quinta-feira, 6 de outubro de 2022

Operação especial [442]

 


De súbito,

fecharam-se todas as portas.

O mesmo aconteceu com as janelas.

O estranho acontecimento,

nada o deteve.

E não eram portas e janelas

deste ou daquele, nem mesmo apenas

as das casas de famílias enlutadas.

Todas elas se fechavam

ao ritmo

e ao som

de uma música estranha, imparável,

embora com distintos

começos e andamentos.

A ordem,

para que o céu não se cobrisse de nuvens

dentro dos lares,

ninguém a deu, foi ditada

pelos estrondos cada vez mais próximos.

As flores de cada jardim

ficaram submersas,

de esperanças fuziladas

por cogumelos, torturas e violações.

Os sobressaltados inquilinos

procuraram abrigo debaixo do chão

em casas sem portas e janelas.

Barbaramente,

houve uma porta, apenas uma,

que recebeu a maldita ordem

para não se fechar:

a porta do céu,

para que as bombas pudessem cair

como chuva aleatória, e as almas,

dos seus inertes corpos separadas,

subir à derradeira morada.

 

© Jaime Portela, Outubro de 2022


32 comentários:

  1. Dolorosissimi eventi, d'un presente inaccettabile che fa molto male.
    Versi intensi, molto apprezzati.
    Buona giornata e un caro saluto

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  2. Que poema fortíssimo!

    Não deixa de ser lindo apesar do seu teor.

    Feliz dia

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  3. E a guerra destrói... corrompo o tempo e o corpo...
    Brilhante...
    Obrigada pela visita
    Beijos e abraços
    Marta

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  4. Intenso, profundo, super criativo, poeticamente falando. Diz a sapiência popular que as portas do Céu estão sempre abertas. Será que estão mesmo para todas as almas?
    A arte poética está bem presente neste poema. Sem dúvida, fascinante de ler

    Cumprimentos poéticos

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  5. Tocante, impressionante esse sentir aqui na linda poesia expresso!
    Triste,não? abraços, chica

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  6. Ainda bem que essa porta estava aberta!
    Meditação profunda, a tua, para criar um ambiente assim.Quem sabe o que nos espera com tanto louco à solta.
    Gostei.
    Forte abraço de vida

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  7. Tão dolorosamente real, este teu belo e sentido poema, meu amigo!

    Que a Humanidade consiga construir a paz !

    Te abraço

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  8. Boa tarde Jaime,
    Magnífico e muito profundo este poema de uma construção poética admirável e que emociona!
    Parabéns, Poeta!
    Beijinhos,
    Ailime

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  9. Versi struggenti, di grande commozione, bellissimi. Purtroppo viviamo brutti giorni. Buona giornata, amico Jaime e complimenti come sempre.

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  10. Uma das benesses de um poema, é ele refletir o clamor da alma nos momentos de prazer ou de dor. E esse que acabei de ler é fortemente tocante.
    Um beijo.

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  11. Triste e doloroso, mas tão bem o sabes dizer!

    Que a Esperança e a Fé não nos fujam.

    Beijinhos.

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  12. Arrepiante, e por isso mesmo, magnífico!

    Arrombemos as portas e as janelas que se fecham. Sim, acredito que ainda é possível...

    Beijinho, amigo Jaime

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  13. O homem ainda não ultrapassou a fase do "olho por olho, dente por dente".
    Um abraço.

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  14. Poema belo e aterrador, semelhante à vida cruel com que nos deparamos actualmente.
    Pena que tudo não seja apenas e só ficção, poesia. Mas não é.
    Para os que infligem dor e sofrimento ao seu semelhante, as portas que se escancaram serão as do inferno...

    Um forte abraço, amigo Jaime.

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  15. Poema intenso e de revolta, pela violência que esta guerra injusta e sem sentido, está a causar a milhares de seres humanos.
    Gostei muito de ler, caro amigo Jaime.
    Votos de um excelente fim de semana, com muita saúde.
    Abraço amigo.

    Mário Margaride

    http://poesiaaquiesta.blogspot.com

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  16. Profundo poema te hace pensar. Te mando un beso.

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  17. Esse títere não vai sobreviver a esta guerra.
    E vai ser liquidado por quem lhe está próximo.
    Abraço, bfds

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  18. Inmenso, profundo y doloroso, describes en tus versos a la perfección el problema del mundo, maravilloso ha sido leerte aunque duela hacerlo
    Un abrazo

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  19. Desoladoras verdades poetisadas de forma sublime. Impossível não sentir tristeza diante de suas colocações. Lindo, Jaime! Abraço.

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  20. Muito bem desenhado Jaime - me vi entre escombros
    ficção ou não é assustador quando as janelas se fecham...
    Um doce abraço de fim de semana e que as nossas janelas
    se abram para o amanheceres radiosos.

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  21. a inumanidade da guerra. e a sua den+uncia
    a POesia pode serm mutaa vezes uma arma.

    gostei muito do teu poema, meu amigo

    abraço

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  22. Um poema apocalítico, mas o dia a dia de muitos
    que estão próximo da 'linha da frente'.
    Bem impressivo e eloquente.
    Bom fim de semana. Abraço
    ~~~~~~~~~~~~~~

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  23. Também gosto muito da intensidade da mensagem!
    Bom sábado 😘

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  24. Inquietante este poema sobre a guerra onde se luta contra o fuzilamento da esperança e contra a morte. Gostei muito, meu Amigo Jaime.
    Que tenha um bom fim de semana.
    Um beijo.

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  25. Senti em mim este teu excelente poema cujo teor me é familiar.
    Abram-se as Portas do Céu e haja Luz e Paz.
    Parabéns, Jaime Portela.


    Abraço
    SOL da Esteva

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  26. Olá, caro amigo Jaime,
    Passando por aqui, relendo este excelente poema, que muito gostei, e desejar um feliz fim de semana, com muita saúde.
    Abraço amigo.

    Mário Margaride

    http://poesiaaquiesta.blogspot.com

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  27. Olá, Jaime

    Ler este poema é quedar-nos nas palavras
    e no que elas traduzem, numa mensagem
    que muitos já sentiram na pele. A maldição
    que vem do céu mas também da terra e de
    todos os lados. E quando não há escapatória
    a esperança se evola.

    Abraço
    Olinda

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  28. É isto!!! O momento presente, magistralmente descrito... e num escalar diário! Esta operação... está a ser cozinhada em fogo lento... pois o General Inverno, sempre esteve ao serviço das tropas russas... na Segunda Guerra... e talvez na Terceira, pelo andar da carruagem, com toda esta crise energética, que nem rastilho, se espalhou pelo mundo...
    Parabéns, Jaime, por tão bem ter condensado, a insanidade destes tempos, neste poema de excelência... irei ficar com o mesmo debaixo de olho, para qualquer dia o destacar...
    Beijinhos
    Ana

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