segunda-feira, 7 de novembro de 2022

Como a formiga [451]

 

Como a formiga,

que arrasta mais que o seu peso

e mais que o seu volume

por carreiros sinuosos,

tropeço

e luto

contra o tempo e o hábito.

 

De vez em quando sou pisado,

mas a sorte

e o engenho

ajudaram-me a escapar,

até hoje,

no intervalo ou nas ranhuras

das patas do inimigo

ou dos pés do distraído.

 

Recolho

ou abandono

os destroços da carga

conforme os estragos

e prossigo a luta

obrigatória

para me abrigar

antes que a noite caia.

Ou a chuva.

 

E emboloreço,

no tempo e na espinha,

no prazo

e nos estorvos dos caminhos.

 

Se a vida é um atado de curvas,

o amor é um embrulho

já quase indesatável,

que não mereço,

mas que não esqueço.

 

E há trilhos,

agora tão íngremes,

que antes eram subidos

como se fossem descidas,

que se assemelham

a paredes intransponíveis.

 

Mas ganhei asas,

porque há subidas evitáveis

e fardos

que não vale a pena carregar.

Assim, apenas assumo

as curvas e os embrulhos.

 

© Jaime Portela, Novembro de 2022


35 comentários:

  1. Linda poesia. Reflexiva! E as formigas sempre conseguem escapar dos amassados que lhe fazem...E seguem... abraços, ótima semana! chica

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  2. Bom dia, caro amigo Jaime,
    A vida tem armadilhas subtis, as quais teremos que contornar para seguirmos em frente sem sermos apanhados e esmagados por elas.
    É assim a vida e as duas vicissitudes.
    Excelente poema, que muito gostei.

    Votos de uma excelente semana, com muita saúde.
    Abraço amigo.

    Mário Margaride

    http://poesiaaquiesta.blogspot.com

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  3. Depois de uns dias ausente da blogosfera, eis-me de volta para interagir com os amigos queridos e apreciar suas obras poéticas com muito prazer.
    O senso de observação do poeta é fantástico. Associar sua caminhada pela vida e seus percalços aos de a minúscula formiguinha é realmente fora de série. Gostei muito Poeta Jaime!!
    Um beijo carinhoso

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  4. Um percurso, uma constatação, uma elevação...
    Li e reli, tão profundas as palavras que
    constroem esse seu poema, amigo Jaime. Caindo
    e levantando-nos, entre tropeços e obstáculos,
    haja enfim o momento em que levantamos voo
    em busca do nosso Sangri-la.

    Boa semana.
    Abraço
    Olinda

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  5. Um poema de labuta e trabalho, como a formiguinha
    :-)

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  6. Olá Jaime :)
    Enquanto o lia, veio-me à lembrança : A formiga no Carreiro, do Zeca Afonso.
    Formiga sábia a sua, que ganhou asas e deixou da carregar tudo o que não vale a pena.
    Uma boa lição de vida.
    Grata pela presença no Parapeito. Gosto muito.
    Abraço e brisas doces **

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  7. Versi originali e molto significativi, nel nessaggio che intendono inviare al lettore.
    Poesia apprezzata,buona settimana, silvia

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  8. Vieni a trovarmi sul mio blog d'amore : https://deangelissilvia.blogspot.com/
    Un caro saluto, silvia

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  9. Ganhar asas. É isso mesmo meu Amigo Jaime. Às formigas laboriosas também as asas lhes fazem falta para passarem por cima dos obstáculos.
    Curioso e instigante poema.
    Uma boa semana com muita saúde.
    Um beijo.

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  10. Há trilhos que não devemos percorrer....mas nunca devemos esquecer o amor...
    Porque ele nos ajuda a ultrapassar tudo o que parece ser intransponível...
    Obrigada pela visita
    Beijos e abraços
    Marta

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  11. INTENSO, PROFUNDO, MAGISTRAI, de ler. Mais um poema que me encantou ler.
    .
    Cumprimentos cordiais e poéticos
    .

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  12. Olá, Jaime.
    Como sempre, poemas de alta qualidade, sensíveis e belísismos.

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  13. Uma excelente opção: da Vida escolher apenas o lado menos
    penoso. Para labuta afincada bastaram os anos de juventude!
    Ganhar asas e voar, na hora de ultrapassar os escolhos que se nos deparam ao longo do caminho, é uma atitude inteligente.
    Um belo poema, com a Vida trabalhosa das formiguinhas, como exemplo.
    Gostei!

    Beijo e votos de boa semana, caro amigo Jaime.

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  14. Una poesia molto piacevole alla lettura. Complimenti, Jaime, per la tua bravura. Buona settimana.

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  15. De facto, há fardos que não vale a pena carregar.
    E que sempre sobrem asas que nos levem a voar!
    Beijos e boa semana!

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  16. Boa tarde Jaime,
    Gostei imenso deste magnífico poema que nos dá uma leitura do outono da vida!
    O importante é que se consiga ir contornando as vicissitudes do tempo e ir escapando ilesos;))!!
    Beijinhos e uma boa semana.
    Ailime

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  17. A vida não é fácil... tenhamos consciência. O poema diz tudo.
    Um abraço.

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  18. Adorei! Os meus parabéns pelo seu dom! :)

    Feliz dia

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  19. Desde as fábulas de Esopo, as formigas são consideradas animais laboriosos exemplares … o poema o confirma.
    Original a fusão da formiguinha com o poeta — ambos com uma vida exemplar de labuta.
    Deixo o meu elogio e levanto asas 🐜

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  20. Cada pessoa já tem o seu próprio fardo às costas! Adorei o poema. Obrigada pela partilha!!

    .
    Pode a esperança ser o meu porto seguro...
    .
    Beijo e uma excelente semana.

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  21. Olá, amigo Jaime,
    que lindo poema, lembra sim as formigas,
    com sua rainha no comando, com seus soldados no trabalho
    e uma árdua caminhada, tropeçando, aprendendo e
    encontrando as pedras no meio do caminho.
    Muito reflexivo e muito belo poema,
    gostei muitíssimo, meu amigo.
    Aplaudo você daqui!!
    Uma feliz semana, com paz e alegria!
    Beijo

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  22. Profundo poema. Uno debe siempre seguir adelante. Te mando un beso.

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  23. Olá Querido Amigo Jaime, fico sempre deslumbrada com a sua enorme inteligência poética!
    Parabéns pelo elevado nível da sua escrita!
    Tenha uma semana feliz.
    Um beijinho!

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  24. Um bom momento para refletir com a analogia muito bem colocada.
    Continuação de uma boa semana.
    Kandando!

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  25. Mas ganhei asas,
    porque há subidas evitáveis
    e fardos
    que não vale a pena carregar.
    Assim, apenas assumo
    as curvas e os embrulhos.
    👏👏👏... Bj

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  26. Olá caro Jaime
    Curioso e belo poema
    Assim é que somos
    Construtores dos nossos caminhos
    às vezes árduo por alguns obstáculos
    Ou até mesmo pelo seu semelhante
    Que às nos quer enterrar
    Sempre reconstruindo, submergindo
    Criando asas e seguindo nosso destino
    Boa noite e boa semana.
    Beijo!

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  27. Que bela poesia! A engenhosidade das formigas... e a vida!
    Abraços!

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  28. A formiga que ganha asas para voar por cima dos atropelos da vida.
    Olha li e reli porque vale a pena 'mastigar' muito bem cada palavrinha, cada verso.
    Beijinho

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  29. A vida está tão problemática que é uma boa opção não querer carregar o mundo nos ombros.
    Abraço e saúde

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  30. Sorrisos...
    E já assumes muito...
    Acontece com todos -- a certa altura da vida, há que aliviar a carga...
    Excelente poema, Jaime. Abraço
    ~~~

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  31. Olá, poeta Jaime!
    Assim como as formigas, podemos ganhar asas, resistirmos firmes pela fé, e até voamos na imaginação.
    Que a dignidade e a força laboral delas nos inspirem!
    Tenha dias abençoados!
    Beijinhos

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  32. A pôr a leitura em dia. As formigas são dos bichos que mais me encantam, ainda há dias escrevi sobre elas. Sou capaz de partilhar daqui a pouco. Cuidado nas curvas!


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  33. E o que impele a formiga a continuar? Será apenas o instinto? A lembrança quase esquecida do sol da vida? Será deveras bom escapar aos pés dos incautos?... Não sei.
    Mas sei que o seu poema está lindo!! Beijinhos, Jaime Portela, e tenha um excelente dia de São Martinho:)

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  34. Um intrincado poema que nos faz reflectir... o amor prende... ou liberta... tudo depende da forma que sentimos, como o mesmo nos chega!...
    Quiséramos ter nós a força das formigas... quando nos deparamos com certos fardos...
    Um beijinho!
    Ana

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