Gosto de escrever para
me desprender,
fazendo coisa
diferente e mais leve
do que faço pelo
dever.
Mas hoje as palavras
acenam-me
com o peso vital da
razão
e estendem-me
[mandantes e
revoltadas]
a avenida do triste
enfado da pátria,
a passadeira do
negrume da crise
e a diária deturpação
da notícia.
As palavras incriminam
a algazarra
que dissimula o
culpado,
mas naufragam [ignoradas]
na vozearia avidamente
trincada
até se esmigalharem em
escândalos
e em linchamentos na
praça pública.
Para gáudio de um povo
necrófago,
na curiosidade mórbida
de ver o acidente na
estrada,
alimentamos shares e
audiências
de tudo o que é
tabloide.
Seremos nós [maldito
fado]
para sempre viciados
no consumo de uma
oferta
em doses cada vez mais
virulentas?