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segunda-feira, 21 de outubro de 2024

Toupeiras voadoras [583]

 


No ventre escuro da terra oficial,

tão fundo, tão silencioso,

as toupeiras cavam os seus rumos

num mundo secreto e misterioso.

 

Sem o brilho das estrelas jornalísticas

nem o calor do sol auricular, elas conversam,

em sigilo, onde a vida não gira,

é a mentira no escuro das palavras ocultas.

 

Com as suas garras miúdas,

desenham no subsolo os projetos da vitória,

rasgando o terreno em linhas curvas

como se descobrissem o céu.

 

E sonham, quem sabe,

com um paraíso onde o vento corre livre

e sempre de feição,

deixando o inimigo numa ilha deserta sem luz.

 

Mas, se pudessem lançar-se

no voo que ambicionam e desconhecem,

os ratos-cegos do poder

talvez se perdessem nos céus.

 

Mas o voo das toupeiras

nunca será como o dos pássaros,

é um mergulho para dentro,

e armadilhar é o inverso de sonhar.

 

Entre raízes egocêntricas e pedras falaciosas,

desenham o seu destino

no silêncio profundo da maquinação,

onde o mundo não é divino.

 

E assim vivem as toupeiras voadoras,

numa dança privada e negada sem fim,

não no céu aberto e livre das aves,

mas no voo das catacumbas, porque sim.

 

© Jaime Portela, Outubro de 2024


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