Vimos de longe, de muito longe,
com as mentes perfumadas pelos dilúviosque sorvemos com o hálito na pele,
abençoados por fragrâncias
de maresias que nos alimentaram
em rotas de ventos risonhos.
Vimos de longe, de muito longe,
a bordo de uma nau
com a linha de água submersa pela carga
dos contentores da fortuna
estivada nos porões, tesouro que carregámos
com as retinas cheias de nós.
Vimos de longe, de muito longe,
com limo e ostras na rabada
de cruzar um mar convulso de vozes
e algas sem norte na quilha da nossa firmeza,
à vela de um farol
lastrado na paz dos sentidos do olhar.
Vamos p’ra longe, p’ra muito longe,
a navegar no fado em que nós cremos,
dobraremos os cabos
das tormentas de nós mesmos.
Jaime Portela