Quando a noite chegar,
do ser ficará o corpo inconsciente
[será o vento a largá-lo à sua sorte],
deixaremos de contemplar o verde
e seremos incapazes de tocar o céu,
porque a paisagem
fugirá lentamente das retinas.
Quando a noite chegar,
a carne beijará o chão até ser terra
e os ossos, mais teimosos,
depois de se diluírem na chuva
em contínua viagem para o rio,
acabarão por ser despejados no leito
confundidos no musgo e na lama,
alimentando peixes.
Por isso,
enquanto não viajamos amorfos,
quero beijar a tua boca agora ardente
e provar todas as delícias
que há no mar do teu corpo ainda vivo,
de lábios por dois desejos unidos
num só abraço, num só poema cônscio.