Abraçar doutrinas,
refletindo-as, raramente,
apenas quando, por exceção,
a forca aperta a voz amedrontada,
tendo no resto
das páginas do diário
um registo fora delas,
agindo e legitimando a prática
com teorias que as contradizem,
é abrir um caminho na vida
e depois seguir por atalhos encobertos.
Ter gestos e modos de uma essência
que somos e seguimos de facto
mas que não queremos ser vistos como sendo,
é estar em cena e não seguir o guião
que escrevemos para os outros,
é dizer “olha para o que eu digo,
mas não olhes para o que eu faço”.
© Jaime Portela, Dezembro de 2024