A menos que pense em ti,
quase nunca me inflamam
o despontar da manhã
ou os primeiros segundos do novo ano.
Contudo,
nunca se esquece de ti
a minha alma sufocada,
embora quase nunca me lembre
dos lírios decorados com gotas de orvalho
ou da melodia do entardecer.
Mas quando,
no desespero da ausência,
a memória congela,
a visão aninha-se e retorna ao vazio,
as manhãs definham
e os segundos
ficam prenhes de horas escusas.
Para não falar dos lírios murchos
ou do silêncio ferido
por imagens vazias com sabor a nada.
Apenas sobrevivo
porque crio para ti
a cantiga da loucura em tons sensatos
e sinto, na distância,
a urgência da tua carne,
que brilha,
e a leveza certa da chegada,
que tarda.
© Jaime
Portela, Dezembro de 2022