segunda-feira, 25 de maio de 2020

O povo nunca ordenou [279]



Felizmente, não partimos muitas pernas.
Mas foi mais um fragmento de Abril
que morreu, gradualmente estrangulado
pela soberania das nossas costas a ele voltadas.

Do fracasso, deveria nascer o desejo
de pendurar um Maio de giestas em cada porta,
para que o bicho cão da indiferença
não lavasse o prato da fraternidade com a língua
nem ladrasse de egoísmo à igualdade aterrada.

Deveria germinar a fome de mudança
para que a miséria morresse dentro de portas
e não morresse Abril à frieza do ferrolho.
O povo nunca ordenou. E continuamos impassíveis
com o Maio a desflorar-se caído das maçanetas.


© Jaime Portela, Maio de 2020


26 comentários:

  1. pois se sobesemos o que podiamos fazer era tao bom mas ainda nao sabemos ai ai mas bom mais um lindo poema bravo bjs feliz semana

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  2. Fantástica poesia, como sempre, Jaime!

    Aproveito para desejar uma ótima semana

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  3. Potente!

    Um Raio-X do que resistiu ao 25 de Abril e às tantas lutas de Maio.


    Mesmo o povo não ordenando, para que os de cima continuem a ordenar, precisa do aval do povo.

    Reflexivo texto, atualíssimo diante do que se v~e.

    Cumprimentos.

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  4. Mais um belo poema meu amigo Jaime,
    Destes de fazer “...Abril à frieza do ferrolho.”
    Um abraço! Boa semana! E cuide-se!!!

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  5. Infelizmente, muito verdadeiro, para além de belíssimo.
    O povo vive iludido nessa certeza, que apenas tem voz em Zeca Afonso.
    Beijo

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  6. O poema é belo, só desconheço o tema que o inspirou.

    Abraços e uma ótima semana para ti e para os teus.

    Furtado

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  7. Um poema diferente mas soberbo!Adorei :))
    -
    Vagueio na abstinência ...

    Beijos e uma excelente semana :)

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  8. Talvez nunca aprenderemos...
    Intenso e belo o poema!
    Uma ótima semana, Jaime.
    Bjs.

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  9. Não. Mas vivemos com essa esperança.
    Abraço, saúde e boa semana

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  10. O povo que, em certas latitudes, está obviamente a ser sacrificado à incompetência dos seus líderes.
    Aquele abraço, boa semana

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  11. Só resta ter esperança para que tudo mude...
    Poderoso, brilhante...
    Beijos e abraços
    Marta

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  12. O povo ordena quando se une em força e convicção!
    Gosto do poema Jaime... 👍

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  13. Olá Jaime,
    Um poema que nos faz reflectir bastante.
    O povo nunca ordenou, mas acredito que vai conseguir, subtilmente, impor a sua vontade.
    Magníficas e poderosas palavras. Amei!
    Fique bem, beijinhos!

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  14. A miséria não acaba com a democracia, Jaime, infelizmente... e muito menos em regimes ditatoriais... ou liberais!...
    Liberdade a mais... vê-mo-la em países... no momento absolutamente desorientados... supostamente ricos... e que também não fazem nada pelo seu próprio povo nem sequer no momento presente... entre estados divididos... andam até de ideias racionais, completamente perdidos...
    O povo só pode intervir directamente pelo voto... e até quando o faz livremente... por vezes, escolhe acéfalos genocidas... como vemos em outros países... brilhantes em incompetência, no momento...
    O nosso Abril não será perfeito... mas o Abril de muitos outros países... será ainda de pesadelo bem maior... há fome hoje... mas continuamos vivos... por vezes, há fome... porque não se soube poupar... palavra tão presente na vida dos nossos pais e avós, mas não nas gerações de agora... como poupar, quando se quer ter roupas de marca em cada estação, 2 ou 3 carros na garagem, férias e viagens de sonho, gadgets novos em cada 6 meses... e o desemprego agora no momento chegou?... A vida nunca foi feita de certezas... nem ontem, nem amanhã... porque o haveria de ser hoje?...
    Um belíssimo poema, Jaime... que nos remete, para que se pense e repense... sobre a nossa posição no mundo... e perante nós mesmos... com a liberdade que Abril nos trouxe... mas nem sempre com o acertado discernimento de opções de escolha para a sua vida, que cada um entende tomar...
    Beijinho! Boa semana!
    Ana

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  15. Um poema de uma intensidade soberba. Uma reflexão posta sobre a mesa....Maravilhoso . Grande abraço Jaime. Bom dia.

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  16. Um belíssimo poema, amigo, Jaime, faço dele também meus sentimentos.
    O demônio da desigualdade no Brasil é faminto e devorador há séculos. Passarão meses e meses após maio com a mortandade a nos perseguir.E quando cessar a doença, os frutos dela aumentará ainda mais a fome do demônio. Teremos força para lutar?
    Abraço, parabéns!

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  17. Demasiado nova, 4 anos, mas não, o povo nunca ordenou

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  18. JP

    Não, o povo nao ordena, mas alguma coisa mudou desde então!
    Que nos merece reflexão este poema é verdade que sim.
    E é um grito que merece ser feito poema.
    beijinhos
    :)

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  19. Oi Jaime,
    Não me meto em política, não faço parte dessa clã.
    Faça Sol ou faça Chuva, se o povo já sofrido pela pandemia não se virar como pode morre na praia.
    Nada sei da Política de Portugal.
    Beijos no coração
    Lua Singular

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  20. Muito bom!

    Não partimos as pernas, mas quebram-nos as asas.
    E quando conseguimos colá-las para novamente voar, vem sorrateiramente alguém ousar cortar-lhes as pontas às penas, que depois levam uma infinidade de tempo a voltar a crescer. Depois, depois... não saímos de um círculo vicioso: quebra, cola, corta, cresce, quebra... Enfim...

    Que muitos Maios floridos ainda nos venham visitar! Que a Esperança não nos fuja.

    Beijinhos.

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  21. Come sempre...un'altra bella poesia.
    Buon mercoledi.

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  22. Bom dia Jaime,

    Reflexivos versos para ler e reler. Que melhores dias estejam prestes a chegar e que tenhamos o prazer de perceber algumas mudanças.
    Como sempre vc prima pela qualidade poética.
    Feliz dia amigo Jaime.

    Abração!

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  23. Oh this poem is superb...it is so intense and deep.
    Who could fail to be moved by these words? Only the closed heart!
    I love how you always make me reflect on being human...deeply!😊😊

    Have a great evening, Jaime.

    Kisses xxx

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  24. Teu eco é de desilusão, mas Maio ainda floriu. Realmente andamos emotivos. Demasiado.
    Belo poema, meu amigo Jaime.

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