Já caminhei descuidado, em paz,
mas numa luta furtiva contra a ordem, corrupta,
da ditadura que se desmoronou antes da revolta.
Passeei-me pela guerra, amena,
de gritos embriagados na desordem de processos
de revoluções em curso jamais alcançadas.
Também fui fugitivo de práticas embotadas,
de tantas rezas estéreis como de juras surdas ao
juízo
em confrarias fartas de talentos boçais.
Até passei fome de palavras interditas,
que não de sardinhas, que não de pão,
ainda que não soubesse pescar
nem tivesse provado o pão que o diabo amassou.
Agora, espero por ti, democraticamente, sem paz
nem revolta, sem rezas nem clamores de antigamente,
sem direito à fome que tenho do teu olhar
de Maria espontânea, ainda que não tenhas o dever
de iluminar o nosso azul sempre inacabado.
Até lá, resta-me o sol que a tua sombra incendeia.