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segunda-feira, 7 de outubro de 2024

Manteiga nos versos [581]

 


Quando o motim interior

se plasma num mínimo poema que seja,

a pauta normalizada é distorcida

pela torrente encorpada

a deslizar por entre fragas mandantes.

 

O cortejo de palavras dispensáveis

naufraga ou desmantela-se

contra as pedras do caminho

e jazem agoniadas por ação da borracha,

que as elimina e empurra

para a periferia do papel.

 

E ficam, quando há talento,

apenas as palavras precisas

para que o motim se revele

sem distorções nem empecilhos,

ainda que leituras possam reclamar

mais manteiga nos versos.

 

 

© Jaime Portela, Outubro de 2024

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