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segunda-feira, 25 de agosto de 2025

Da tristeza e da alegria [630]

 


Por que morrem os fadistas de Lisboa

De saudade ao cantar na Madragoa?

Por que chora a guitarra de Alfama

A trinar a triste sina que derrama?

 

Por que rodam as moçoilas de Viana

A sorrir ao dançar a chula safardana?

Por que tocam tão bem as concertinas

Com tantas malgas de verde e sardinhas?

 

A alegria e a tristeza são heranças

Do sangue, da paisagem e do clima

Ou são contas herdadas de outras danças

Que, espontâneas, vêm ao de cima?

 

 

© Jaime Portela, Agosto de 2025


segunda-feira, 18 de agosto de 2025

As ideias [629]

 


As ideias quase nunca são nossas,

tomámo-las dos outros,

tal como aprendemos a falar.

Podemos puxar-lhes o lustro,

mas as ideias dos outros

são rios por onde a água só desliza

ao sabor dos seus desejos.

Mimetizamos os outros? Não,

oferecemos-lhes a possibilidade

de nos imitarem.

Porque uma ideia

pode ter dimensão e beleza,

mas se não tiver uma ou outra,

a influência nos outros

será reduzida proporcionalmente.

 

 

 

 

© Jaime Portela, Agosto de 2025


segunda-feira, 11 de agosto de 2025

Muda de alma [628]

 


Queres ter novas sensações?

Será fácil,

basta construir uma alma nova,

mais jovem

ou diferente da que tens.

Gorado será o esforço

de querer sentir

de um modo diferente

sem trocar de alma.

Porque tudo é como o sentimos

e a forma única

de veres coisas novas

é haver originalidade

no experimentá-las.

Tu sabias isto sem o saberes,

por isso, muda de alma.

Não me perguntes como,

tens de ser tu a descobrir.

 

 

© Jaime Portela, Agosto de 2025


segunda-feira, 4 de agosto de 2025

O jornalismo é uma guerra [627]

 


Bebemos apenas os títulos

sem mexermos as cartilagens.

Ou, no máximo,

os lides ou preâmbulos.

E nem percebemos que o corpo

tem um líquido diferente

e normalmente mais macio.

 

Jornalismo e sensacionalismo,

sem contrapeçonhas visíveis,

passaram a rimar gota a gota

em toneladas de manchetes roliças

a bem das santas audiências ou tiragens.

Embaraçam o caminho alheio,

ferem e destroem os outros a frio

à custa de remotas suspeitas.

 

O sucesso pertence a quem não sente.

O jornalismo é uma guerra

e a notícia é a síntese da batalha.

 

© Jaime Portela, Agosto de 2025