O que mais dói, no corpo e na alma,
porque o sentimos pungente,
é a anseio pelas coisas a que não chegamos,
por vezes insignificantes, ilógicas
ou contraditórias como o sol à meia-noite.
Esta desordem da mente
algema-nos a um ambiente pesaroso,
num perpétuo caimento num abismo
em que, sabendo-o sem o saber,
sangramos continuamente feridos.
Um espaço inóspito encarvoado é, então,
o que germina na alma,
crescendo num desconsolo
mirrado pelo mato viçoso
que come a verdura dos plantios da vida.
Tornar as coisas sem peso,
subir a luz até ao nosso olhar
e cortar o mato pela raiz que nos devora
é o melhor caminho
para largar a balsa lenta da ansiedade.
Porque não vale a pena sofrer
de uma morte ainda pior que a morte.
© Jaime Portela, Abril de 2025