Para nos afastarmos da vida,
ouvimos, inativos,
música que nos embale.
Outras artes, teatro ou dança,
não nos separam da vida,
são observáveis
e vivem de idêntica humana realidade.
Na cisão que a literatura opera,
a vida é um fingimento,
um romance é uma narrativa
do que não existe
e um poema é a manifestação
de conceitos e emoções
num código em que ninguém se expressa.
Escrever é deslembrar,
é arte e engenho
de um divórcio intencional da realidade.
© Jaime Portela, Fevereiro de 2025