Translater

segunda-feira, 13 de maio de 2024

Feijões fervidos [560]

 


Os quadros são mais surrealistas

que as telas do Salvador Dali

e a procura desusada

do rosto da culpa sem mãos

é uma agulha num palheiro em chamas.

 

Os jogos de cores distorcidas

burlam os óculos

presos a espelhos côncavos

impingidos pelo grande masturbador

para encaixilhar a visão

na verdade mais conveniente.

 

E, apesar da alta definição do plasma,

as imagens perdem-se

na miopia causada pelas palavras de lama

e o som é tão mau

que nem a linguagem dos surdos,

ou mesmo Beethoven,

o conseguem explicar.

 

Desisto da construção mole com feijões fervidos,

vou ler de novo o Crime do Padre Amaro

(já sei quem é o culpado)

ou o Canto IX dos Lusíadas

e descobrir onde é a Ilha dos Amores.

 

© Jaime Portela, Maio de 2024


42 comentários:

Jaime Portela disse...

NOTA:

- O grande masturbador
- Construção mole com feijões fervidos

São títulos de pinturas de Salvador Dali

Juvenal Nunes disse...

Na vida temos todos necessidade desse refúgio, a Ilha dos Amores.
Abraço de amizade.
Juvenal Nunes

Daniele Verzetti il Rockpoeta® disse...

Standing ovation è tra le più belle che tu abbia pubblicato qui sul tuo blog

Pedro Coimbra disse...

De feijões fervidos eu gosto.
Muito.
De manipuladores é que não gosto nadinha.
Abraço, boa semana

Janita disse...

Parece-me uma crítica às cenas reais que vão acontecendo nos dias que correm e nem Dali, como todo o seu espírito surrealista, conseguiria pintar melhor.
Premonições à parte, os versos finais dizem tudo ou quase tudo, sobre os absurdos a que vamos assistindo por nos entrarem pela casa, queiramos ou não.
E Vivam os verdadeiros Amores!! :)

Um abraço, Jaime.

Cláudia disse...

Só grandes nomes!
Gostei

Boa semana

Silent Movie - ©Theda Bara disse...

The truth is that we like to be popular and erudite in this world full of surrealist metaphors.
(ꈍᴗꈍ) Poetic and cinematographic greetings.

Meulen disse...

Lo importante es quedarse con aquellos, o aquello que nos edifica como persona cada día...
Buena semana.

Graça Pires disse...

Refugiarmo-nos na leitura em vez de estarmos a olhar o ecrã onde parece que andam todos à bulha, a ver quem fala mais grosso, é uma boa solução.
Uma boa semana.
Um beijo.

Ailime disse...

Boa tarde Jaime,
Um poema magnífico que me deixou a pensar no que vou ouvindo e vendo sobre a atualidade do nosso cantinho.
A travessia da barreira do som não é fácil!
Um poema muito inspirado e bem construído.
Beijinhos e uma boa semana.
Emília

Marta Vinhais disse...

Nada explica os ditos e os desditos...
Talvez se consiga descobrir onde é a Ilha dos Amores ou como voar perto do Sol sem cair ao Mar...
Belo...
Beijos e abraços
Marta

Porventura escrevo disse...

Dali é sempre, será sempre uma inspiração 🙂

Mário Margaride disse...

Não é mau feijões feridos, e melhor ainda a ilha dos amores.
Agora, os falsos profetas, é fugir deles!
Excelente poema, amigo Jaime!
Gostei muito.
Abraço amigo e feliz semana.

Mário Margaride

http://poesiaaquiesta.blogspot.com
https://soltaastuaspalavras.blogspot.com

ematejoca disse...

Salvador Dali um génio excêntrico e antidemocrático.
Poema brilhante como sempre.

Quem lê Eça de Queiroz e Luís Vaz de Camões não sofre de fobias.
Em Julho „da amiga do Douro“
Até lá, um abraço das margens do Reno.

silvia de angelis disse...

Spunti davvero originalissimi in questo cantico letto con piacere, e molto apprezzato.
Buona settimana e un saluto

AMALIA disse...

Qué buen poema!!!!.
Te deseo una feliz semana.
Un abrazo.

Os olhares da Gracinha! disse...

Arte implícita em boa poesia 👏😘

Roselia Bezerra disse...

Boa tardinha de Paz, amigo Jaime!
Façamos nossa "Ilha do Amor" aberta ao que é bom, verdadeiro e belo.
Tenha uma nova semana abençoada!
Abraços fraternos de paz

Lucia disse...

Olá caro Jaime.
Gostei imenso do seu poema
Boa semana pra você, poeta.
Beijo!

Lucia disse...

Olá caro Jaime
Gostei imenso do seu poema.
Boa semana pra você.
Beijo!

❦ Cléia Fialho ❦ disse...

Intenso versar, e muito interesante essa "Ilha do amor".
Beijos carinhosos em seu coração poético.

https://sensualidadeeerotimo.blogspot.com/

Betonicou disse...

Caro amigo Jaime, sua habilidade em tecer palavras cria um tapeçaria rica em imagens e emoções. A maneira como você descreve a arte e a realidade entrelaçadas é profundamente evocativa e nos convida a refletir sobre a verdade que escolhemos ver. Uma verdadeira viagem pela complexidade da percepção humana. Bravíssimo! Abraço.

J.P. Alexander disse...

Me gusto el poema. Tan profundo te hace reflexionar. Te mando un beso.

São disse...

Gosto muito de Dali , mas desconhecia esses títulos.

Do teu poema , também gostei muito.

Abraço, meu amigo, boa semana.

Artes e escritas disse...

Ah, fiz uma pregação a respeito do pecado e do erro. Louvado seja Deus. Foi longo e profícuo. Para quem acredita até mesmo em Dharma e Karma, e o levou em consideração. Não vou repetir aqui. Peço que algum missionário leve ao ser humano que o queira ouvir. Um abraço, Yayá.

brancas nuvens negras disse...

Um poema oportuno referindo o lixo que as televisões nos largam na nossa casa, julgo que com referência ao intragável Festival de "Canções" da Eurovisão .
Antes a leitura, concordo.
Um abraço.

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

boa tarde JP

Gostei da originalidade do poema.
E como falamos de Dali, deixo aqui um pensamento dele.

“Há alguns dias que eu penso que vou morrer de overdose de satisfação.”

Boa semana.
:)

teresadias disse...

O excêntrico Dali a inspirar o poeta... Lindo de ver, ou melhor, de ler.
Há muito que cansei de tanta berraria. Ignoro, e continuo lendo.

Querido amigo Jaime, li no blogue da Teresa que não conheces a obra de
Afonso Reis Cabral, bisneto do nosso grande Eça de Queirós. Para te estimular a leres «O meu irmão» o seu primeiro e extraordinária romance, Prémio Leya 2014, deixo-te o link duma publicação no meu Rol de Leituras (recordas?):

https://roldeleituras.blogspot.com/2015/03/o-meu-irmao-afonso-reis-cabral.html

Beijo, boa semana.

Olinda Melo disse...


Contundente mas necessário, amigo Jaime.
Neste de mundo de grande estupidez vale
citar grandes autores que, com as suas
obras, tentaram mostrar os caminhos
perigosos por onde a humanidade seguia.
E continuamos por aí fora, impávidos e
serenos, surdos a tudo o que não seja a
nossa imensa prosápia.
Boa semana.
Abraço
Olinda

Duarte disse...

Boa ideia, às vezes convém distrair a mente com a leitura adecuada e deixar de navegar em mares pouco praticáveis.
Gosto dos feijões fervidos num bom prato aqui da terra "arroz, fesols y naps" (Arroz, feijões e nabos; mas também com carne de porco.)
Grande abraço

Emília Pinto disse...

São tantos os disparates que vemos na televisão, tanta desgraça e miséria humana que bem apetece jogar no " plasma" uma boa manada de feijões fervidos, mas depois, Jaime? Teria de comprar outro e....os subsídios não chegam para tudo, mesmo tendo sido prometidos vezes sem conta; melhor será pressionar o " off " e ocupar a mente com outras coisas, por exemplo, visitar o tal rio sem margens e, já que elas não existem, procuremos uma pedrinha no meio das águas e, bem sentadinhos, desfrutemos de uma boa leitura, seja de poesia ou de prosa. E no dia seguinte? De novo leitura? Mantenho a minha televisão sempre desligada, mas à hora das noticias começa o trabalho dela e, mais uma vez, a mesma vontade, ou os feijões fervidos" ou o " off " e a escolha tem de ser a última. Triste, Amigo, decepcionante o trabalho dos que nos devem informar e pior o trabalho daqueles que nos governam. Mas, há sempre um poema para nos divertir e este teu, Jaime, fez duas coisas...rir e reflectir. Obrigada! Beijinhos e cuidado com os feijões...podes escorregar...
Emilia

Maria Rodrigues disse...

Fantástico poema!
Beijinhos

maré disse...

Enxames de varejas
zoando, aspirando a pureza do ar
que resta ao que aspira à lucidez
à clareza da razão.
Mosca, vareja ou zangão
invasores sem redenção.

Talvez Dali lhes conseguisse uma transformadora imagética, quem sabe…
Cabe-nos a arte da fuga e arranjar maneira de restituir ao nosso espaço interior, “a casa”
onde coexistimos pacificamente. Creio que foi Albert Camus que disse que a questão mais premente do nosso tempo é cada homem descobrir onde é a sua casa. Que quereria dizer Camus com isto? Que se torna imperioso procurar a Ilha dos Amores?!


Um beijo para si.

Mário Margaride disse...

Olá, amigo Jaime,
Passando por aqui, relendo este belo poema que muito gostei, e desejar um bom fim de semana.
Abraço amigo

Mário Margaride

http://poesiaaquiesta.blogspot.com
https://soltaastuaspalavras.blogspot.com

JoAnna disse...

Bom dia, meu amigo. Só estou a escrever um comentário agora, porque não tive sequer um momento de descanso esta semana, mas li o poema na terça-feira e gosto muito. Enfim, todos os seus poemas chegam até mim. Gosto das pinturas de Dalí e da música de Beethoven. Envio cordialidade, tenha um bom fim de semana!

Ana Tapadas disse...

Escondemo-nos por aí, na Arte...mas os tempos são difíceis.

Sou louca por Dalí e a Literatura foi o meu trabalho e é ainda uma grande ocupação...

Poema genial e denso.

Beijo com amizade

SOL da Esteva disse...

Um excelente Poema de Intervenção. Nem Dali, nem Beethoven conseguem ofuscar a transparência tão necessária para nos sentirmos gente com Pátria.
Parabéns, Jaime por mais esta contribuição a desmascarar quem se pretende certo e seguro.


Abraço,
SOL da Esteva

A Paixão da Isa disse...

passando para desejar um lindo e feliz fim de semana com muita saude bjs

El Sentir del Poeta disse...

Maravilloso poema, como todo lo que escribes.
Un placer leerte.
Cariños y besos querido amigo, que tengas un hermoso día

RÔ - MEU DIÁRIO disse...

Receba aplausos por essa magistral inspiração! Bju

Mário Margaride disse...

Olá, amigo Jaime
Passando por aqui, deliciando-me com este belo poema que muito gostei, e deixar os meus Votos de uma feliz semana, com tudo de bom.
Abraço amigo.

Mário Margaride

http://poesiaaquiesta.blogspot.com
https://soltaastuaspalavras.blogspot.com

Fá menor disse...

"ilha dos amores"... isso ainda existe? A existir não deveria ser apenas uma ilha; mas no mundo inteiro deveria reinar o amor, o que cada vez é menos :(

Beijinhos.