Quando o motim interior
se plasma num mínimo poema que seja,
a pauta normalizada é distorcida
pela torrente encorpada
a deslizar por entre fragas mandantes.
O cortejo de palavras dispensáveis
naufraga ou desmantela-se
contra as pedras do caminho
e jazem agoniadas por ação da borracha,
que as elimina e empurra
para a periferia do papel.
E ficam, quando há talento,
apenas as palavras precisas
para que o motim se revele
sem distorções nem empecilhos,
ainda que leituras possam reclamar
mais manteiga nos versos.
© Jaime Portela, Outubro de 2024