Enquanto,
das palavras,
o
grito e o silêncio se dissolvem
numa
fogueira ateada por achas de inquietude,
os
teus gestos, do beco para onde
há
mil resignações te empurram, são inaudíveis.
E eu
já não sei
se
és a voz de um rio sem água
nas
margens da garganta,
se
alguém que se dobra para colher
uma
flor que não existe.
Enquanto
a noite, madrasta, prospera
na
sombra que alumia a tua alma diurna,
e
ela se tortura numa reza de tristezas madraças,
são
invisíveis, nos teus olhos,
as
centelhas que florescem no amanho do futuro.
E eu
já não sei
se
és a agonia amordaçada
pelo
tirano calar do prazer,
se a
alegria de asceta disfarçada
na
luxúria do prazer desse calar.
© Jaime Portela, Junho de 2020