Dos astros que ofuscam a nossa claridade,
seremos o eclipse, ressurgindo únicos
da curta borrasca do tempo,
para reacendermos o brio anavalhado
por autópsias sucessivas do que fomos.
Até então embalsamado em rotinas
de caminhos minados, o nosso sangue
fará praias das falésias traiçoeiras,
sem o medo de sermos dissecados
pelos bisturis intolerantes do despeito.
Adestraremos asas em voos rasantes
ao triângulo das Bermudas e, arrebatados,
gozaremos o caos
sem nos atarmos
aos sargaços das águas infetadas e
dolosamente mansas da resignação.
Se vida houver para além da morte,
será o tempo da demora preguiçosa
das minhas mãos no rosto do teu jeito,
o tempo de desenhar com os meus lábios
uma flor na tua boca eternamente verde
e de a fazer crescer no horto do teu peito.