respirámos imagens esquecidasda nossa adolescênciae a nossa primaverajá remotaganhou novas cores e limitesna paisagem de aromas de pinhoescutei o teu som inquietoo verdadeiroescoltado por tons de maresiana floresta onde os cantosse escapavam até nóspor entre mil dunas de desejoo sol até ali silenciosoproclamou a minha felicidadefecundada no teu rostonão te abandono e continuareia colar fragmentos de tipersistirei em ver-teem juntar-te em reconstruir-teaté que fiques inteira
domingo, 25 de janeiro de 2015
Reconstrução [004]
terça-feira, 13 de janeiro de 2015
O parto do sossego [003]
não tenho horas certasde relógio alheio ou meumas em fortes badaladaselas sempre comemoram o solstícioem que te libertastedo teu desassossegopariste-o nas minhas mãossuave e tímido sossegono êxtase das nossas línguasnum pulsar imaculado em réplicasde emancipados tremoresnão esbanjarei predigo-meo que me sobra do tempoa cozer-me no baço fogo da sopade vermes da incertezanem me sepultarei acesonum fosso de mortalha alinhavadoquando o teu sossego é intransmissívelé teu é meu só nosso
domingo, 4 de janeiro de 2015
Fuga [002]
a chuva copiosa e sem saídascercou-te em pedaços de nadaficaste presa na tua própria armadilhana fronte tinhas um cartaz publicitário do fracassomas as nossas mãos viajaram no pianoà procura da luaque em breve irias pisarmontados nas palavrasfacas que rasgaram as sombras dos teus medosajudei-te a fugir através do bosque dos sonsmas as notas eram flechasque esbarravam nos muros de águaque teimavam em te abraçarfaiscavam retrocediame caíam nas lágrimas da tua destruiçãodós sem sol capitulavam enlouquecidosnas catapultas que vazavam angústias sem fimde ti em mimde um fim de tarde nunca sentido ferido sitiadoentre muralhas e dardosangústias desvendadas por chispasque se extinguiam em mares sem riosem rios sem nascentesem lagos verticais acordados de estios e de tédiosdo teu sono sem ondasmascomo afogadosagarrámo-nos a uma nota que saiu distraída com asasfilha pródiga dissonante à procura de aventuravoámosfugiste para além do cerco dos sonhos que não tinhasaté que tudo se dissipou na distânciada floresta mágica de sonspudeste então sorrirsoubeste pisar a luae no sol que concebestefinalmenteviste que nada mudou na criança que há em ti
sexta-feira, 2 de janeiro de 2015
Rio sem margens [001]
o vento empurrou-te para mimnuma réstia de sol matinalque descobriu mais pombas que pardaiscoladas ao teu corpode pássaros da chuva miudinhaafoguei-te na orgiade bulícios de luzes solarengas engolistegolfadas de murmúriosde gestos apressados abandonadano turbilhão de claridades inquietasdespenteei-te com voos rasos de ventosdesenroupados de sombrasabracei-te na passadeira vermelhacom a grandeza de um rio sem margensguardei-te na memória futurapara que de mim estejam perto impressasas pombasos pássarose a chuva miudinhafixadas no cobre do teu corpo de vénus