... e será tanto melhor e única se tiver a capacidade de nos chocar e de mexer connosco.
ResponderEliminarFoi o caso desta!
Beijinhos de regresso
(^^)
Apesar de diferente, é muito emocional. Parabéns.
ResponderEliminarHoje: Adormeci num sonho de ternura
Bjos
Votos de uma óptima Quinta-Feira
Wow! Mas que belo!! Amei!
ResponderEliminarBeijos e um dia feliz!
Boa tarde, Jaime!
ResponderEliminarNossa que intensidade no poetar e que verdades nos versos contidos.
Que isso não nos ocorra de forma alguma!
Hoje, conversava com uma filha do coração sobre um senhor que amou desta forma, coitado!
Tenha dias felizes e abençoados!
Abraços fraternais de paz e bem
Muito boa esta poesia.
ResponderEliminarArthur Claro
http://www.arthur-claro.blogspot.com
Suicidaste-te para que nada mais te pedisse.
ResponderEliminarEnterrei-te, bem fundo,
a cadeado no meu paiol da indiferença,
para que o meu cão não te desenterrasse
e morresse envenenado
ao trazer-te de novo para mim.
Enterrei-me
à mesma profundidade que tu, a teu lado,
morri envenenado ao enganar o meu cão
quando voltaste para mim.
Este finaal es un completo acierto de ser que habla a corazón abierto.
Feliz fin de semana. Un abrazo.
Emoções ao rubro em curioso poema!
ResponderEliminarGostei ... bj
Profundamente visceral...
ResponderEliminarUm abraço, Jaime!
Reconheço a grande complexidade que aqui está ! Reconheço a grandeza do poema! Reconheço a beleza intrínseca das palavras cuidadosamente utilizadas. Uma verdadeira mestria, um verdadeiro enigma ! Parabéns !
ResponderEliminarAmigo JP, bom fim de semana.
Beijo
Um poema triste, sofrido, bastante intenso. Mas sempre majestoso!
ResponderEliminarr: Muito obrigada :)
Igualmente, para si e para os seus*
Maravilhoso poema meu amigo!
ResponderEliminarAdorei como sempre!
Beijo de paz e bem, felicidades.
A vida... um eterno puzzle e, sim, quantas vezes, "morremos envenenados"....
ResponderEliminarIntenso, poderoso... além de brilhante....
Obrigada pela visita
Beijos e abraços
Marta
Um poema muito cheio de emoção e intensidade.
ResponderEliminarUm bom fim de semana, Jaime.
Um beijo.
ResponderEliminarUma pessoa "ferida" nem sabe o que fazer!
A sério.
Recebi um "recado" de alguém
que se insurgiu por eu lhe dar a ela,
como tenho dado a muitas outras o link dos meus blogues
e, como vejo "outras pessoas fazer"
não sou a única!
Mas DÓI, Jaime!
Dói porque não o faço com segundas intenções.
Nem o faço todas as semanas nem todos os dias.
Caramba!
Será que as pessoas perderam a humildade de aceitar e perdoar
e reagem logo à bruta?
Sabes o que te digo?
na transfusão ininterrupta de caminhos
cada vez mais destroçados.
Pegando nas tuas PALAVRAS tão bem escritas
é como me sinto (destroçada)
Desculpa o desabafo
Ando mal e estas "coisas" nada ajudam, beijinho
Emoções! Muitas emoções! Em um misto de homem e animal. Animalescos somos todos - viventes! Envenenamos e somos envenenados pelo amor afrodisíaco!
ResponderEliminarDestaco:
"... Emudeceste, ensurdeceste,
para que os nossos tímpanos
continuassem virgens ao engenho das palavras."
Abraço.
Oi Jaime
ResponderEliminarQue maravilha de poesia metafórica!
Uma engenhosa história em forma de poesia
Amei
Beijos no coração
Lua Singular
Eta inspiração infinita, Jaime,quantos espaços você conquista,quantas margens você ignora e as rompe e quantos novos rios são criados pela genialidade deste seu contorno poético que o transforma num expertise nesta área.
ResponderEliminarE você percorre estes meandros da poesia como se estivesse andando para frente e de pé, coisa que nós os seres humanos o fazemos a milhares de anos.
Lindíssimo!
Um abração carioca.
Boa tarde,Jaime,
ResponderEliminarseu poema está repleto de ótimas e bem escolhidas metáforas e comparações.
Encheu-me de pensamentos e precisei fazer várias leituras para entender um pouco de seus versos muito bem construídos, mas na maioria das vezes nos enganamos quando pensamos que podemos compreender as palavras do poeta.
Excelente! Abraço!
Forte, numa intensidade original e diferente do estilo habitual por aqui (mais lírico e comedido). Gostei muito.
ResponderEliminarBeijinho
Profundo e sentido poema.
ResponderEliminarMaravilhoso!
Bom fim de semana
Beijinhos
Maria
Divagar Sobre Tudo um Pouco
Boa noite Jaime. Aqui percebemos um eu lirico, repleto da revolta ocasionada pelo viver amargurado de uma relação. Confesso que li com bastante atenção a revolta do poeta, e digo que soubeste fazer belo, o que lhe era feio à alma . O Poeta escreve tão belo, mesmo em meio ás amarguras. Desejo-lhe um ótimo fim de semana, querido artista. Temos nova postagem por lá. Grande abraço.
ResponderEliminarPoesia carregada de duras palavras e pétreas emoções . Não é uma poesia, "é uma granada sem pino" de sentimentos.
ResponderEliminarAbraços
Bom dia Jaime, versos soberbos sobejando lirismo, nem a tristeza contida nos versos foi capaz de apagar a beleza poética.
ResponderEliminarDeixo o link da minha singela homenagem aos pais!
https://afetocolorido.blogspot.com/2018/08/feliz-dia-dos-pais.html
Bom final semana!
Abração!
Intenso, dorido, é quase um Poema de raiva.
ResponderEliminarMuito bom, Amigo.
Abraço
SOL
“Despiste as vestes do passado
ResponderEliminarpara trajar o futuro da vontade fugaz.
Ficaste assexuada
no vazio de emoções quando a paixão
já não te rasgava as entranhas.”
Jaime, mesmo de férias (do rol) não resisti a buscar encantamento no seu «engenho de palavras».
“A poesia (a verdadeira poesia) é assim: deixa-se pressentir, anuncia-se no ar, como os terramotos…”, diz Roberto Bolaño no magnífico romance “Os detectives selvagens” .
Parabéns, meu amigo, grande poema!
Beijo.
Bom dia. Poema brilhante. Uma delicia de leitura
ResponderEliminarDeixando um abraço
Que poema intenso.
ResponderEliminarEste é ácido, corrosivo.
ResponderEliminarAquele abraço, boa semana
" A ampulheta continua a vazar o tempo " sem que a possamos impedir e, a cada dia lá temos nós de a virar ao contrário para que ela continue a sua função , aquela que lhe foi destinada. E enquanto tivermos força para lidar com ela, uma vez e outra e outra novamente a colocaremos na sua posição. Nesses enretantantos surge-nos de um tudo, amores , alegrias, encontros, desamores, muitos desencontros e um sem número de desilusões, emoções e problemas com os quais temos de lidar e, pior, sem poder voltar atrás e " desenterrar" o que passou. Só temos certo este aqui e este agora e também nos é dada a permissão de pensarmos num futuro, de mantermos a esperança de que o dia seguinte seja melhor, que o amor que se foi volte , totamente " reciclado " para que , com ele, ganhemos novo fôlego para continuar. As vezes, não sei...melhor seria que um amor desses ficasse para sempre enterrado e um novo aparecesse , livre de promessas, vivido plenamente, dia a dia, momento a momento, sem a expectativa de ser para sempre. Ė que não sei se alguma coisa será para sempre, Jaime...
ResponderEliminarSerá o amor? Algum tipo de amor, sim, é para sempre, mas este que aqui descreves, ...tenho algumas dúvidas. Mas não vale a pena pensar nisso, não vale a pena desenterrar passados e muito menos vale enganar o " teu cão" Vale viver o amor de agora intensamente e deixar que o nosso cão, fiel como ele só, se regozige com a nossa felicidade. O " teu cão, esse nunca te abandonará, mesmo sem te ter prometido que a teu lado sempre estará. Amigo, falaste do teu cão e, embora não tenha um, prefiro falar dele a falar do bicho " homem" e penso que não sou a única; por algum moivo o teu esteve presente neste belo poema. Um beijinho, Jaime e muita saúde, amor e alegria.
Emilia
Parabéns pela capacidade de usar as palavras... até parece fácil... mas na realidade não está ao alcance de todos!
ResponderEliminarUm abraço...
Olhar d'Ouro - bLoG
Olhar d'Ouro - fAcEbOOk
Muito forte!
ResponderEliminarPor vezes envenenamos as relações, matamos e morremos sem darmos por isso.
Talvez que assim uma chicotada psicológica possa surtir algum efeito... de parte a parte.
Boa semana, amigo Jaime!
Beijinhos.
Olá Jaime,
ResponderEliminarque brutidade intensamente verdadeira !
é o amor, é a fúria da natureza que não olha a meios para avançar na sua força viva,
que transmite a vida na dor e na morte
a tragédia que todos os dias testemunhamos e que por vezes chamamos amor,
para lhe dar um tom menos assustador ?! sem o qual não podemos viver
que passa necessariamente pela morte de uns para alimentar a existência dos outros
sejam eles humanos ou animais
e aceitamos e nos deitamos ao lado da tragedia para que a vida global se alimente da nossa nudez e do esquecimento que é o nosso destino
bah !
é o que eu entendo no encadeamento das suas palavras :)
abraço
Angela
A intensidade do poema , ruborizou- me as palavras . Grande poema, Jaime !
ResponderEliminarAbraço caríssimo amigo
Suicidaste-te para que nada mais te pedisse.
ResponderEliminarEnterrei-te, bem fundo,
a cadeado no meu paiol da indiferença,
para que o meu cão não te desenterrasse
e morresse envenenado
ao trazer-te de novo para mim.
Belo e muito forte Jaime. Gostei bastante.
Abraços,
Furtado
Querido amigo Jaime, que intensidade, que força, que revolta de um coração tão bem composta neste poema; magnifico!
ResponderEliminarAdorei esta forma lindíssima de mostrar a alma "envenenada". Que mestria, que força e, em simultâneo, que beleza "bruta".
Beijo de luar, meu amigo.
Adoro quando te leio e fico a pensar no que tão bem escreves e descreves.
ResponderEliminarMaravilhoso.
Beijo de...
Saudade
ResponderEliminarConhecer seu blog foi
uma satisfação enorme!
Está de parabéns pelo blog!
Espero por sua visita em meu blog também.
https://www.robsonpensador.blog.br
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ResponderEliminarCaros amigos, obrigado pelos vossos comentários. Voltem sempre.
Entretanto, acabei de publicar um novo poema. Espero que gostem.
Continuação de boa semana. E boas férias, se for o caso.
Saudações poéticas.
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Um poema de uma profundidade incrível, Jaime!...
ResponderEliminarVeio-me à ideia, o livro e o filme... "O diário da nossa paixão"
Ele lia-lhe todos os dias... a história da sua vida, em comum... para que ela não o considerasse um estranho... depois da sua doença ter apagado aos poucos, todas as memórias, e emoções... no final... morreram de mãos dadas... continuariam juntos... de alguma forma... em algum outro lugar...
Magnifico trabalho! Muitos parabéns, Jaime! Adorei cada palavra!...
Um beijinho grande! Até breve!...
Ana
O Poeta pintou, pintou de cores pesadas, encharcado de desilusão atá que o tempo acabou. No final, genial, dá o golpe de rins para ele próprio se inumar. Bom!
ResponderEliminarAbraço
Vim para rever esta contundente poesia sua.
ResponderEliminarAbraços.