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quinta-feira, 21 de abril de 2016

Uma rosa moribunda [066]


 

Uma rosa moribunda
na alegre palidez de ventos tristes,
com gestos de mariposa a procurar o sol
no reverso de um tempo já serôdio
em labirintos nocturnos de memórias.
Um girassol impreciso
nos pregões de engodos para o abismo,
a dissecar, no pino do estio das palavras,
mil pegadas de contornos fátuos
que no areal a cada vaga definham.
Mareante profana,
felina, de abordagem temerária
às naus que abalroa arrebatada, é enganada
por contrastes de tesouros sem quilates,
corsária saudosa
do seu próprio espólio já morto.
Numa procura com penas de pavão,
certa de mais um achado,
mas atraída pela brisa diversa,
numa clara cegueira de luz redundante
e impelida pelo calor falacioso
que emana do instinto predador,
tomba seduzida
por jóias que pensava verdadeiras.
Dessas pilhagens,
onde luzem todas as memórias sem passado,
deveriam nascer anjos verdes
com almas brancas de açucenas,
que viveriam cegos e certos
na febre faminta de abraços,
fundindo sinais, partilhando tesouros,
morrendo de amor e paixão.
Mas nada disso acontece,
porque, afinal, é uma rosa sem luz,
rosa falaciosa que eu não beijo,
mesmo sem espinhos,
sedutora e de boca orvalhada pelo desejo.
 
Jaime Portela
 

58 comentários:

Marcia Lopes Lopes disse...

Muito lindo e profundo.
Conseguimos refletir sobre vários assuntos, inclusive sobre pessoas vazias... já ouviu falar do ditado: "Por fora bela viola, por dentro pão bolorento"?
Bjs
http://www.mundoliterando.com.br/

Aninha Ferreira disse...

este poema parece que retrata tal e qual o tempo em que estamos, ja com sinais de primavera mas com frio e chuva, e todos nos procuramos o sol nao so a rosa :)

Marta Vinhais disse...

Quando se morre de paixão... ficam apenas suspiros e memórias sem passado...
Como sempre, brilhante...
Beijos e abraços
Marta

Elvira Carvalho disse...

Uma metáfora poética, muito bela. Quisera eu saber fazer um comentário à altura dela.
Abraço

RENATA CORDEIRO disse...

Tão triste a rosa, que teria tudo para ser e fazer alguém feliz. Gostei muito.
Beijo*

Arco-Íris de Frida disse...

Poema belo...fiquei encantada... principalmente com essa parte...

"deveriam nascer anjos verdes
com almas brancas de açucenas,
que viveriam cegos e certos
na febre faminta de abraços,
fundindo sinais, partilhando tesouros,
morrendo de amor e paixão."

José Carlos Sant Anna disse...

Belas imagens para dar conta dessa "rosa moribunda", que já não sente o arrepio do vento
Forte abraço, Meu caro amigo Jaime Portela.

Brisa disse...

Olá Jaime
Que deslumbrante poema...deixaste-me sem palavras...
"...porque,afinal, é uma rosa sem luz,
rosa faliciosa que eu não beijo,
mesmo sem espinhos,
sedutora e de boca orvalhada pelo desejo. "

Desejo-te um ótimo fim de semana meu amigo
Bjo

Andre Mansim disse...

Poeta Jaime!
E tem gente ainda que acha que escreve meia dúzia de palavras amorosas e já está fazendo poema, hahahahahahahaha.

Poema é isso aqui!
Muito bem bolado, pensando e escrito.

E as frases, não estão obvias e a cada um dos comentaristas trouxe um sentimento diferente! O meu foi apenas, aplaudir!!!!!!


Parabéns!

Maria Teresa Valente disse...

Poema de intensa sensibilidade e eficaz direção...
Feliz sexta-feira, Poeta Jaime Portela!
Abraços carinhosos
Maria Teresa

Cidália Ferreira disse...

Os seus poemas são um encanto! Adorei este poema!!

Uma boa noite
Beijo

http://coisasdeumavida172.blogspot.pt/

Graça Alves disse...

"O Amor são rosas"
Mais um momento agradável que passei aqui :)
beijinho

Lua Singular disse...

Que triste fim da rosa moribunda. Deveria haver algo que nunca matasse o viço das rosas, minha flor preferida.Mas elas sucumbem seus curtos tempo de vida.
Adorei
Beijos
Lua Singular

Manuel Veiga disse...

belo poema, meu caro Jaime
Rosas assim de perfume fanado são de todos os tempos e... espaços! até no "nome da rosa" aparecem ... rss

abraço

Laura Santos disse...

Uma rosa sem espinhos já deixou de ser a rosa vibrante que simboliza o amor e a paixão. Mesmo que o desejo ainda esteja na sua boca orvalhada, os ventos são agora tristes e por mais que busque o sol, já não consegue brilhar. Algo dela se perdeu no tempo da mera sedução.
Um poema soberbo, Jaime! Isto sim, é poesia da "grossa". :-)
Bom fim de semana!
xx

Daniel Costa disse...

Jaime
Beleza daquilo a vou chamar de conto poético de muita imaginação, a nos acrescentar um modo diferente de apreciar poesia. E nada mais motivador do que podermos usufruir de novas fórmulas.
Abraço de parabéns.

Mariangela l. Vieira - "Vida", o meu maior presente. disse...

Quantas rosas despetaladas, entristecidas, perdidas no tempo que passou, ou, que nunca encontrou.
Lindo Jaime!Parabéns.
Mariangela

Wonder disse...

Belíssimo poema meu caro... Com tamanha singularidade daquilo que possa retratar de belo a beleza e a profundidade de uma escrita com seus detalhes... Desejo-te um ótimo final de semana a abençoado a vc e aos demais do seu lar.
Wonder... do blog uanderesuascronicas.
obs. obrigado pelas palavras no meu espaço...

Maria Teresa Valente disse...

Boa tarde, Poeta Jaime Portela, agradeço por nos prestigiar com a partilha de seus poemas e informo que indiquei o seu blog ao "Prêmio Dardos"
http://www.teceramor.com/2016/04/premio-dardos.html.
Excelente final de semana, abraços carinhosos
Maria Teresa

MEU DOCE AMOR disse...

Olá:

Olha não sei o que dizer.Só me ocorre a visão que se apoderou de mim: uma corsária comandante de um grande galeão...

Beijinho doce:)

MEU DOCE AMOR disse...

Ah! Mas sou uma rosa com luz e quem não quer ver isso não vê:)))

Suzete Brainer disse...

Belas metáforas, a ilusão se veste sempre
numa luminosidade atraente e falsa.
Mas, a verdade é sempre uma luminosidade única,
que aproxima da felicidade plena!...

Sempre bela e excelente a tua Poética, caro Poeta!
Beijo.

Ps: Grata pelo teu belíssimo e generoso comentário,
valorizo muito esta nossa partilha poética de
muito tempo, tu és a generosidade sempre!...

Maria Rodrigues disse...

Sublime poema.
Um grande abraço
Maria

linksdistodaquilo disse...

r: Agradeço e retribuo.
Beijo.

Aline Goulart disse...

Uma metáfora muito bem conduzida nesses versos poéticos. Acho lindo a sua capacidade de expressar tão detalhadamente a profundidade de cada palavra. Parabéns! Beijinhos e ótimo fim de semana.

Shirley Brunelli disse...

Assim caminha a humanidade, numa febre faminta de abraços.
Magnífico poema, Jaime.
Beijos!

VITORIO NANI disse...

Olá, Jaime!
Uma rosa condenada ao desprezo, como tantas que diariamente surgem em forma de cometas de vida curta, que sequer deixam rastros em nossas vidas! A mídia televisiva está repleta dessas rosas, em busca do brilho falso das luzes, mas acabam como em seu poema, como mariposas a procura do sol!
Forte abraço e bom final de semana!

manuela barroso disse...

Cada vez mais exigente na redundância dos espaços poéticos , encantas com a tua arte encantatória de comandante mareante . A rosa, essa , vai murchando não resistindo a tanto beijo de espuma
Amei
Abraço , querido poeta !

Anderson Lopes disse...

Grandioso!! Essa rosa para mim, simboliza o mundo.

Abraço, Jaime

Andreia Morais disse...

Impossível não gostar! Poema fantástico.

r: Fico contente por ter gostado :)
Bom fim de semana*

Mário Margaride disse...

Magnífico poema, amigo Jaime!

Parabéns!

Abraço e bom fim de semana

Fá menor disse...

Há rosas e outras flores... amores e outras dores.

Bom fim-de-semana prolongado, amigo poeta!

Bjs

Blog da Gigi disse...

Lindo dia!!!!!!!!! Beijos

São disse...

Quando é que os "anjos verdes" decidem pousar nas páginas de um livro?


Bom domingo e grande abraço, Jaime.

Unknown disse...

Olá, Jaime.
Bonito poetar, repleto de metáforas cirurgicamente utilizadas, levando-nos no encanto, na sedução dessa rosa falsa, que ninguém quer sua.
Mas tantas nos rodeiam.

um abç amg

Tais Luso de Carvalho disse...

O trilhar da pobre rosa, tão falso e inexpressivo, só poderia acabar assim: desprezível.
Bela criação, Jaime!
bjos! Uma boa semana.

Graça Pires disse...

Um poema tão nostálgico como a "rosa moribunda". Às vezes o itinerário do amor deixa-nos à deriva pelo esquivo lugar das "memórias sem passado"...
Um beijo, Jaime.

Magda Carvalho disse...

Bom poema :)

http://retromaggie.blogspot.com/

Gracita disse...

Com lindas metáforas enalteces o fenecer de uma grande paixão da rosa rosa agoniza em delírios de amor
Poema belíssimo Jaime
Uma linda semana para você
Beijos

M. disse...

Que poema belíssimo e profundo, Jaime!
Beijinhos e bom feriado :)

Ana Freire disse...

Uma rosa sem luz... também existem, sim... fotografei uma esta semana... com um tom bordeaux tão escura, quase preto... que não pensei que pudessem existir... colocá-la-ei em breve, por lá no meu canto... e o sentimento é que essa rosa absorvia mesmo toda a luz que incidia nela... também há pessoas assim...
Umas irradiam luz... outras limitam-se a absorvê-la... não numa relação de simbiose... mas talvez de puro parasitismo da alma, em relação a tudo o que a rodeia, tentando até absorver a luz que não lhes pertence...
Adorei o poema, Jaime! Que ganhou bem mais sentido... depois de, na realidade, ter fotografado, uma rosa, tão invulgar, esta semana, que passou...
Beijinho! Bom feriado e boa semana!
Ana

Arte & Emoçoes disse...

Olá Jaime! Aqui passando para me deliciar com a leitura de mais um dos teus belos e metafóricos poemas. Adorei, principalmente o trecho abaixo, pois lembrou-me uma rosa que insiste em ornar e perfumar o Palácio da Alvorada, lá em Brasília.

Numa procura com penas de pavão,
certa de mais um achado,
mas atraída pela brisa diversa,
numa clara cegueira de luz redundante
e impelida pelo calor falacioso
que emana do instinto predador,
tomba seduzida
por jóias que pensava verdadeiras.

Abraços e uma ótima semana para ti e para os teus.

Furtado.

MARILENE disse...

Perdeu, pelos caminhos, o encanto. Seu brilho, ora falso, já não atrai. Deixou-se levar pelo que não tinha real valor e já não consegue um verdadeiro amor. Muito belo, Jaime! Abraço.

SOL da Esteva disse...

Uma dança metafórica de abraços, resulta num poema de excepção.
Parabéns.

Abraço
SOL

Existe Sempre Um Lugar disse...

Boa tarde, o poema é maravilhoso da rosa que podia ser feliz, "nos pregões de engodos para o abismo,a dissecar, no pino do estio das palavras," isto é muito significativo.
Boa semana,
AG

rosa-branca disse...

Olá Jaime, fiquei triste com essa rosa, mas o poema é soberbo. Adorei. Beijos com carinho

Coitada da rosa orvalhada
Que vai morrer de desejo
Tão triste e amargurada
Por não ter esse teu beijo.

Mariazita disse...

Este poema deixou-me literalmente sem palavras, meu querido amigo Jaime.
Porque gostei? Sim, porque gostei, muito, mas também porque tenho dificuldade em exprimir os sentimentos que em mim gerou.
É uma amálgama de sentires confusa, indefinida, que causa prazer e não se sabe porquê...
Quem pode entender a alma dos poetas? :)

Desejo uma semana muito feliz.
Beijinhos
MARIAZITA / A CASA DA MARIQUINHAS

By Me disse...

Pois... "é uma rosa sem luz, rosa falaciosa que eu não beijo, mesmo sem espinhos, sedutora e de boca orvalhada de desejo"

De nada serve venerar o que não existe.... discursos vazios de conteúdo! Palavras e mais palavras e os actos negam a verdade dos factos!
( Esta é a minha visão)

Beijo, querido amigo J.P

CÉU disse...

vamos lá a ver se eu não digo, melhor não escrevo, meia dúzia de palavras afetuosas ou não, e não fico logo a pensar k fiz um comentário excecional, com abreviaturas e tudo, de conteúdo bem esmiuçado e desventrado, plano de ideias bem estratificado e diversificado, morfologia e sintaxe a ter sempre em atenção e até, quem sabe, candidato a um qualquer, bastante indefinido, Nobel da Literatura. ai, como andam os tempos, as línguas e os ventos.

Em minha opinião, sempre houve, há e haverá rosas assim, a que chamou moribundas, na poesia e na vida. fado, sina, fatalidade - e quem nasce mal fadado, melhor sorte não terá - entre aspas, desorientação, cegueira por... enfim, cada uma terá os seus motivos.
elas são como os impérios, vendo bem, meu querido amigo e poeta versátil, onde a mulher ocupa e sempre ocupou - tenho saudades daquelas imagens-fotos enormes de mulheres aprazíveis, distintas e sensuais - um espaço grande e especial na sua esmerada escrita. obrigada por mim, obrigada por todas.

um poema mto intenso, talentoso, profundo, realista, repleto de metáforas, que se adivinham e veem mto bem, mas de final, para mim, inesperado. todavia, quem escreve, não sabe, exatamente, como vai acabar o poema ou o texto-prosa, pelo menos isso acontece comigo. e com o Jaime, ponto de interrogação

O Sr. Engenheiro, bem k podia dar-lhe uma ajudinha, entre aspas, pke apesar de todas as suas - dela - quedas, abismos, falácias, ambições desmedidas, caminhos, de mais baixos k altos, ainda reconhece k ela continua, é sedutora, sem espinhos e guarda desejo na boca, que não vou classificar, nem qualificar, pke pela boca morremos todos.

estive a brincar com as palavras, e com algumas delas, talvez sem sentido, nem tino, mas pouco mais sei fazer. aguardemos, então, o beijo.

boa semana e ... um beijo humanista.

Rui Pires - Olhar d'Ouro disse...

Sublimes palavras! Parabéns!
Abraço
Rui

Agostinho disse...

Ora, será que a moribunda algum dia foi Rosa?
Num tom menor entristece. Por mais que que pinte as unhas já não tem garra, muito embora a boca...
Bela poética, Jaime.
Abraço.

Ana Tapadas disse...

Lendo de novo e saboreando uma delícia poética.

Beijo meu

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

JP

será que alguma vez foi Rosa? ou será que foi apenas um erro de genética.

pois é, nem tudo o que parece é.

beijo

:)

Arione Torres disse...

Oi amigo, adorei o poema!
Tenha uma ótima semana, abraços e fique com Deus!!

Elvira Carvalho disse...

Hoje, o Sexta está em festa. Se lhe for possível, passe por lá.
Abraço

Jaime Portela disse...


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Caros amigos
Obrigado pelos vossos comentários. Voltem sempre.
Entretanto, acabei de publicar novo poema. Espero que gostem.
Continuação de boa semana para todos.
Saudações poéticas.
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Odete Ferreira disse...

Dos fracos não reza a história, diz-se.
Mas, os falsos e a vã vaidade em sequer têm história, a não ser personagens tipo representadas no palco do riso.
Parabéns por esta mordaz construção poética.
Bjo, amigo :)

Ailime disse...

Boa noite Jaime,
Um poema magnífico e profundo, repleto de belas metáforas que me levam a uma interpretação que diverge da maior parte dos comentários que li.
Talvez uma conotação politica com a actualidade.
Haja esperança.
As rosas são flores vigorosas.
Resistem muitas vezes a Invernos rigorosos.
Beijinhos,
Ailime