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quinta-feira, 19 de março de 2020

Há cigarros assim [268]



Um cigarro deu comigo
no meio do deserto.
O fumo tragava amenamente
o sol de uma só cor
e nem sombra de palavras
a espevitar o meu fogo tão mortiço.
Mergulhei em miragens desfocadas
ao alcance falacioso
de um gesto entorpecido.
Vagueei fixo
nas imagens trémulas
para além do horizonte da razão.
Da minha fortaleza,
abatida e conformada,
só enxergava a cidadela enevoada,
derrubada,
asfixiada de sons indecifráveis.
Não me evadi,
desertei cobardemente
para a jaula do silêncio dos meus verbos
nos braços de fantasmas abstratos.
Há cigarros assim…


© Jaime Portela, Março de 2020


44 comentários:

chica disse...

Reflexiva e instigante poesia! Linda! Há tanto assim! abraços, chica

" R y k @ r d o " disse...

E serão só os cigarros os "culpados" desses devaneios poéticos e imaginários?

Se calhar não

Abraço

João Santana Pinto disse...

Há dias assim também…

Por vezes estamos perdidos, porque sim, por vezes a reação pode tirar-nos desse "cigarro"

Inspirado, como sempre.

Abraço e bom resto de semana

Marta Vinhais disse...

Há momentos em que queremos esquecer as sombras... mas elas existem e são muito dolorosas...
Gostei muito...
Beijos e abraços
Marta

Cidália Ferreira disse...

Fantástico, o seu poema!
-
A fé atravessa-nos o pensamento cruel
-
Beijos e uma excelente tarde!

A Paixão da Isa disse...

bem este ao menos nao faz mal hehe mt bonito bjs tudo de bom mta saude

Andreia Morais disse...

Que abordagem fantástica! Mais um poema desarmante

Espero que o Jaime e os seus se encontrem bem
Continuação de boa semana

Dalva Rodrigues disse...

Oi Jaime, não existe ópio mais forte que as palavras, como lidamos e criamos com elas.
Belo e intrigante poema!
Abraço!

Lua Singular disse...

Oi Jaime,
Uma linda postagem que só poderia ser feita por você.
Gostei muito.
Abraços
Lua Singular

Magui disse...

Gosto desses cigarros
Abraço

Fá menor disse...

Há cigarros assim, pois há. E há névoas a consumir-nos os dias.
Desertemos, resguardemo-nos, afastemo-nos do fogo que nos cerca, pois não há fumo sem fogo; e aguardemos por dias claros que atrás vêm. Fé, esperança e amor!

Tudo de bom, amigo Jaime.
Beijinhos.

Canto da Boca disse...

Ainda bem que há cigarros assim... Dentro de cada um deles existe uma poesia que tu a libertas para o nosso deleite e encantamento.
Ainda bem que há poetas assim.

Cumprimentos.

:)

Pedro Coimbra disse...

Os pensativos cigarros já não me acompanham há treze anos.
Aquele abraço, bfds

Isamar disse...

E há Poetas assim ♥
Maravilhoso (como sempre) adorei!!!!
Bom fim-de-semana, em segurança.
Beijinhos

Os olhares da Gracinha! disse...

Cigarros com sabor a poesia mas que se devem evitar!!! Bj

Betonicou disse...

Bom dia , Jaime. Bom, eu nunca fumei, até cheguei na experimentar por curiosidade , mas quase queimei meus pulmões. Esse ai tem um efeito lisérgico e inspirador. Poesia nobre, como sempre. Feliz fim de semana. Daqui a pouco teremos nova postagem. Com esse enclausuramento social devido ao corona vírus posso trabalhar na escrita um pouco mais. Grande abraço. Feliz fim de semana.

Sandra May disse...

...e assim vou me apaixonando cada dia mais pelas palavras, tão bem tecidas em poemas como este.
Um abraço, amigo Jaime.

Graça Pires disse...

"Não me evadi,
desertei cobardemente
para a jaula do silêncio dos meus verbos
nos braços de fantasmas abstratos."
Foi o melhor que fez, Jaime. Mais uma poema cheio de imaginação.
Bom fim de semana.
Um beijo.

Daniel Costa disse...

Jaime Portela "ha cigarras assim" e poetas também! Gostei muito do poema, bem conseguido amo sempre. Outro adjectivo para quê!
Abraços poéticos.

Maré Viva disse...

No deserto, o silêncio habita por inteiro, mas dentro de nós o pensamento desliza e constrói palavras, os cigarros acontecem e a poesia nasce!
Muito bom!
Um abraço.

Kalinka disse...


OLÁ JAIME

BELA POESIA
PARABÉNS

EU DIRIA
a irresponsabilidade de certas pessoas
dá comigo num estado de raiva
assustada com o que se passa pelo Mundo
e as pessoas não levam a sério!

Mergulho em pensamentos tristes
sem esperança no futuro
e lá vou ao fundo, outra vez!!!

desertar é a minha vontade
mas, para onde?

infelizmente há pessoas que não valorizaram o que está acontecendo...
Tantos casos, tantas mortes no mundo inteiro
Hoje em Portugal já há 6 mortes

Também estou indignada além de assustada
com muito medo do que poderá acontecer,
beijos da TULIPA

http://tempolivremundo.blogspot.com/  
http://meusmomentosimples.blogspot.com/  
http://momentos-perfeitos.blogspot.com/

Luísa Fernandes disse...

Olá Jaime!
Que bom passar por aqui, encontrar um poema diferente, nostálgico no centro de um vazio mas consciente. Há dias assim e há cigarros diferentes!Gostei muitíssimo amigo Jaime.
Beijinho de paz e tudo de bom.
Luisa

Mar Arável disse...

Não matem os pássaros
Abraço

Pedro Luso de Carvalho disse...

“Vagueei fixo
nas imagens trémulas
para além do horizonte da razão.”

Escolhi este densos versos, amigo Jaime, aleatoriamente (os versos todos são do mesmo quilate).

Gostei muito, caro Poeta. Parabéns!

Um excelente final de semana, caro Jaime.

Grande abraço.

Giancarlo disse...

Buon fine settimana.

Isa Sá disse...

A passar por cá para conhecer mais um bonito poema e desejar bom fim de semana!

Isabel Sá  
Brilhos da Moda

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Um belo poema amigo Jaime.
Um abraço e bom fim-de-semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
Livros-Autografados

SOL da Esteva disse...

Cigarros e deserto,
O fumo e o sol quente.
Tudo longe, tudo perto
E um coração dormente.



Excelente Poema. Parabéns.


Abraço
SOL

Duarte disse...

Nessa jaula do silêncio nos meteram, mas com versos assim até agrada estar recluido, convida a meditar. Essa magia que invadem os teus versos levando-nos a tratar de tu à imaginação dão vida. Gostei.
Um grande abraço

Manuel Veiga disse...

pois é, caro amigo
há cigarros que ardem nos dedos,
sem darmos conta.

muito bom . o poema.

forte abraço

R's Rue disse...

Stay safe.

Teresa Almeida disse...

Na jaula do silêncio procuramos a luz, mas está tão mortiça como um cigarro jogado fora.
Talvez o cigarro não volte e das cinzas saibamos renascer.

Poema para repensar a vida.

Terno abraço, amigo Jaime.

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

JP

pois há!
cigarros que dá connosco em desatino.
outros
que sáo compartilhados

um poema no estilo que já estamos habituados.

gostei!

bom domingo

beijinhos

:)

Margarida Pires disse...

Querido Jaime as coisas estão um pouco complicadas.
Parecemos cigarros acessos perdidos no tempo.
Que Deus ilumine seu lar.
Um abraço.
Megy Maia

Mariazita disse...

Perdoa a minha ausência, querido amigo Jaime, mas tenho estado - e continuo - doente. O corona não me atacou... é uma das minha infecções pulmonares habituais (eu já lhes chamo habituais porque visitam-me duas e três vezes em cada inverno. Esta foi das fortes, e desde o dia 9 que não saio de casa. A disposição não é das melhores, como podes calcular, e os próprios medicamentos nos põem em baixo.
Gostei muito do teu poema que acho um pouco intrigante. Claro que a falta de saúde também não ajuda a compreendê-lo perfeitamente...
Cuida-te, que os tempos que correm assim o exigem.

Desejo uma semana feliz
Beijinhos
MARIAZITA / A CASA DA MARIQUINHAS

Teresa Durães disse...

Como já disse noutro lado deveria apreciar a poesia, neste momento não consigo, tão pouco escrever. Não sou dada a dramatismos, mal vejo TV, valorizo o que a natureza está a fazer, o número de mortos nem vai equilibrar a natureza. Ando a dar cabo das ervas do terreno, a dar hipótese natureza, espero que esta sobreviva e se o ser humano for dizimado uma parte, paciência, não fizessem tantos disparates

Ana Tapadas disse...

Vagueando dentro de si mesmo!
Reflexão poética muito interessante.

Saúde e proteja-se!

Beijo

Tais Luso de Carvalho disse...

Da minha fortaleza,
abatida e conformada,
só enxergava a cidadela enevoada,
derrubada,
asfixiada de sons indecifráveis.

Gostei muito dessa parte, imensamente bonita e forte! Bateu comigo.
Beijo, Jaime, cuida-te com essa pandemia, derrubar esse vírus não vai ser fácil. Mas haveremos de conseguir.

By Me disse...

Há cigarros assim e desertos assim. Imensa gente atirada ao deserto dos seus cigarros, muito mais do que se julga, pois, não aparecem nos noticiários... solidões de total abandono que ninguém quer saber. Vivem e morrem sós, se fizessem a contagem... os números seriam na mesma, brutais, como as vítimas desta pandemia.
Poesia de muito bom gosto!

Boa semana!
Beijo

Ana Freire disse...

A introspecção... sempre associada ao acto de fumar... e no momento, ainda mais, face à realidade dos tempos...
No entanto, fumar... deverá ser um gesto a evitar... para mais nos tempos actuais... em que o objectivo maior... é conservar-se a saúde... e a máxima capacidade pulmonar...
Um belo poema... que nos remete, para desertos, feitos de inquietação... em que vemos miragens de um passado, substituído por um inquietante presente... mas o que fazer? Há mesmo momentos assim!... E estamos todos a passar por eles...
Beijinho! Uma semana, o melhor possível, dadas as circunstâncias!
Ana

Wesoła Komórka disse...

Ei, tenha um bom dia!
Hoje escrevi um poema e pintei um quadro, mas não sei quando estará disponível. Eu gosto da sua poesia

Ailime disse...

Bom dia Jaime,
Um poema muito criativo.
Há silêncios que falam alto ao coração.
Gostei muito.
Beijinhos e boa saúde.
Ailime

Diná Fernandes de Oliveira Souza Souza2 disse...

Graças a Deus que o cigarro distanciou-se de mim há uns cinco anos, por incrível que pareça , o cigarro é inspirador, porém maléfico.

Grande poema, como sempre.

Abraços!

teresa dias disse...

"Há cigarros assim", tramados mas inspiradores... mesmo quando fumados numa
"fortaleza abatida e conformada". Força, poeta!
Beijo, muita saúde.