Fuga [002]
a chuva copiosa e sem saídas
cercou-te em pedaços de nada
ficaste presa na tua própria armadilha
na fronte
tinhas um cartaz publicitário do fracasso
mas as nossas mãos viajaram no piano
à procura da lua
que em breve irias pisar
montados nas palavras
facas que rasgaram
as sombras dos teus medos
ajudei-te a fugir através do bosque dos sons
mas as notas eram flechas
que esbarravam
nos muros de água
que teimavam em te abraçar
faiscavam retrocediam
e caíam nas lágrimas da tua destruição
dós sem sol capitulavam enlouquecidos
nas catapultas que vazavam angústias sem fim
de ti em mim
de um fim de tarde
nunca sentido ferido sitiado
entre muralhas e dardos
angústias desvendadas por chispas
que se extinguiam em mares sem rios
em rios sem nascentes
em lagos verticais acordados
de estios e de tédios
do teu sono sem ondas
mas
como afogados
agarrámo-nos a uma nota
que saiu distraída com asas
filha pródiga dissonante à procura de aventura
voámos
fugiste para além do cerco dos sonhos
que não tinhas
até que tudo se dissipou
na distância
da floresta mágica de sons
pudeste então sorrir
soubeste pisar a lua
e
no sol que concebeste
finalmente
viste que nada mudou na criança que há em ti
Possa sempre haver réstias de sol e lua a brilhar na criança que está em nós, ainda que nos chova de vez em quando.
ResponderEliminarBeijinhos, amigo Jaime!