quinta-feira, 27 de outubro de 2022

Passei ao lado [448]

 


Passei ao lado

das florestas de embondeiros,

das vastidões de capim

e da negra irritação dos indígenas,

tal como da brancura do medo às catanas

e aos relâmpagos da razão capital.

 

Involuntário,

devolvi à nascente o esplendor maternal

das noites de paz,

que só terminavam com o café matinal

a inundar a urgência de apanhar o comboio

em andamento totalitário,

de maquinistas com o poder único

[mas de faúlhas ingénuas…]

de apitarem amordaçados pelo regime.

 

O vapor,

escuro e ruidoso,

foi-se tornando uma lembrança

de bancos de pau e carvão,

mas não fugi do berço

onde, em liberdade, a palavra primitiva

é a manteiga do motivo

ou o sal da ideia,

a procedência que nos faz reproduzir

ou escorregar

na língua do sonho.

 

Até que cheguei aqui

[já global…],

onde as asas das borboletas,

russas, chinesas ou norte coreanas,

provocam tempestades totalitárias,

onde já não podemos fugir à irritação

de outros indígenas, sem embondeiros,

sem acácias

e sem a razão,

mas com a força das armas.

 

© Jaime Portela, Outubro de 2022


37 comentários:

  1. Perfeito! Temos artista :)

    Um feliz dia

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  2. Boa tarde Jaime,
    Um poema muito inspirado em que as metáforas plenas de significado nos proporcionam um belo poema muito bem construído.
    Um beijinho e um ótimo dia.
    Ailime

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  3. Jaime
    a história contada e sentida de maneira poderosa

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  4. Uma forma outra de se abordar a História. E aqui chegados é o que se sabe. Mais importante ainda é o que não se sabe e que se esconde dos olhos dos inocentes quando as guerras se eternizam.
    Continuação de boa semana, Jaime.
    Abraço
    Olinda

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  5. Uma ponte feita de memórias e de sonhos esquecidos, amordaçados...
    Brilhante
    Beijos e abraços
    Marta

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  6. Un testo molto originale, nelle preziose e inedite immagini che presenta al lettore.
    Un caro saluto,silvia

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  7. Infelizmente, amigo Jaime, a única palavra vigente nos tempos actuais- tal como dantes - , reside na força das armas.
    Poucos foram os mancebos que nos anos sessenta "serviam a Pátria" e escaparam à violência das catanas.
    Alguns, passaram ao lado da irritação dos indígenas, ficando pelo ronronar dos velhos comboios, até à próxima volta ao aconchego do Lar.
    O meu irmão não escapou...regressou com vida, mas morto para a vida.

    Beijo amigo.

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  8. Muito muito muito bom este poema bomba limpa. Que os embondeiros, com a sua resistência, nos inspirem!

    Abraço forte!

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  9. Un panorama triste en tu bella poesía, Jaime
    Abrazo

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  10. No sé si se ha perdido mi comentario
    Otro abrazo

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  11. Muy buen poema Jaime, felicitaciones.

    mariarosa

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  12. um belo e forte poema , meu amigo Jaime

    grande abraço

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  13. A história ensina e os homens não aprendem. Suas memórias caminharam até uma doída realidade, mas você harmonizou seu desconforto com um lindo poema, Jaime. Abraço.

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  14. Profundo poema , los recuerdos tristes nos atormenta. Te mando un beso.

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  15. Intenso, sagaz e brilhante!
    Querido Amigo Jaime parabéns pelo estrondoso talento!
    Desejo-lhe um excelente fim-de-semana!
    Beijinhos

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  16. Um poema fantástico. Um grito de revolta, pelo estado em que o mundo se encontra, envolto numa guerra violenta sem fim à vista.
    Gostei muito. Parabéns, caro amigo Jaime!
    Votos de um excelente fim de semana, com muita saúde.
    Abraço amigo.

    Mário Margaride

    http://poesiaaquiesta.blogspot.com

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  17. Infelizmente as armas continuam a ser uma força que ninguém consegue parar.
    Um bom fim de semana, meu Amigo Jaime.
    Um beijo.

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  18. Intenso, profundo, poderoso, brilhante. Gostei muito de ler
    .
    Feliz fim de semana.
    .
    Pensamentos e Devaneios Poéticos
    .

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  19. Boa tarde JP

    uma maneira criativa de escrever poesia
    com palavras delicadas a falar sobre o panorama da guerra
    um grito subtil e no entanto com bastante intensidade.

    bom fim-de-semana com saúde.

    :)

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  20. Los pueblos que fueron dominados y casi exterminados claro que no olvidan , pero en este tiempo regar con más sangre el suelo que reclaman no se si ello les aporta mayor dignidad , valor o justicia...el hombre siempre ha repetido sus errores y lo que es peor se los hereda a sus hijos que ya de porsi volverán a llevar sobre sus hombros el dolor y el estigma.

    Buen fin de semana.

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  21. A realidade atual, fria e cruel transposta para a poesia.
    Abraço, saúde e bom fim de semana

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  22. Parabéns Jaime pelo fantástico poema.
    Bom fim-de-semana
    Bj

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  23. Um poema sublime e tão pertinente para os tempos nebulosos que atravessamos.
    Bom fim de semana
    Beijinhos

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  24. Os totalitarismos não conhecem cores nem credos.
    O mundo em que vivemos ainda está longe de poder corresponder aos esforços de muitos.
    Abraço amigo.
    Juvenal Nunes

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  25. Poema de intervenção, perfeito.
    Que as Guerras, quentes ou frias, se desvaneçam e deixem que a Paz inunde as terras e as Almas.
    Te felicito, Jaime.Também nos toca (ou tocou) em parte.

    Abraço
    SOL da Esteva

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  26. Um abraço forte e solidário das margens do rio Reno como um elogio subtil a tão poderoso POEMA.
    As metáforas usadas são de uma intensidade incrível.

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  27. Bem pertinente seu poema de hoje!👏👏👏...bom domingo

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  28. Os embondeiros são árvores solitárias das savanas!!
    Fecunda criatividade em excelente e forte mensagem.
    Gostei de te ler, Jaime.
    Bom fim de semana. Abraço amigo.
    ~~~~~

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  29. Muito bem colocado e tão bem conseguido este poema que, para mim e outros que fizeram percurso idêntico, se veem de novo com o cenário agonizante da guerra, da intransigência, intolerância, repetindo-se ciclicamente os mesmos erros crassos.
    Kandando!

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  30. grande abraço, Jaime Portela
    gostei muito do poema. ecepcional....

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  31. Poderoso!
    O que ontem nos era mote, hoje o mundo virou trote.
    Beijinhos, amigo Jaime! Sempre inspirado e inspirador.

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  32. Infelizmente é mais o barulho das guerras , que nos rodeia.
    É preciso que seja a música da paz a encher os nossos dias.
    Belo e inspirador.
    Gostei muito.
    Abraço e brisas doces **

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  33. Um poema fantástico... que apoiado em belas analogias, tão bem descreveu as tristes realidades, em que estamos mergulhados... e nem sabemos mais como evitar... se houver um doido a premir um botão... ou um teste de novas borboletas, que corra mal... e cada vez mais, parece que estamos a beira disso mesmo... dum tremendo vespeiro, sem mais razão, nem ordem... de vespas asiáticas... ou de leste...
    Um beijinho
    Ana

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