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segunda-feira, 11 de março de 2024

Cartas de amor [551]

 


O balde está quase cheio e o cheiro,

nauseabundo,

dorme na minha insónia como se fosse uma faca

a perfurar-me os miolos.

Ontem sujei os dedos e não havia jornal.

Limpei-os à parede.

Não tinha alternativa,

queria escrever-te com as mãos limpas,

mas levei dois pontapés

para aprender a ser limpo e educado.

Hoje deviam louvar-me,

despejei o balde para o chão, civilizadamente,

e enfiei-o na minha cabeça.

Perceberam a mensagem,

levaram-me ao psicólogo

e respirei ar quase puro durante uma hora

a explicar-lhe que eu era um preso político.

De volta à cela, passei ao nível 2:

despejei o balde em cima do guarda.

Depois disso,

fiquei sem mais vidas para gastar:

acorrentaram-me, sem balde, na solitária,

e apreenderam as nossas cartas de amor.

 

© Jaime Portela, Março de 2024


47 comentários:

Pedro Coimbra disse...

Não foi um balde de água fria para mim, confesso.
Só surpreso com os valores do ADN.
Espero que seja mesmo só confusão...
Abraço, boa semana

Janita disse...

No cerne de tanta desdita, creio bem que, para o recluso, a maior de todas foi a apreensão das cartas de amor.
Pudera! Eram elas que lhe serviam de lenitivo para tanta dor...

No fundo, amigo Jaime, a mensagem de hoje é que a vida não passa de um grande balde de m****?!

Beijinhos.

chica disse...

Nooooossa!Aplaudo tua inspiração! As cartas de amor são lindas e detalhadas e no caso, creio a última ter sido...Em período tão triste , o preso político jogar um balde no carcereiro...Podemos bem imaginar o final...abração, ótima semana! chica

AMALIA disse...

Tu poema de hoy es muy profundo y muy bueno.
Me encantó comenzar la semana con tus bellas letras.
Un abrazo.

Cláudia disse...

Gostei, meio confuso mas gostei :)

Feliz semana

Daniele Verzetti il Rockpoeta® disse...

Struggente, forte, sociale e d'amore. Tutto quello che cerco in una poesia è qui in questa tua straordinaria lirica.

Porventura escrevo disse...

Fortw e intenso como um murro no estomago o poema, jaime
Abraço

Roselia Bezerra disse...

Olá, amigo Jaime!
Muito profundo seu poema que colhe sensações, emoções e realidades bem atuais...
O Amor quase está a ser condenado à cadeira elétrica...
Quando desamor reina no mundo.
Daqui a um tempo, amar será 'pecado' (erro no alvo).
Aplausos para sua intensa inspiração.
Tenha uma nova semana abençoada!
Abraços fraternos de paz

ematejoca disse...

Pior do que o tempo chuvoso foi a balde de água fria que o Jaime recebeu ontem à noite — mas o povo é quem mais ordena …

Poema admirável que expressa o desespero do poeta.

Abraço da amiga cansada após a grande noite eleitoral com dois vencedores: o CHEGA e o LIVRE 🇵🇹

Marta Vinhais disse...

Quando tudo se perde...numa guerra suja e devastadora....
Interessante...
Beijos e abraços
Marta

silvia de angelis disse...

Un cantico davvero denso di speciali immagini e molto significativo.
Buona settimana e un caro saluto

Graça Pires disse...

Eu sei em cima de quem devias despejar o balde.
Uma boa semana. Um beijo

Andrea Giovanna disse...

Forte, intenso poema. Retrata o que muitos devem ter vivenciado. Parabéns pela criatividade, bjs

São disse...

Deveria acontecer isso aos idiotas que elegeram quarenta e seis deputados da extrema-direita !!

Forte abraço, meu amigo, boa semana.

Regina Graça disse...

Há sempre um lado positivo, neste caso, ainda bem que não havia jornal.

Calma, meu Poeta...

Nesta semana não lhe falte papel limpinho para continuar a escrever cartas de amor

Beijinhos

Vivir y dejar Vivir...Liz disse...

Jaime, bello y profundo poema, para pensar
Querido amigo que tengas un bello inicio de semana
Abrazos y besos

Fá menor disse...

Subtraem-nos as cartas de amor e tudo o resto...

Que não nos subtraiam a Esperança!


Beijinhos e boa semana, amigo Jaime!

Ailime disse...

Boa tarde Jaime,
Um poema excelente que de certo modo muitos de nós dão uma interpretação que nos remete para os factos de ontem!
Concordo com a São.
Beijinhos e boa semana.
Emília

brancas nuvens negras disse...

Um poema cheio de metáforas, a marcar o momento temido e que inicia um período de desdita para os que fizeram da prisão a matéria de luta pela liberdade. Os povos estão a ser impedidos de pensar
Um abraço.

" R y k @ r d o " disse...

Profundo, intenso, fascinante de ler.
.
Saudações poéticas e amigas
.
Poema: “ É doce Viver o Amor “
.

Mário Margaride disse...

Olá amigo Jaime,
Poema duro e cruel. Que realça a desilusão de ser incapaz de mudar a realidade que nos encerra nesta prisão, que é a nossa existência. Excelente!
Aproveito para desejar uma feliz semana, com tudo de bom.

Abraço amigo

Mário Margaride

http://poesiaaquiesta.blogspot.com
https://soltaastuaspalavras.blogspot.com/

Cidália Ferreira disse...

Bastante profundo. Adorei!!
.
Soltam-se os ventos...
Beijos. Votos de uma excelente semana.

Silent Movie - ©Theda Bara disse...

A poem that brings in its words all the emotional charge due to the political events in his country.
(ꈍᴗꈍ) Poetic and cinematographic greetings.

J.P. Alexander disse...

Profundo e intenso poema. El amor siempre nos confunde y alegra y nos hace sufrir. Te mando un beso.

Olinda Melo disse...


Mon Dieu!
"Cartas de amor quem as não tem", dizia o nosso romântico maior.
Mas, nem com cartas de amor lá vai, mas ao menos ficam de recordação.

O seu poema é forte e dá-nos uma ideia do que é sujidade e descrença.
E lá vamos nós neste vale de lágrimas...

Boa semana, caro Jaime.

Abraço
Olinda

Juvenal Nunes disse...

Um preso político a quem apreenderam as cartas de amor.
Pensei que os dirigentes políticos estivessem mais preocupados com elementos subservivos.
Pelo menos, liberdade para amar...
Abraço de amizade.
Juvenal Nunes

teresadias disse...

O culpado disto tudo acrescenta mais uma nódoa ao seu legado governativo.
Poema corajoso e lúcido, meu amigo Jaime. Uma exasperação inteiramente compreensível.
Beijo, boa semana.


L e n a disse...


Poema que surpreende logo nas primeiras linhas
e que nos descreve o que sentimos neste momento em Portugal.
e é o que está acontecendo pela a Europa.

Beijinhos

Boa semana !

Anete disse...

Uau, muita profundidade e reflexão... O amor vence sempre e carta amorosa fala alto e em bom tom... Muitíssima inspiração, Jaime.
Meu abraço

JoAnna disse...

Caro amigo, eu sempre acho interessantes, poemas não convencionais em seus poemas que eu gosto muito. Thank you very much! Have a great week, Jaime.

Maria Rodrigues disse...

Um poema poderoso, profundo e sentido.
Essas cartas de amor, eram um raio de luz e esperança, no meio das tormentas.
Beijinhos

Ana Tapadas disse...

Meu amigo,
que prevaleça o amor.
Excelente poema a decalcar uma realidade muito difícil de aceitar...estou como a Graça!
Um beijo

Lucia disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Lucia disse...

Olá caro Jaime
Um bonito poema
Às vezes chutar o balde é bom
Quando acontece de se tirar o bem maior que se tinha no momento.
Boa Noite 🌙 caro poeta
Beijo 💋

lis disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
lis disse...

Calma, Jaime
Vamos recuperar essas cartas de amor e deixar a tropa passar...
Esse é o perfil do mundo.
Mesmo que nos acorrente havemos de amar muito e escrever muito !
Assim, crajosamente!
Abraço,Jaime abraço abraço mil abraços

Vivir y dejar Vivir...Liz disse...

Amigo te dejo un saludo y te deseo un bello día.
Abrazos y besos

Anónimo disse...

Um baldé também

Anónimo disse...

Um balde, também, por cima de cada absentionista...
Excelente poema de intervenção, Poeta amigo.
Beijinhos.
Majo Dutra

Mário Margaride disse...

Olá, amiga Jaime,
Passando por aqui, relendo este excelente poema que muito gostei, e desejar um feliz fim de semana, com tudo de bom.

Abraço amigo

Mário Margaride


http://poesiaaquiesta.blogspot.com
https://soltaastuaspalavras.blogspot.com/

RÔ - MEU DIÁRIO disse...

Acredito que poesia não precisa ter explicação. É importante nos faz bem e a sua poesia me faz bem. Bju

Emília Pinto disse...

Depois de uma queda desamparada no precipício, vem outra desgraça, onde nem as cartas de amor se salvam. Mas o amor vence sempre dizemos nós, mas não é bem assim; se assim fosse, com tanta gente boa, neste mundo, não veríamos tanta miséria humana, tanta criança com fome, tantas guerras, tanto desperdício, tanta malvadez com a mãe natureza; o amor sempre vence e nem sempre, nos casais, entre pais e filhos, enfim....nas familias, mas, de resto, Amigo, " é conversa fiada " como diz o nosso povo. O nosso país está a passar por um momento dificil e vamos lá ver o que farão os nossos novos governantes a favor do povo. Creio que vai ser como sempre...primeiro os seus interesses e depois os nossos. Parece que quisemos mudanças, segundo dizem os senhores comentadores, mas por mais que se mude, nada se altera. Sabes o que penso, Jaime, os verdadeiros lideres acabaram ou estão em vias de extinção e, assim sendo, o melhor é agarrarmo-nos bem para não cairmos ribanceira abaixo. A ver vamos...
Um beijinho e saúde
Emilia

SOL da Esteva disse...

Magnífico poema, muito profundo e bom. Cartas de Amor... pois! O Amor é fogo.
Parabéns, Jaime.


Abraço,
SOL da Esteva

Betonicou disse...

Seu poema é uma poderosa expressão de desafio e as consequências de enfrentar a injustiça. Sempre muito criativo e talentoso, amigo Jaime. Grande abraço.

Tais Luso de Carvalho disse...

Eu sei, Jaime, acompanhamos tudo aqui pela TV, vivemos experiências iguais, amigo, nada dá certo, ou muito pouco, é só desilusão, mas não tem jeito, é enfrentar pois tais desatinos veremos e sentiremos sempre.
Um poema forte, amargo, mas como dizem nossos irmãos portugueses...
BORAL Á!!
Um feliz domingo de paz!
Aqui, tudo igualzinho...a desilusão é a mesma seja A ou B.

Beijo

Olavo Marques disse...

Olá caro Jaime!

Confesso que fiquei na dúvida quanto que queria transmitir com o poema...

Portanto, trata-se um um preso apaixonado que está a passar por momentos de loucura por não conseguir escrever as cartas de amor?

Aguardo resposta 😅

Abraços 🤗

Parapeito disse...

Olá Jaime*
Que poema forte.
Podem tirar-nos a liberdade, as cartas da amor, mas nunca a capacidade de sonhar.
Deixo aqui um "recado" que vi na pagina da Ana Portugal, de Amadeu Baptista : E agora o que faremos ? Poesia, esses canalhas não suportam poesia .
Deixo abraço e brisas doces (que ninguém acorrenta) **