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segunda-feira, 20 de outubro de 2025

A indiferença da pele [638]

 


Se moras nos subúrbios da vida

e sonhas na floresta das tuas fantasias,

ao teu remanso verde,

por certo imaturo,

nem os rumores dos teus gestos se mostram.

Se repousas nos teus sonhos

como se fossem searas imensas,

dos cálices da tua renúncia

apenas ingeres o choro de falsa viuvez

e nem vês os comboios que passam por ti.

Então, os dias claros,

o céu limpo sem nuvens

e o piano que espera as tuas mãos,

num bucolismo ausente do som

do alvoroço polifónico da vida,

têm o paladar insípido do que não possuis.

E tudo não passa

de uma flauta mágica, mas silenciosa,

por onde passas repetidamente

a indiferença da pele a caminho do nada.

 

 

© Jaime Portela, Outubro de 2025


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