Liguei o computador
e o que vi não foram imagens nem palavras,
foi um moscardo a esfregar as mãos de contente.
Mirei-o de alto abaixo com profunda
repugnância,
de pêlos ao alto
de tão desperta repulsa eriçados.
O enorme moscardo era luzidio, anafado,
de um preto esverdeado com reflexos azulados.
Pensei em matá-lo.
Mas, quem sabe para que poderes supremos,
não serei eu um pequeno inseto
que incomoda e repugna…
E foi combalido,
com um pavor mais negro que a cor do moscardo,
que pensei nesta analogia ridícula.
Mas a verdade é que me senti moscardo
quando a ele me assemelhei.
Nessa noite
sonhei que era um luzidio moscardo
a esfregar as mãos de contente
enquanto me banqueteava com migalhas
que às centenas havia na mesa.
Subitamente,
caiu sobre mim um mata-moscas supremo
que me pisava e repisava.
Acordei com suores frios
e passei a ser amigo do irmão moscardo,
das formigas que me entram na cozinha,
dos macacos nossos primos,
dos pardais que cagam nos parapeitos das
janelas,
das trepadeiras que não me largam o muro
por mais que as esquarteje,
enfim, sou amigo de tudo o que é vida na Terra,
que não é só nossa,
porque tivemos uma origem comum
e porque
todos precisam de todos para viver.
© Jaime Portela, Dezembro de 2025
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