quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

Somos enfermeiros das nossas fronteiras [210]



Ensombrados pelos archotes
no útero de uma chuva de insensibilidade
(imensa, seja grossa ou miudinha)
prenhe de guelras falaciosas e fados,
somos carcereiros do paiol
e praças-fortes de éticas que esvoaçam
e em mil sóis apenas nos deslumbram.
Guardiães das ameias vazias,
empunhando bisturis estranhos ao tempo
onde nos sitiamos,
somos donos e videntes,
somos enfermeiros das nossas fronteiras,
alamedas de encantos
laureadas por suspiros de valores penhorados.
Apesar da madraça labuta,
temos o cinzeiro da noite,
onde, zelosos, nos lavamos do lodo
e da greve de cinza do dia,
onde afugentamos o cigarro
da vergonha esquecida entre os dedos
e onde o nosso feito desfeito é defecado.


© Jaime Portela, Fevereiro de 2019


39 comentários:

  1. Olá:- Sempre brilhante na sua forma de escrever poesia.
    .
    Deixando cumprimentos poéticos

    *** . Meu amor ... amo-te tanto * **

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  2. Uma grande poesia tão actual como acutilantemente brilhante!
    Beijo, Caríssimo amigo!

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  3. Repito inúmeras vezes, mas a verdade é que fico sempre encantada com a sua poesia!
    Continuação de uma boa semana :)

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  4. Maravilhosa poesia meu amigo Jaime!
    É tudo o que tenho para lhe dizer; adoro a sua maneira de entrelaçar palavras poéticas!
    Lindo, parabéns, que nunca lhe falte a inspiração, poesia assim não é qualquer um que escreve!
    Só quem tem mesmo veia poética, e conhecimento claro!
    Tenha uma boa sexta feira, seja feliz!!!!
    Beijo, com meu carinho de paz e bem!

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  5. Mas não somos dos que estão em greve, caro Jaime.
    Aquele abraço, bfds

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  6. i am speechless with gravity of your sublime thoughts and charm of your expressions my friend!
    it was deep joy to visit and read your amazing poem!

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  7. Grande verdade
    esse seu escrito.
    Estou seguindo aqui.

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  8. Uma poesia escrita com os citilantes dedos do poeta. Parabéns mais uma vez , amigo Jaime. Temos nova postagem por la´. Feliz fim de semana. Grande abraço.

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  9. Andamos à procura de respostas... ninguém ouve as perguntas....
    Brilhante
    Beijos e abraços
    Marta

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  10. Perdoe-me por usar uma expressão bem típica aqui do norte do Brasil, muito pai d'égua esse seu texto/poema/prosa/crônica.
    Abraços.

    Ps. Pai d'égua seria algo supimpa, muito legal, beleza...etc.

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  11. Bom dia, Jaime!
    Sempre me surpreendendo a cada postagem. Esta, especialmente é um retrato de nós mesmos, principalmente quando " nosso feito desfeito é defecado"!
    Brilhante👏👏👏

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  12. Palavras no tempo certo. Reflexivas e acutilantes.
    Um bom fim de semana.
    Um beijo.

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  13. Lá diz o ditado: "De médico e louco, todos temos um pouco.", por isso, não me admira sermos "enfermeiros das nossas fronteiras" e termos "o cinzeiro da noite" onde "o nosso feito desfeito é defecado".
    Abraço e obrigada pela visita aos "sons selvagens".
    Bfsmn

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  14. Yo también lo creo. La realidad es mental, primero; después, la proyectamos y finalmente nuestro cerebro nos conduce a su realización. Eso es lo que piensan
    y enseñan los sicologos.

    Muy buen texto, me gustó. Un abrazo.

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  15. Creio que todos temos nossas loucuras e o bem que ela faz é esse seu deslumbrante poetar amigo Jaime
    Beijos

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  16. Temos a veleidade de tudo saber, com opinião para tudo.
    Criticamos o mais ínfimo pormenor esquecendo-nos de
    olhar para o nosso quintal e ver o que se passa lá dentro.
    E assim desconhecemos a nossa própria realidade.

    Um belo poema, amigo Jaime. Gostei muito.

    Abraço

    Olinda

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  17. Pleno de metáforas, fortes acutiladas nas realidades, só me ocorre uma palavra:
    Brilhante, amigo Jaime!

    Desejo bom Fim-de-semana
    Beijinhos
    MARIAZITA / A CASA DA MARIQUINHAS

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  18. Poesia acutilante, Jaime
    fiquei arrepiada :)

    https://poesiesenportugais.blogspot.com/

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  19. Fiquei admirada!
    Um poema muito à margem do seu habitual registo.
    Porém, os poemas de denúncia são importantes.
    Abraço, Amigo.
    ~~~~

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  20. Poesia de fina intervenção. Actual, clara, directa. Parabéns, Amigo.

    Abraço
    SOL

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  21. Não podemos mesmo estar à espera que outros nos curem ou defendam as nossas fronteiras... Temos de tomar as rédeas das nossas defesas.
    Beijinhos, amigo Jaime. Bom domingo e feliz semana!

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  22. Sinais dos tempos... onde a ética e os valores... não têm lugar...
    Magnifico momento poético, Jaime! E com uma forte e assertiva mensagem!
    No momento... evito que a minha mãe, doente, esteja num hospital... com estas greves... cujos seus participantes, poderão ter muita razão... mas sem contemplação, para o sofrimento dos doentes... pois também por estes dias, uma pessoa amiga, foi para o hospital, pelo pé dela, com uma dor num joelho... no momento continua lá internada... pior a cada dia... a recuperar de uma medicação mal calculada, que lá lhe deram e que lhe provocou uma série de hemorragias... porque tudo está a ser feito às pressas... e à balda... também com poucos cuidados de enfermagem, e com pouca atenção... também por médicos... se calhar com turnos acumulados, por andarem a ganhar em vários lados em simultâneo...
    A essa pessoa... até as refeições sem talheres, já lhe foram fornecidas... e sem direito a poder chamar por alguém, para assinalar o esquecimento... porque ninguém surge... se o seu chamamento fosse uma emergência... também ninguém viria em seu auxílio... e é neste estado, que estão a funcionar muitos hospitais... nesta forma revoltante... e pondo em causa a saúde, de quem aos hospitais recorre...
    Escusado será dizer... que a filha dessa pessoa amiga... apresentou queixa... pois encontrou o seu pai, todo sujo, depois de ter comido com as mãos... e entornado metade da sopa, na cama do hospital... tentando comer algo... enquanto não aparecia mais ninguém... durante... sabe-se lá quanto tempo...
    Adorei o poema, Jaime! Às vezes, é preciso apresentar a realidade, tal como ela se apresenta... sem flores!...
    Beijinho! Feliz semana!
    Ana

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  23. Olá Jaime!
    Poesia interessante, inspiração acima brilhante. Gostei amigo.
    beijinho e tenha uma boa noite.
    Luisa

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  24. Voltei pra sentir melhor o poema, Jaime.
    Como disse a Majo: "um poema muito à margem do seu habitual registro". Isso, no entanto, demonstra ainda mais seu talento como escritor poeta, sua sensibilidade.
    Toda minha admiração por essa obra que diz tanto e ainda muito mais que pudesse caber nesses versos. É como bom perfume concentrado num pequeno frasco.
    Um abraço poeta.

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  25. Olá Jaime! Sempre nos brindando com belas criações. Parabéns!

    Abraços e uma ótima semana para ti e para os teus.

    Furtado

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  26. Muito bom Amigo Jaime. Infelizmente um problema do nosso país.
    Beijo

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  27. Há tantas boas metáforas aí nesse poema, gosto assim também, quando as palavras nem sempre entregam de bandeja o que queremos dizer e criamos, para quem lê, labirintos para muitas possíveis interpretações - apesar de as intenções estarem claras. Gostei, Jaime. Um abraço.

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  28. Olá, querido Jaime!
    A força do poeta em cada verso do poema, alertou e arrepiou.
    Quem sabe... escreve assim!
    Parabéns, meu amigo.
    Beijo e boa semana.

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  29. Amigo Jaime, que poema!!!
    Um registo um pouco fora do habitual, mas de uma verrumosa verdade, acutilante e fantástico. Aliás, como sempre!
    Pôr o dedo numa ferida muito actual e que nos faz pensar; onde vamos? O que queremos? O que nos espera ali no virar da esquina do tempo?

    Belíssimo e poderoso poema, meu amigo. Boa semana.

    Beijo de luar

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  30. Não" és marinheiro ", não és médico nem enfrmeiro, por acaso és engenheiro, mas, cada um de nós, nas funções que desempenha tem que ter consciência da sua responsabikidade como prestador de serviços à sociedade, pois , na realidade é isso que somos; prestamos serviços, recebemos serviços e assim funciona o mundo, assim funciona a comunidade onde vivemos; não somos " donos " do mundo, nem da verdade e muito menos " videntes; somos simples seres humanos, nem melhores nem piores que os outros, que nos devemos esforçar ao máximo para que, com a nossa actividade contribuemos para o bem -estar das pessoas inseridas no meio onde vivemos. Há valores que, em qualquer profissão, têm que estar presentes, a ética, o profissionalismo, a honestidade e, acima de tudo a solidariedade e o respeito por aqueles que, de alguma forma, dependem desses valores. Costumas falar de amor, Jaime, mas, neste poema, que mais parece um grito, há amor, sim, o amor que deveria estar presente em todas as actividades e que, infelizmente escasseia em algumas que são fundamentais. Gostei muito, como sempre. Um beijinho, amigo, e que a saúde não falte a ti e aos teus
    Emilia

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  31. Boa noite Jaime,
    Um magnífico poema que, com bisturi poético, incide sobre um tema tão atual e que urge resolver para bem de todos.
    Beijinhos e continuação de boa semana.
    Ailime

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  32. Uma excelência, por aquilo que expressa. E com que delicadeza deixas transparentar que tempos passados estão tão presentes. Dia e noite, sempre essa constante.
    Um grande abraço

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  33. Poema magnífico posto na eira à hora certa. As enfermidades têm cura?
    Há tanta pergunta sem resposta e tanta resposta sem pergunta.
    Abraço.

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