Para ver o agitar das águas
é preciso diminuir a marcha ou mesmo parar.
Pelo contrário,
a luz apenas se extingue se não a procurarmos.
Se fecharmos os olhos com a lentidão do sono,
apenas fica dentro de nós um vazio
cheio da noite que desincorpora o pensamento.
Um dos malefícios da razão
é contemplar quando se pensa.
Os que raciocinam com o pensamento ficam
absortos,
com o coração ficam dormentes
e com o arbítrio ficam confusos.
Há quem raciocine
com os instintos criativos da imaginação,
mas tudo o que deveria ser amor, tristeza ou
ternura,
é limitado ao desprezo afastado da realidade,
como se o criador habitasse um deserto lunar
com um ocaso em câmara lenta.
Vou lavar o cérebro, a alma
e o que de lixo mais houver nos vales da razão.
As andorinhas, quando partem,
também deixam o chão racionalmente conspurcado.
© Jaime Portela, Dezembro de 2025