Translater

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

Somos enfermeiros das nossas fronteiras [210]



Ensombrados pelos archotes
no útero de uma chuva de insensibilidade
(imensa, seja grossa ou miudinha)
prenhe de guelras falaciosas e fados,
somos carcereiros do paiol
e praças-fortes de éticas que esvoaçam
e em mil sóis apenas nos deslumbram.
Guardiães das ameias vazias,
empunhando bisturis estranhos ao tempo
onde nos sitiamos,
somos donos e videntes,
somos enfermeiros das nossas fronteiras,
alamedas de encantos
laureadas por suspiros de valores penhorados.
Apesar da madraça labuta,
temos o cinzeiro da noite,
onde, zelosos, nos lavamos do lodo
e da greve de cinza do dia,
onde afugentamos o cigarro
da vergonha esquecida entre os dedos
e onde o nosso feito desfeito é defecado.


© Jaime Portela, Fevereiro de 2019


39 comentários:

_ Gil António _ disse...

Olá:- Sempre brilhante na sua forma de escrever poesia.
.
Deixando cumprimentos poéticos

*** . Meu amor ... amo-te tanto * **

Lucia disse...

virgem santa!

Cidália Ferreira disse...

Boa noite!
Poema soberbo! Parabéns, Jaime!

Silêncio da Alma...
Beijo

manuela barroso disse...

Uma grande poesia tão actual como acutilantemente brilhante!
Beijo, Caríssimo amigo!

Andreia Morais disse...

Repito inúmeras vezes, mas a verdade é que fico sempre encantada com a sua poesia!
Continuação de uma boa semana :)

Josélia Micael disse...

Maravilhosa poesia meu amigo Jaime!
É tudo o que tenho para lhe dizer; adoro a sua maneira de entrelaçar palavras poéticas!
Lindo, parabéns, que nunca lhe falte a inspiração, poesia assim não é qualquer um que escreve!
Só quem tem mesmo veia poética, e conhecimento claro!
Tenha uma boa sexta feira, seja feliz!!!!
Beijo, com meu carinho de paz e bem!

Pedro Coimbra disse...

Mas não somos dos que estão em greve, caro Jaime.
Aquele abraço, bfds

baili disse...

i am speechless with gravity of your sublime thoughts and charm of your expressions my friend!
it was deep joy to visit and read your amazing poem!

Alice Alquimia disse...

Grande verdade
esse seu escrito.
Estou seguindo aqui.

Betonicou disse...

Uma poesia escrita com os citilantes dedos do poeta. Parabéns mais uma vez , amigo Jaime. Temos nova postagem por la´. Feliz fim de semana. Grande abraço.

Marta Vinhais disse...

Andamos à procura de respostas... ninguém ouve as perguntas....
Brilhante
Beijos e abraços
Marta

SOLIDARIEDADE disse...

Perdoe-me por usar uma expressão bem típica aqui do norte do Brasil, muito pai d'égua esse seu texto/poema/prosa/crônica.
Abraços.

Ps. Pai d'égua seria algo supimpa, muito legal, beleza...etc.

Sandra May disse...

Bom dia, Jaime!
Sempre me surpreendendo a cada postagem. Esta, especialmente é um retrato de nós mesmos, principalmente quando " nosso feito desfeito é defecado"!
Brilhante👏👏👏

Graça Pires disse...

Palavras no tempo certo. Reflexivas e acutilantes.
Um bom fim de semana.
Um beijo.

Lua Azul disse...

Lá diz o ditado: "De médico e louco, todos temos um pouco.", por isso, não me admira sermos "enfermeiros das nossas fronteiras" e termos "o cinzeiro da noite" onde "o nosso feito desfeito é defecado".
Abraço e obrigada pela visita aos "sons selvagens".
Bfsmn

Franziska disse...

Yo también lo creo. La realidad es mental, primero; después, la proyectamos y finalmente nuestro cerebro nos conduce a su realización. Eso es lo que piensan
y enseñan los sicologos.

Muy buen texto, me gustó. Un abrazo.

Gracita disse...

Creio que todos temos nossas loucuras e o bem que ela faz é esse seu deslumbrante poetar amigo Jaime
Beijos

Olinda Melo disse...


Temos a veleidade de tudo saber, com opinião para tudo.
Criticamos o mais ínfimo pormenor esquecendo-nos de
olhar para o nosso quintal e ver o que se passa lá dentro.
E assim desconhecemos a nossa própria realidade.

Um belo poema, amigo Jaime. Gostei muito.

Abraço

Olinda

Mariazita disse...

Pleno de metáforas, fortes acutiladas nas realidades, só me ocorre uma palavra:
Brilhante, amigo Jaime!

Desejo bom Fim-de-semana
Beijinhos
MARIAZITA / A CASA DA MARIQUINHAS

Portugalredecouvertes disse...


Poesia acutilante, Jaime
fiquei arrepiada :)

https://poesiesenportugais.blogspot.com/

Majo Dutra disse...

Fiquei admirada!
Um poema muito à margem do seu habitual registo.
Porém, os poemas de denúncia são importantes.
Abraço, Amigo.
~~~~

SOL da Esteva disse...

Poesia de fina intervenção. Actual, clara, directa. Parabéns, Amigo.

Abraço
SOL

Fá menor disse...

Não podemos mesmo estar à espera que outros nos curem ou defendam as nossas fronteiras... Temos de tomar as rédeas das nossas defesas.
Beijinhos, amigo Jaime. Bom domingo e feliz semana!

Maria Rodrigues disse...

Inspirado e belo poema.
Bom domingo
Beijinhos
Maria
Divagar Sobre Tudo um Pouco

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Gostei meu amigo e aproveito para desejar um bom Domingo.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
Livros-Autografados

Kinga K. disse...

well written :)

Ana Freire disse...

Sinais dos tempos... onde a ética e os valores... não têm lugar...
Magnifico momento poético, Jaime! E com uma forte e assertiva mensagem!
No momento... evito que a minha mãe, doente, esteja num hospital... com estas greves... cujos seus participantes, poderão ter muita razão... mas sem contemplação, para o sofrimento dos doentes... pois também por estes dias, uma pessoa amiga, foi para o hospital, pelo pé dela, com uma dor num joelho... no momento continua lá internada... pior a cada dia... a recuperar de uma medicação mal calculada, que lá lhe deram e que lhe provocou uma série de hemorragias... porque tudo está a ser feito às pressas... e à balda... também com poucos cuidados de enfermagem, e com pouca atenção... também por médicos... se calhar com turnos acumulados, por andarem a ganhar em vários lados em simultâneo...
A essa pessoa... até as refeições sem talheres, já lhe foram fornecidas... e sem direito a poder chamar por alguém, para assinalar o esquecimento... porque ninguém surge... se o seu chamamento fosse uma emergência... também ninguém viria em seu auxílio... e é neste estado, que estão a funcionar muitos hospitais... nesta forma revoltante... e pondo em causa a saúde, de quem aos hospitais recorre...
Escusado será dizer... que a filha dessa pessoa amiga... apresentou queixa... pois encontrou o seu pai, todo sujo, depois de ter comido com as mãos... e entornado metade da sopa, na cama do hospital... tentando comer algo... enquanto não aparecia mais ninguém... durante... sabe-se lá quanto tempo...
Adorei o poema, Jaime! Às vezes, é preciso apresentar a realidade, tal como ela se apresenta... sem flores!...
Beijinho! Feliz semana!
Ana

Luísa Fernandes disse...

Olá Jaime!
Poesia interessante, inspiração acima brilhante. Gostei amigo.
beijinho e tenha uma boa noite.
Luisa

Sandra May disse...

Voltei pra sentir melhor o poema, Jaime.
Como disse a Majo: "um poema muito à margem do seu habitual registro". Isso, no entanto, demonstra ainda mais seu talento como escritor poeta, sua sensibilidade.
Toda minha admiração por essa obra que diz tanto e ainda muito mais que pudesse caber nesses versos. É como bom perfume concentrado num pequeno frasco.
Um abraço poeta.

Arte & Emoções disse...

Olá Jaime! Sempre nos brindando com belas criações. Parabéns!

Abraços e uma ótima semana para ti e para os teus.

Furtado

saudade disse...

Muito bom Amigo Jaime. Infelizmente um problema do nosso país.
Beijo

Ulisses de Carvalho disse...

Há tantas boas metáforas aí nesse poema, gosto assim também, quando as palavras nem sempre entregam de bandeja o que queremos dizer e criamos, para quem lê, labirintos para muitas possíveis interpretações - apesar de as intenções estarem claras. Gostei, Jaime. Um abraço.

teresa dias disse...

Olá, querido Jaime!
A força do poeta em cada verso do poema, alertou e arrepiou.
Quem sabe... escreve assim!
Parabéns, meu amigo.
Beijo e boa semana.

luar perdido disse...

Amigo Jaime, que poema!!!
Um registo um pouco fora do habitual, mas de uma verrumosa verdade, acutilante e fantástico. Aliás, como sempre!
Pôr o dedo numa ferida muito actual e que nos faz pensar; onde vamos? O que queremos? O que nos espera ali no virar da esquina do tempo?

Belíssimo e poderoso poema, meu amigo. Boa semana.

Beijo de luar

Emília Pinto disse...

Não" és marinheiro ", não és médico nem enfrmeiro, por acaso és engenheiro, mas, cada um de nós, nas funções que desempenha tem que ter consciência da sua responsabikidade como prestador de serviços à sociedade, pois , na realidade é isso que somos; prestamos serviços, recebemos serviços e assim funciona o mundo, assim funciona a comunidade onde vivemos; não somos " donos " do mundo, nem da verdade e muito menos " videntes; somos simples seres humanos, nem melhores nem piores que os outros, que nos devemos esforçar ao máximo para que, com a nossa actividade contribuemos para o bem -estar das pessoas inseridas no meio onde vivemos. Há valores que, em qualquer profissão, têm que estar presentes, a ética, o profissionalismo, a honestidade e, acima de tudo a solidariedade e o respeito por aqueles que, de alguma forma, dependem desses valores. Costumas falar de amor, Jaime, mas, neste poema, que mais parece um grito, há amor, sim, o amor que deveria estar presente em todas as actividades e que, infelizmente escasseia em algumas que são fundamentais. Gostei muito, como sempre. Um beijinho, amigo, e que a saúde não falte a ti e aos teus
Emilia

Ailime disse...

Boa noite Jaime,
Um magnífico poema que, com bisturi poético, incide sobre um tema tão atual e que urge resolver para bem de todos.
Beijinhos e continuação de boa semana.
Ailime

Rui Pires - Olhar d'Ouro disse...

Maravilhoso meu amigo.
A nos encantar a com sua delicadeza na escrita poética!

Abraço

Olhar D'Ouro - bLoG
Olhar D'Ouro - fAcEbOOk
Olhar D'Ouro – yOutUbE * Visitem & subcrevam


Duarte disse...

Uma excelência, por aquilo que expressa. E com que delicadeza deixas transparentar que tempos passados estão tão presentes. Dia e noite, sempre essa constante.
Um grande abraço

Agostinho disse...

Poema magnífico posto na eira à hora certa. As enfermidades têm cura?
Há tanta pergunta sem resposta e tanta resposta sem pergunta.
Abraço.