Treze mil milhões de anos depois,
aqui estamos nós.
E só há quatro mil milhões de anos
é que moléculas agrupadas em células
construíram a vida.
Ou foi algum cometa que a pariu.
Ou veio de Marte.
Ou foi mesmo Deus que a inventou.
Mas tudo e todos acabarão
daqui a mil milhões de anos.
Já não falta muito,
o sol vai explodir
e nada restará do que se pensou
da religião e da política.
Como é o mesmo sol que dá vida
aos abençoados e amaldiçoados,
será a sua ausência que deixará invisível
o nada de santos e pecadores,
o nada de ricos e pobres.
Tudo será composto pela soma de nadas
e, na casa do impercetível,
sem portas, janelas e paredes,
dançarão os fantasmas do tempo
ao som das sombras entrópicas
que se arrastam no pó inerte do nada.
Oitenta por cento da vida já foi vivida
e o inverno aproxima-se.
Saberemos aceitar a escassez de tudo,
a fadiga prévia do fim
e o desengano crescente dos sonhos?
O buraco negro espera-nos, paciente,
sabendo que lá chegaremos sem vida.
Ou Deus, no Juízo Final,
de braços abertos à vida.
© Jaime Portela, Abril de 2025