Podes
pensar que apenas tu
continuas
tristemente incomodado
e
que, na insana pátria
que
te esbulha e troca as voltas,
o
travo amargo na garganta te magoa.
Podes
pensar que apenas tu
és
um brilho na penumbra fustigado
e
que, nas vinte e quatro horas que te mirram,
cada
minuto é uma ordem
para
escorraçar os que te esmagam.
Podes
pensar que apenas tu
és
andorinha de esperança migratória
e
que, dado o vagar do fogo finalmente a crepitar,
cada
medida que te explora
é
mais uma acha lançada para a fogueira.
Podes
pensar que apenas tu és sofredor,
mas
olha à tua volta
que
verás milhões de espoliados
a
espumar na lividez que os amordaça
com
o basta que se esfuma acobardado.
© Jaime Portela, Março de 2019
*** Poema inspirado nos tempos em que quase não havia greves (Troika/Passos Coelho/Cristas/Gaspar/etc.)***