Os outros não apreciam as nossas palavras
com os ouvidos com que nos escutamos ao
afirmá-las.
Quando nos escutamos,
até o ouvido interior com que nos escutamos
não ouve o mesmo que os ouvidos externos.
Se nos enganamos, escutando-nos,
logo nos podemos questionar
como é que alguém nos entenderá.
O prazer de se sentir percebido, é impossível
a quem não se quer e/ou não se é percebido,
coisa que muito sobrevém aos complicados
e, por isso, incompreendidos.
Os inteligíveis, poucos são,
aqueles cuja mensagem é a mesma
no emissor e no recetor, sem ruídos,
esses nem precisam de ter o receio
de não serem compreendidos,
esquecendo os duros de ouvido.
E, assim, nunca saberemos,
só podemos imaginar,
de quantas desconchavadas ideias
é construída a perceção
que os outros têm de nós pelo que dizemos.
© Jaime Portela, Outubro de 2025