Naquele tempo,
os peixes viram-se livres de redes e barcos,
a terra não foi mais arada
e do alcatrão e do cimento
desabrocharam rosas virtuais.
Enquanto isso,
a Justiça dormia e os paraísos,
explorados pela banca da sábia seita
cavaquista,
tinham aparência legal.
Era o mercado contra o povo
e a pança cheia
dos que nada produziam
transformados em abutres financeiros.
Já falida,
a banca ainda era caucionada
pelos que já tinham posto o seu dinheiro a
salvo
com desmesuradas mais valias,
alegadamente a troco de um casarão.
Mais tarde,
o povo, que diziam ter gasto de mais,
salvou os bancos da bancarrota
com o seu próprio dinheiro.
E hoje,
ingratos e insaciáveis,
cobram-nos juros a mais
e pagam-nos juros a menos,
acrescidos de taxas e mais taxas,
enquanto o sábio dos sábios, no seu casarão,
escreve livros que não falam disso.
© Jaime
Portela, Julho de 2023