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quinta-feira, 25 de maio de 2023

A selva [506]

 


Adormeço nos meus pantanais

porque não sou capaz

de ficar eternamente acordado.

Nas mãos,

tenho sempre algumas palavras de pão.

Há crocodilos à porta da raiva

que certas criaturas transportam no sangue

e há ervas daninhas que eu não como.

Nem sequer os animais

delas se alimentam, de resto,

pois desconfio que eles têm sonhos

parecidos com os meus.

E concluo, por isso,

ainda que a dormir nesta malha

pejada de caretas agrestes

e entalado nestes espinhos

de desordenada probatória

tudo seja enevoado,

que há uma selva de crocodilos

que limita os seres vivos

à sua existência madraça, mas veloz.

E que, para sobrevivermos,

não bastam palavras de pão,

temos que andar com facas nos dentes,

lícitas, mas que assassinam

qualquer sorriso nos lábios.

 

© Jaime Portela, Maio de 2023


26 comentários:

chica disse...

Fujamos desses crocodilos que nos cercam que nem palavras de pão afastam!!! Linda poesia! abraços, chica

Porventura escrevo disse...

Grande profundidade nos versos, Jaime.
Adorei.

Janita disse...

Excelente alegoria da selva de betão em que o mundo mergulhou.
A lei que vigora é a do salve-se quem puder...

Um abraço, Jaime.

silvia de angelis disse...

Difendersi sempre dagli agguati della vita, ma col sorriso sulle labbra...
Versi apprezzati, un saluto, silvia

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Gostei deste excelente poema amigo Jaime.
Um abraço e continuação de uma boa semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
Livros-Autografados

Tais Luso de Carvalho disse...

Perfeito, eu vejo e sinto o mesmo,
e não creio nesse mundo que virou selva há muito,
habitada por muitos seres selvagens.
Um poema que é a pura verdade, Jaime,
desnuda por completo o mundo em que vivemos.
Uns lugares mais civilizados, mas poucos.
Te aplaudo!
Uma boa continuação de semana.
Beijo, amigo.

Roselia Bezerra disse...

Olá, amigo Jaime!
Profundíssimo e muito bem detalhado...
A selva em que vivemos é por demais castradora em todos os sentidos.
Há que se andar com a navalha nos dentes... como bem poetou. é lamentável!
Algo a nos espreitar a todo instante prestes nos devorar com o leão que ruge, no sentido bíblico também fica claro.
Um dom ímpar no poetar seu, aplausos!
Tenha dias abençoados!
Abraços fraternos de paz

AMALIA disse...

Muy real y profundo tu poema.
Muy bueno.
Un abrazo.

Regina Graça disse...

Sorriso de crocodilos, convencem, não os assassinemos com o pão das palavra. Já as lágrimas dos ditos cujos, ui, transformam a selva em lamaçal...
Admirável, Jaime, a sua amplitude poética!

Forte abraço

Mário Margaride disse...

Não faltam crocodilos de dentes afiados, prontos a darem-nos umas boas dentadas.
É assim esta selva onde estamos inseridos.
Excelente poema, caro amigo Jaime.
Gostei muito.
Continuação de ótima semana!
Abraço amigo.

Mário Margaride

http://poesiaaquiesta.blogspot.com

Lucia disse...

Olá caro Jaime
Isso aí poeta, temos que ficar atentos, seja nas mãos e no sorriso.
Todo o cuidado é pouco.
De olhos nesses crocodilos.
"temos que andar com facas nos dentes,lícitas, mas que assassinam qualquer sorriso nos lábios.
Bom restinho da semana.
Beijo!

Cláudia disse...

Adorei o duplo sentido, pelo menos assim interpretei.

Boa tarde

brancas nuvens negras disse...

Temos maus sonhos e quando acordamos ainda persistem os fantasmas.
Um abraço.

Cidália Ferreira disse...

Um poema fabuloso :))
.
Gotas de orvalho em enredo...
.
Beijo, e uma boa noite

lanochedemedianoche disse...

Fuerte y profundo poema, que placer leerlo, gracias por compartir.
Abrazo

Olinda Melo disse...


Fantástico,Jaime!

Uma selva pejada de crocodilos
è espera de um deslize nosso.
Nem podemos dormir nesse pantanal,
não vá o diabo tecê-las.
O estado vígil será o nosso lema.

Boa sexta-feira, meu amigo.

Abraço
Olinda

J.P. Alexander disse...

Profundo pema nos ha ce pensar en la realidad actual Te mando un beso.

Daniele Verzetti il Rockpoeta® disse...

Ci sono versi sublimi anche se estrapolati dal contesto, per esempio:

"Ci sono coccodrilli alla porta della rabbia
che certe creature portano nel sangue"

Mário Margaride disse...

Olá, caro amigo Jaime,
Passando por aqui, relendo este excelente poema que muito gostei, e desejar um Feliz fim de semana, com muita saúde.
Abraço amigo.

Mário Margaride

http://poesiaaquiesta.blogspot.com

Graça Pires disse...

Inquietante este seu poema, meu Amigo Jaime.
Um bom fim de semana.
Um beijo.

Rosemildo Sales Furtado disse...

Belo, profundo e um tanto metafórrico poema Jaime. Parabéns!

Abraços e um ótimo final de semana para ti e para os teus.

Furtado

SOL da Esteva disse...

Verdadeiramente o mundo onde vivemos é uma selva.
A maioria dos seres tornou-se selvagem e não se identifica como ser humano. Chamar Lei do mais forte aqueles que têm o poder selvagem, é coisa pouca.
Crocodilos! Pois...
Excelente, Jaime.


Abraço
SOL da Esteva

Marta Vinhais disse...

Um mundo que desconhecemos, onde se perde facilmente o rumo...
Interessante como sempre....
Beijos e abraços
Marta

Maria Rodrigues disse...

Infelizmente por vezes sentimos, que à nossa volta há uma selva a querer atacar-nos.
Profundo e belo poema.
Beijinhos

Pedro Coimbra disse...

São tantos os predadores à solta!!
Abraço

Fá menor disse...

Compreendo muito bem.
Estamos rodeados de feras...

Tudo de bom, amigo Jaime. Beijinhos.