Se o silêncio nos agride
ao escutarmos
a malquerença vestida sem
palavras,
somos punidos por tenazes
agrilhoadas aos pulsos emudecidos.
Nesta prisão, se
voluntária e apática,
a luz, desonesta,
finta-nos pelos apagados
buracos da grade
onde não cabe aceso um
fio de revolta.
E a nossa indolência,
quiçá indigência,
vagueia alucinada,
parecendo serena,
pelo ar pesado que nos
tolhe os pulmões,
submersos no plágio
mental
da nossa carne servil.
Mas, se em nós houver
qualquer virtude plasmada
no fígado,
seja na fresca sorte da
chuva
ou no quente quebranto do
vento,
só quebrando a frescura do
silêncio agressor
para então ouvir as palavras
despidas.
Jaime Portela