No ventre escuro da terra oficial,
tão fundo, tão silencioso,
as toupeiras cavam os seus rumos
num mundo secreto e misterioso.
Sem o brilho das estrelas jornalísticas
nem o calor do sol auricular, elas conversam,
em sigilo, onde a vida não gira,
é a mentira no escuro das palavras ocultas.
Com as suas garras miúdas,
desenham no subsolo os projetos da vitória,
rasgando o terreno em linhas curvas
como se descobrissem o céu.
E sonham, quem sabe,
com um paraíso onde o vento corre livre
e sempre de feição,
deixando o inimigo numa ilha deserta sem luz.
Mas, se pudessem lançar-se
no voo que ambicionam e desconhecem,
os ratos-cegos do poder
talvez se perdessem nos céus.
Mas o voo das toupeiras
nunca será como o dos pássaros,
é um mergulho para dentro,
e armadilhar é o inverso de sonhar.
Entre raízes egocêntricas e pedras falaciosas,
desenham o seu destino
no silêncio profundo da maquinação,
onde o mundo não é divino.
E assim vivem as toupeiras voadoras,
numa dança privada e negada sem fim,
não no céu aberto e livre das aves,
mas no voo das catacumbas, porque sim.
© Jaime Portela, Outubro de 2024
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