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segunda-feira, 23 de dezembro de 2024

Ano novo, vida nova? [592]

 


Tenho andado em palcos

sem saber as deixas para eu falar,

pelo que vou improvisando a cada silêncio.

Por vezes uso roupas de príncipe

sem princesa à vista

e o ponto grita em surdina para chamá-la.

Nem sempre vem.

 

Também ando por caminhos

onde me perco sem bússola nem sextante.

A cada entroncamento,

penso 90 graus de cada vez

e acabo a fazer naus obsoletas

com as cascas dos pinheiros hipócritas

que me cercam de elogios

em que ninguém sinceramente navega.

 

As minhas falas nem sempre são ouvidas,

são mudas que falam a surdos

e acabam por cair angustiadas

em sacos rotos que se amontoam

nos mares dos tempos perdidos,

são lampiões extintos em nevoeiros

e só visíveis com óculos de visão noturna.

 

Ano novo, vida nova?

Se ao menos tivesse Flora no meu leito

sem que Zéfiro soubesse

ou tivesse uma princesa que guardasse

na sua arca dourada os ecos da minha vida.

 

Mas tenho sido

um guardador de peixes rebeldes

que fogem da minha nau não sei para onde

e nem vejo os remos que me levem às falas

para acabar com os impensados improvisos.

 

© Jaime Portela, Dezembro de 2024


5 comentários:

stella disse...

A veces los aduladores son solo un rellenar con palabras no pensadas, pero hay quien admira de verdad, lee y comprende asimilando lo que el poeta dice....demos gracias por que hay siempre una legion de amigos que nos apoyan
Feliz Navidad y próspero año nuevo
Un fuerte abrazzo

Andre Mansim disse...

Olá poeta!
Um belo e íntimo poema.
Parece que você está falando de coisas que estão aí, machucando seu coração; e abrindo para nós sua intimidade.
Eu não vejo o passar do tempo pela contagem dos anos. Já vi vidas mudarem completamente em horas, ou piscar de olhos.
Os anos servem para rotular, mas a vida é momentânea, e apesar de dizermos a nós mesmos: - Se isso acontecer eu serei feliz!
A vida e a felicidade não acontecem assim.
Desejo um feliz final de ano e dias felizes pra você.

silvia de angelis disse...

Tanta raffinatezza in questo cantico, di grande impatto emotivo.
Tantissimi cari auguri di festività liete, e un caro saluto

Isamar disse...

Olá Amigo Jaime,
Mais um fantástico poema, gostei particularmente desta passagem:
"Também ando por caminhos
onde me perco sem bússola nem sextante.
A cada entroncamento,
penso 90 graus de cada vez
e acabo a fazer naus obsoletas
com as cascas dos pinheiros hipócritas
que me cercam de elogios
em que ninguém sinceramente navega."
Desejo-lhe um Natal com saúde, paz, alegria e amor!
Beijinhos

Lucimar da Silva Moreira disse...

Jaime um lindo poema pra começar bem a semana, sim muitas vezes a nossa fala não é ouvida, boa semana abraços Jaime.