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quinta-feira, 19 de janeiro de 2023

Mãos [470]

 


Tenho saudades

dos comboios a vapor

e da bisca lambida

na praça cheia de mirones e pombos

com as mãos atrás das costas.

 

E tenho saudades

dos carrinhos de folha

e de brincar ao réu-réu

com as meninas da praça

cheia de mãos

não quietas atrás das costas.

 

E também tenho saudades

de viajar por rios nunca antes navegados

na valeta da estrada

com barquinhos feitos à mão.

 

E até tenho saudades

de trocar o meu leite com cevada

pela gordurenta água d’unto

do meu vizinho

na rua das mãos sem gordura.

 

Mas não tenho saudades

da ditadura do Salazar

nem dos professores

das reguadas prepotentes

nas mãos humilhadas.

 

E também não tenho saudades

da sopa dos pobres

da abastada caridadezinha

nem das meias sardinhas

no mar de mãos sem comida.

 

© Jaime Portela, Janeiro de 2023


39 comentários:

Cláudia disse...

Perfeito! Os meus parabéns, mais uma vez. Excelente escrita :)

Bom dia!

" R y k @ r d o " disse...

Um poema lindo, comovente, sobre a saudade, que me fez lembrar outros tempos. Felizmente que muito mudou embora não tudo.

Cumprimentos e feliz resto de semana

chica disse...

Saudades lindas das coisas que te agradavam e nenhuma saudade das outras... Linda poesia! abração, chica

Janita disse...

Poema feito de Saudade...Mas não de uma saudade qualquer, até porque todos temos o nosso próprio jeito de sentir saudades! Tão natural, como natural é cada um de nós ter tido as suas próprias vivências.

Saudade, é sentir a falta
Das coisas que já vivemos
A não-saudade é sentida
Das coisas por nós vividas
E de bom grado dissemos adeus.

O Jaime vai desculpar expressar-me em modo 'poético', mas creio que, desta forma, consigo dizer melhor o que penso, com menos palavras, ou não! :))

Um abraço, amigo Jaime.

Tais Luso de Carvalho disse...

Olá, amigo Jaime, poema muito triste,
mas verdadeiro como é o mundo dos infelizes,
ora aqui, ora acolá, espalhados por todo o planeta.
E por ter lido todas as verdades, digo a você: belíssimo!
Beijo, uma ótima quinta-feira!

Porventura escrevo disse...

Mãos.
A nossa porta para o mundo.
Gostei.

Fatyma Silva disse...

Que lindo poema, amigo Jaime!
Saudades das coisas boas e apenas lembranças das que não nos fazem bem!
Agora me veio a saudade de nadar no rio com meu pai e meus irmãos, tempo que passa igual as águas de um rio...
Obrigada pela partilha!
Um abraço.

Rajani Rehana disse...

Great blog

Ailime disse...

Bom dia Jaime,
Um poema magnífico!
Ninguém tem saudades dos tempos salazarentos!
Beijinhos e um ótimo dia.
Ailime

silvia de angelis disse...

Notevoli osservazioni poetiche che ho molto apprezzato.
Un caro saluto,silvia

AMALIA disse...

Un poema muy bueno y emocionante. Hermoso.
Un abrazo

ematejoca disse...

A alma portuguesa é alimentada de SAUDADE.
Alimentar a saudade é absolutamente legítimo … mas temos de viver olhando para a frente.
Gostei de ler o poema, desejando ao autor uma semana em beleza com ou sem SAUDADES.

Marta Vinhais disse...

Saudades de tanta coisa...que vive apenas na memória de cada um...
Obrigada pela visita
Beijos e abraços
Marta

Roselia Bezerra disse...

Boa tarde de paz, amigo Jaime!
Gostei muito das abordagens do que valeu a pena pela vida afora.
Os não tão bons fatos deu vazão a um ser humano muito mais forte, certamente.
Graças a Deus nunca dei reguada nos alunos. Que era horrorosa!
Tenha dias abençoados!
Abraços fraternos

Mário Margaride disse...

São sempre muito saudáveis estas memórias de tempos passados.
Excelente poema, caro amigo Jaime.
Gostei muito.
Votos de continuação de ótima semana.
Abraço amigo.

Mário Margaride

http://poesiaaquiesta.blogspot.com

Lucinalva disse...

Bom dia, Jaime
Lindo poema, a saudade sempre está presente em nossas vidas, um forte abraço.

Cidália Ferreira disse...

Um poema forte, cheio de verdades de outrora!!
.
A melancolia é nefasta ...
.
Beijos. Boa tarde.

Caterina disse...

Bellissima poesia! Bravissimo, come sempre, amico Jaime. Un grande abbraccio!

Kalinka disse...


Tenho saudades
dos comboios a vapor
...
Gosto de MÃOS e de tbm as fotografar

AMIGO JAIME
venho agradecer a sua visita ao meu blog
e das suas palavras!
volto cá....hoje
para convidar a uma partilha de um
MOMENTO PERFEITO na minha vida!
no meu post mais recente, aqui:
http://momentos-perfeitos.blogspot.com/

tomara que goste, leia a minha história
contei tudo tal e qual como aconteceu
beijinhos da Tulipa

teresadias disse...

EXCELENTE poema, amigo Jaime.
Também eu tenho saudades de tantas mas tantas coisas, mas como não sei poetizar... nas as revelo.
Beijo, saúde.

A Casa Madeira disse...

Oi jaime tudo bem? nesse lado de cá?
Sim temos que lembrar sempre...
Para não cairmos nos mesmos erros.
A memória nos mantem vivos.
Abraços.

Elvira Carvalho disse...

Não tenho saudades dos tempos de miséria e ditadura. Não tenho saudades das mãos gretadas das frieiras, das batatas cozidas com batatas, dos vestidos puídos, das tamancas de madeira, das noites com frio sob mantes de trapos que pesavam mas não geravam calor. Muito menos do vento frio que passava entre as tábuas do velho barracão como rugindo zangado.
Não tenho saudades, da fome nem do medo que obrigava meus pais a sofrer em silêncio a miséria que convivia connosco.
Abraço e saúde

J.P. Alexander disse...

Triste y melancólico poema. Te mando un beso.

Pedro Coimbra disse...

Sou pouco dado a saudades.
Tenho saudades do futuro, talvez.
Abraço, bfds

Graça Pires disse...

Ter saudades daquilo que nos tocou o coração. O resto não queremos mais, meu Amigo Jaime. Muito bom, o seu poema.
Tudo de bom para si.
Um beijo.

Duarte disse...

Jaime, por momentos fizeste-me retroceder no tempo e fui feliz.
Também tenho saudades daqueles locomotivas a vapor que soltavam fumo por todos os lados, mais por cima que por baixo e em que tons! Menos da régua, mas que também ensinava.
Todo um passado que escreves maravilhosamente e que deixou SAUDADES.
Grande abraço de vida

A Paixão da Isa disse...

saudades é o que temos mais amigo lindo poema bjs feliz fim de semana saude

Guma disse...

O poema deixa-me a pensar na capacidade humana de no meio de tanta coisa menos boa, tanta miséria ao tempo, mas conseguir ressalvar um tanto de coisas boas, que foram as raízes do que se é, e que continuam a enriquecer o presente com essas lembranças.
Kandando, bom fim de semana.

Mário Margaride disse...

Olá, caro amigo Jaime,
Passando por aqui, relendo este excelente poema que muito gostei, e desejar um feliz fim de semana, com muita saúde.
Abraço amigo.

Mário Margaride

http://poesiaaquiesta.blogspot.com

Majo Dutra disse...

~~~
SORRISOS...
Saudações poéticas...
~~~~~~~

Os olhares da Gracinha! disse...

Há saudades que nos fazem sorrir...outras chorar...algumas até esquecer!... Bom fim-de-semana 😘👏

Olinda Melo disse...

Um poema bem ao nosso jeito, caro Jaime. Em cada verso, em cada conjunto de palavras encontramos inscritas situações com as quais nos identificamos. Saudade, vocábulo sempre presente, fio condutor que nos conta a história de um tempo composto de coisas boas e daquelas que não queremos voltar a viver.
Inspirador, meu amigo.
Abraço
Olinda

SOL da Esteva disse...

Poema de intervenção com conteúdo e linha. Saudades... Pois.
Parabéns pela excelência de escrita.

Abraço
SOL da Esteva

stella disse...

Solo extrañamos hasta doler, las cosas gratas que nos hicieron felices a pesar de lo que había en nuestra contra, un poema para tener presente querido poeta
Un abrazo
Carmen

Lucia disse...

Olá Jaime.
São tantas as saudades.
Daquilo que nos faz e fazia feliz.
Não tenho saudade do sofrer...
Boa noite, bom final de semana.
Beijo!

Regina Graça disse...

Certo, as palmatórias nas escolas eram de uma violência atroz. Receio no entanto é o ensino actual, também não vá deixar saudades nas gerações vindouras.

Fora isso, gostei do poema!

Beijinhos, bom domingo...

Fá menor disse...

Há sempre coisas que nos deixam saudades e a que é difícil, senão impossível, voltar.
Mas... as que não nos deixam saudades nenhumas parece que nos perseguem como sombras...

Beijinhos, amigo Jaime! Boa semana!

Malania Nashki disse...

Es muy común ver manos vacías no solo sin comida sino también tienen necesidad de otras cosas.
Muy bonito poema.
Que tengas un lindo día domingo.
Abrazo enorme.

Ana Freire disse...

E ainda há tanta gente desse tempo, que acha que a sardinha para três... era um mito da época... sempre houveram grandes clivagens...
Não fui desse tempo... mas sempre ouvi falar muito dele, pelos meus avós e pela minha mãe... apesar de também ela ter sido poupada, a muitos dos contrastes dessa época...
Gostei de percorrer esta viagem no tempo, que de alguma forma, também me é muito familiar...
Beijinhos
Ana