Em tempos, sucumbiste à valsa firme do desejo,
até aí amordaçado nos recantos
que em ti se agigantavam,
e trucidaste o vazio, vivo e mole da saudade,
com o fado da ausência desgrenhada pela distância.
A fonte do bálsamo dos bálsamos, respiração
do teu corpo tão veemente quanto indomável,
floriu, então, nas tuas mãos,
bailarinas em ondas de prazer,
germinando inadiável essa viagem libertária.
As tuas costas, arqueadas, retesavam
todas as cordas de uma harpa em melodia solitária,
onde dedilhavas, febril, a dança do ventre inabitado
até me achegares ao teu peito.
Recordar é não viver,
é uma traição à essência do presente.
O que fomos, não existe.
Por isso, peço nova luz no teu colo tão amado.
© Jaime Portela, Julho de 2020