Tenho as mãos enterradas
no som minado da palavra,
onde cultivo o vírus da ausência
e onde faço um caminho falho
para transpor o tempo e o espaço
que me separam de ti.
Os cortes do vidro moído
gritam em silêncio
e não há descanso dentro de mim,
rasgo o espaço onde me faltas
e não desfaço os sinais em desatino
na cata cega do acerto.
Recolho os cacos
no avesso da síntese da realidade
sem jamais os conseguir colar e, com eles,
esboçar flores consertadas
que atapetassem o caminho
por onde virias descalça até mim.
Vou tentando,
mas estas mãos só resistem
pelas palavras, que vão morrendo
lentamente com a falta das tuas.
© Jaime
Portela, Março de 2022