Notas:
Cantares ao desafio ou desgarradas: cantigas populares muito antigas do
norte do país em que dois cantadores vão improvisando,
desafiando e respondendo um ao outro, tradicionalmente com brejeirices,
acompanhados por uma ou mais concertinas;
Santa Luzia: monte e templo a norte de Viana do Castelo, de onde se avista a cidade, o
rio Lima e o mar;
Cabedelo: praia a sul de Viana do Castelo, na margem esquerda do rio Lima;
Senhora d’Agonia: capela que é o centro religioso da Romaria de Nossa Senhora da Agonia (padroeira dos
pescadores locais) que se realiza desde 1783 no mês de agosto, englobando o dia
20, feriado municipal. Esta romaria é talvez a maior festa portuguesa de
raiz religiosa.
Ele:
Boa noite meus senhores
Boa noite a toda a gente
Esta bela dos folclores
Vai aquecer num repente
Ela:
Se eu aqueço num repente
Tu resfrias bem depressa
Eu sou aquela serpente
A quem fizeste a promessa
Ele:
Já fui cumprir a promessa
De te dar um grande abraço
Vi-te de Santa Luzia
Andavas tu ao sargaço
Ela:
Andavas eu ao sargaço
Na Praia Norte cansada
Mas no farol de Carreço
Cantámos à desgarrada
Ele:
Cantámos à desgarrada
Nas margens do rio Lima
Tu lavradeira acirrada
Eu de jaqueta por cima
Ela:
Tu de jaqueta por cima
Nas dunas do Cabedelo
Mas não pintou um clima
Eras mesmo um pesadelo
Ele:
Eu nunca fui pesadelo
P’ra quem sabe aguentar
A culpa não é do martelo
Que é feito p’ra martelar
Ela:
É feito p’ra martelar
E levar um safanão
Eu só queria navegar
No mar do teu coração
Ele:
No mar do teu coração
Dancei o vira picado
Na Senhora d’Agonia
Já era teu namorado
Ela:
Já eras meu namorado
A tocarmos concertina
No malhão tão bem dançado
Até às seis da matina
Ele:
Até às seis da matina
Sempre sempre a pedalar
Tu eras a gelatina
Que eu sempre quis petiscar
Ela:
Se tu me queres petiscar
Vai-te embora e não me toques
E vai de mãos a abanar
Pôr de molho esses berloques
© Jaime Portela, Agosto de 2023
Ele
ResponderEliminarPôr de molho estes berloques
Só se for em água benta
És cheia de 'não me toques'
E tens muito pêlo na venta.
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Bem sei que o Jaime não pede aoa seus leitores que entrem na 'Desgarrada', mas como vou entrar em férias e este seu post tocou no meu ponto fraco, deixei esta gracinha em modo masculino. :)
Um abraço e até ao meu regresso, caro amigo Jaime.
Adoro desgarradas.
ResponderEliminarCantar desgarradas, já com um grão na asa, nas noites de Queima das Fitas, dava sempre risada geral.
Boas memórias.
Abraço, boa semana
Muito curioso. Admiro a rapidez com que os intervenientes constroem as suas quadras.
ResponderEliminarUm abraço.
Que giro!
ResponderEliminarOs meus parabéns!
Bom dia
Straordinaria! Unisci tradizione a luoghi del tuo Paese ed a una "sfida"molto intrigante. Standing ovation!
ResponderEliminarExcelente e profunda tradição cultural, amigo jaime
ResponderEliminarExcelente e bela tradição cultural amigo jaime
ResponderEliminarAbraço
Adorei a desgarrada, meu Amigo Jaime. Gostei do humor que lhe soube acrescentar. Parabéns!
ResponderEliminarUma boa semana.
Um beijo.
hahaha! Aqui no Brasil também temos, e chamammos de "Desafio." Muito bom! Acho que talvez tenhamos 'herdado' de Portugal.
ResponderEliminarAdoro desgarradas, com muito humor à mistura!
ResponderEliminarLindo de se ler, Jaime!
Beijinhos!
🌸🌷🌸 Megy Maia
Boa tarde Jaime,
ResponderEliminarAdoro desgarradas e Viana do Castelo!
Parabéns pela criatividade numa desgarrada onde o humor não falta, como convém!
Beijinhos e boa semana.
Ailime
Excelente y curioso
ResponderEliminarUn abrazo.
Excelente y curioso.
ResponderEliminarUn abrazo. Feliz semana.
Viana do Castelo é uma preciosidade, não apenas no sentido literal do ouro com o qual as lindas moças se adornam, mas no seu todo, desde o alto de Stª Luzia até à zona ribeirinha, passando pelo centro histórico.
ResponderEliminarGostei desta desgarrada (sobretudo por não ter música e desculpem-me os apreciadores...)
Amigo Jaime, prepare-se para a romaria!
P.S.: Estou bem e de saúde, daqui a pouco voltarei a publicar
Uma bela desgarrada.
ResponderEliminarUm abraço e boa semana.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
Livros-Autografados
Olá, amigo Jaime!]
ResponderEliminarGostei de ir lendo e rido pela boa ironia agradável.
Bom divertimento sadio é apreciar quadras assim nascidas espontâneas com traços literários genuínos.
Tenha uma nova semana abençoada!
Abraços fraternos
Interessantes poemas populares, que um pouco por todo o país vai fazendo as delícias do ZÉ POVINHO.
ResponderEliminarGostei bastante de ler, caro amigo Jaime.
Excelente partilha!
Votos de uma boa semana.
Abraço amigo.
Mário Margaride
http://poesiaaquiesta.blogspot.com
Ele
ResponderEliminarVim cantar à desgarrada
Para este povo decente
Apareceu esta safada
Deixou-me logo doente
Ela
Deixei-te logo doente
Desde quando me namoraste
Ainda tenho bem presente
Que nem com um dedo me tocaste
Ele
Nem com um dedo te toquei
Quando minha namorada
Mas o martelo sempre te dei
Pois gostava de martelada.
Ela
Se gostava de martelada
Desse martelo jeitoso
Cala-te não digas nada
Pois és um mentiroso
Olá caro Jaime.
ResponderEliminarMuito bom o que li
Desgarrada parecida com o Repente daqui do Brasil
Boa noite e feliz semana.
Abraço!
Each country expresses art in a unique way, even if literature, poetry and other means of communicating are universal.
ResponderEliminar♥ Poetic and cinematic greetings.
ResponderEliminarOlá, Jaime
Adoro desgarradas, a espontaneidade,
a picardia, o humor.
E a facilidade com que respondem às
"provocações".
Gostei muito.
Grande abraço
Olinda
Clap...Clap...Clap... Muito bem. ;)
ResponderEliminar.
Quero voltar ...
.
Beijos, e uma excelente semana!
Que bonito e que bom ser de uma terra tão bela e cheia de tradições com é Viana em particular e todo o Minho em geral. Os poetas e pintores espanhóis sempre deram, para meu deleite, bastante relevo aos costumes populares locais, aos regionalismos, ao folclore. O Jaime conseguiu aqui reunir um conjunto de quadras de grande qualidade e coesão estética. Desafio-o a pegar no tema e aplicá-lo numa forma mais livre e solta, mais sofisticada. Haverão de dar poemas únicos e bastante originais, se juntar a tradição com a sua subjetividade.
ResponderEliminarBoa semana,
Hermosa canción. La forma como ambos expresan sus sentimientos. Me gusto leerla. Te mando un beso.
ResponderEliminarBoa tarde JP
ResponderEliminareu gosto de ouvir desgarradas,
estas aqui são bonitas e cheias de humor, como convem
obrigada por trazer aqui estra tradição.
boa semana
um beijo
:)
Adoro estes cantares... 👏👏👏😘
ResponderEliminarBellísimas canciones populares, que gracias a la tradición viva de las personas que las cantan, se transmiten a través del tiempo preservándose así culturalmente todo el contenido de las mismas. Hay que proteger y preservar siempre la cultura del pueblo, tanto artística como musical como en todas las formas que la cultura adopte.
ResponderEliminarGosto imenso de desgarradas e admiro quem as faz pelo repentismo das respostas em quadra.
ResponderEliminarAbraço, meu querido amigo.
A sua veia poética, Jaime, é extraordinária até mesmo quando escreve poesia popular.
ResponderEliminarGosto muito de desgarradas — e as aqui apresentadas têm grande classe.
Como me esqueço quase sempre de deixar um abraço — deixo aqui um abraço para cada dia da semana — até à próxima segunda-feira 🌻
Ahahaha, eu adoro isso, Jaime, aqui no Brasil chamamos de "Repentistas",
são Poetas do Improviso!
E sai cada coisa, principalmente no Nordeste brasileiro, encanta muito!
Gostei deste que você trouxe. Precisam ser rápidos e afiados!
Adorei, meu amigo, aplausos!
Um bom fim de semana que vem por aí.
Beijo
Caríssimo Jaimamigo
ResponderEliminarComo sou meio alentejano aqui va uma modestíssima contribuição:
ELA
«No cimo daquele monte
tem mê pai u'a cênfêra
que nã vai buscar auga à fonte
pois gastaria a vida intêra
ELE
Gastais a vida intêra
ó moça q'és a mais linda
no mê coração arde um foguêra
que nã apagaste ainda
ELA
Que nã apaguê ainda
nê nunca vou aventari
por mais que sêja linda
nunca serê o teu pari
ELE
Nunca será serás o mê pari
ai desgraçado de mim
porque o cante 'stá a acabari
e acaba mesmo no fim!»
Desculpa lá ó Jaimamigo, na prosa, vou-me safando, mas, na versalhada, sou um tsunami... Só tu meterias m tal quiproquó...
Abração
Henrique
Bem giro!
ResponderEliminarSempre me causou impressão essa arte de improviso, como é que sai em breves segundos assim uma rima.
Beijinhos
Uma forma interessante de improvisar recriando rapidamente,
ResponderEliminarGosto muito, Jaime, faz algum tempo passei horas ouvindo repentistas,
(ou cantadores, como chamamos aqui), numa praça em Maceió, no nosso nordeste,
onde a prática prolifera. Poetas... poetas... sempre muito bons !
Um abraço, meu amigo.
Fantástica desgarrada.
ResponderEliminarBeijinhos
Olá, amigo Jaime, gostei muito dessa postagem,
ResponderEliminarque mostra um lado interessante da cultura de Portugal,
com esse tipo de canto, que aqui no Rio Grande do Sul, tem o seu dia,
Dia do Repentista, que é em 4 de Dezembro.
Parabéns pela excelente postagem.
Votos de um bom final de semana.
Grande abraço.
Olá, caro amigo Jaime,
ResponderEliminarpassando por aqui, relendo este excelente post, que muito gostei, e desejar um feliz fim de semana!
Abraço amigo.
Mário Margaride
http://poesiaaquiesta.blogspot.com
Adoro a desgarrada. Nem sempre sendo improviso, nos deixa as palavras e versos certos dum desafio poético.
ResponderEliminarÉ tradicional e um Bem Cultural notável.
Parabéns, Jaime.
Abraço
SOL da Esteva
Uma desgarrada muito bem humorada!
ResponderEliminarGostei imenso desta diferente forma de poetar por aqui, que muito aprecio e que nem sempre tenho oportunidade de apreciar. Admiro a fluidez poética, que estes géneros musicais obrigam, muito baseados no talento criativo da improvisação!
Beijinhos
Ana
Jaime,
ResponderEliminarAdorei essa
construção!
Encantada.
Durante um período vou divulgar Blogs
que aprecio.
Se desejar visitar deixo aqui o link:
https://ressurgidodascinzas.blogspot.com/
Desejo um ótimo fim de semana e
e deixo Bjins de gratidão
por essa convivência literária.
CatiahoAlc.