Em cada momento,
conheces da vida a
candura dos afectos,
sempre desvendados
pelo nariz atrevido de
ateia cristã
e embalsamados em sonhos
na retina,
visíveis pelo brilho entrelaçado
nos teus olhos.
É o agora a silenciar o
depois…
Vacilando entre a luz e
as sombras,
viajas com os olhos
por entre a chegada em
alvoroço
e a partida de afogo
insuportável,
com a boca ferrada na
dança dos corpos
a embalar o inadiável,
numa cama de metáforas
onde te deito
e te amo.
O deslumbre da Primavera
é o tempo de içar velas na
certeza
de marearmos na esteira
da estrela cicerone,
que de nós tão
companheira
nos guia de mãos dadas.
Caminhamos na cumplicidade
de passados dispersos,
beijamos a pele de uvas
maduras
de paladares antigos,
renovados na paz dos
frutos silvestres
saboreados com o mosto
que no corpo fermenta.
Navegamos na embriaguez a
projetar-se,
lenta e voluptuosa,
na ternura tatuada do
desejo sem saída,
acerejada no incêndio festivo
do teu botão de rosa
em inúteis espinhos
escondido,
que afago em gestos
finos,
numa partilha em dádivas
prementes concebida.
Para nós,
a vida pode ser eterna e mansa,
sem pressa, sem sustos ou
medos de criança…