quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

Quando procuras a fantasia [316]

 


Quando procuras a fantasia

que semeias em notas de azul,

 vermelhas de carícias

e transformadas em rosas

a saltar pelos dedos da imaginação,

é a alma aveludada de gozo dorido

que te implode o universo.

 

Desenhas, então,

um tempo que voa adormecido

no amanhecer da noite

em sons ritmados na surdez do desejo,

numa entrega de violoncelo vibrante

que te explode no arco das mãos.

 

É assim que despregas do teu corpo

a melodia do inevitável

enquanto esperas a sublimação do toque.



© Jaime Portela, Janeiro de 2021


quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

Rosa enclausurada [315]


 

De palavras novas ansiosa,

de frase em frase

iludindo a dor provável.

De corpo triste,

o adormecer sem beber.

O rio seco por querer

a decantar um mar em surdina,

que em ti vertes

de lágrimas nelas diluída.

Ao fogo branco da alegria,

a indiferença.

A cidade do teu peito

a agonizar de lírios enlutados.

Por onde andará, malbaratada,

a rosa do teu punho

enclausurada em desamor?



© Jaime Portela, Janeiro de 2021


quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

Primeira vez [314]

 


Sendo estranhos, não te pergunto

das nuvens que pairam dentro de ti,

nem se deténs sinais das bonanças do porvir.

Há uma fronteira

entre o encanto de nos vermos a primeira vez

e o que vamos querer saber de seguida.

Avalio o teu ar com sentido contento,

porque a primeira vez é sempre melhor

do que se já te conhecesse.

E porque, depois, é como se nunca

te tivesse visto a primeira vez, pois o ruído

não me deixa ouvir o pensamento.

O teu olhar é diferente de todos os outros.

Olhas e eu não pondero, fico indefeso.

Tens consciência do que te cabe nesse olhar

e sabemos que o vento é capaz

de nos levar para outro lugar encurralados.

Mas há uma nova fronteira

demarcada por um fio de dúvidas

entre o encanto do teu olhar e o que vamos

querer fazer nesse lugar pela primeira vez.



© Jaime Portela, Janeiro de 2021


quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

Afinal [313]

 


Afinal,

era apenas o passeio

dos meus beijos

pelo teu corpo que faltava.

 

Era a ausência

do toque na pele desprendida

em desejo e em paixão

que nos atava.

 

Porque o gostar

do florir da primavera nos teus lábios

é uma verdade

que me beija desatada.

 

Porque o delírio do sangue

se da noite se faz dia

é um comungar que não se acaba.



© Jaime Portela, Janeiro de 2021