Translater

segunda-feira, 7 de abril de 2025

O big bang, o buraco negro e Deus [609]

 


Treze mil milhões de anos depois,

aqui estamos nós.

E só há quatro mil milhões de anos

é que moléculas agrupadas em células

construíram a vida.

Ou foi algum cometa que a pariu.

Ou veio de Marte.

Ou foi mesmo Deus que a inventou.

 

Mas tudo e todos acabarão

daqui a mil milhões de anos.

Já não falta muito,

o sol vai explodir

e nada restará do que se pensou

da religião e da política.

Como é o mesmo sol que dá vida

aos abençoados e amaldiçoados,

será a sua ausência que deixará invisível

o nada de santos e pecadores,

o nada de ricos e pobres.

 

Tudo será composto pela soma de nadas

e, na casa do impercetível,

sem portas, janelas e paredes,

dançarão os fantasmas do tempo

ao som das sombras entrópicas

que se arrastam no pó inerte do nada.

 

Oitenta por cento da vida já foi vivida

e o inverno aproxima-se.

Saberemos aceitar a escassez de tudo,

a fadiga prévia do fim

e o desengano crescente dos sonhos?

O buraco negro espera-nos, paciente,

sabendo que lá chegaremos sem vida.

Ou Deus, no Juízo Final,

de braços abertos à vida.

 

 

© Jaime Portela, Abril de 2025