Translater

quinta-feira, 27 de agosto de 2020

Da beleza da gravata ao esplendor do verniz [294]

 

Vejo, por vezes, o desconcerto

do insustentável mau trato da língua.

Então, porque o descuido que destroça a palavra

é distinto e redito,

imagino a vanidade do remo sem água

nos que se deixam molhar até à medula

com a chuva de tolices estampadas,

enquanto contemplam, acéfalos,

o remoinho do regurgitado.

 

Não há horas felizes nessa bravata de gargarejos,

onde o poema, ferido,

se contorce com vários trejeitos

[ouvindo aplausos à  beleza da gravata

e ao esplendor do verniz]

à espera que o saber da palavra construa, enfim,

o sustentável bom trato do verbo.



© Jaime Portela, Agosto de 2020


41 comentários:

Andreia Morais disse...

Mais um maravilhoso poema *-*

Continuação de uma boa semana

Aprendendo com Eles e com os Livros disse...

Jaime,
Bravíssimo para mais
essa linda poesia.
Bjins
CatiahoAlc.
aprendendocomeles@gmail.com
https://reflexosespelhandoespalhandoamigos.blogspot.com

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Um belo poema amigo Jaime.
Um abraço e continuação de uma boa boa semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
Livros-Autografados

MARILENE disse...

Jaime, existe um dentro que deseja se manifestar, mesmo quando deixa à mostra apenas "a beleza da gravata e o esplendor do verniz". Não estou prestando anuência ao vilipêndio da linguagem, realmente deplorável. Depreende-se de seu poema uma crítica. Creio, porém, que até os poemas feridos podem, em sua essência, algo dizer. Abraço.

" R y k @ r d o " disse...

Mais um poema que me fascinou ler. O amigo Jaime Portela tem o dom do bem escrever poesia. O meu elogio e 👏
.
Boa noite
Cumprimentos

Dalva Rodrigues disse...

Querido Jaime, um complexo poema a se questionar, ler, reler e interpretar (tentar).

Alguém já disse que não existe nada mais democrático do que as palavras e concordo, mesmo que não sejam bem utilizadas,haverá de ter algum valor a quem as pronunciam ou escrevem.

Gostei do exercício, abração, amigo!

Fá menor disse...

Andam por aí muitos verbos desconcertados, muitos vernizes desmaltados, muitas faltas de gravata... de berço, de chá.

E o que eu vejo e prevejo é que em nada de bom dá nem dará.

Como bem dizes,
assim
"Não há horas felizes".

Beijinhos, amigo Jaime!

Cidália Ferreira disse...

Como diz o Ricardo, o Jaime tem o dom para a Poesia e da mais bela! Adorei
-
Não, não me troques por ninguém
-
Beijo, e noite feliz!

Pedro Luso de Carvalho disse...

Meu amigo Jaime, gostei muito deste teu poema, um grito de alerta em defesa da língua, um grande instrumento para que os poetas possam entoar os seus cantos.
Parabéns, Poeta, um excelente final de semana, caro Jaime.
Um abraço.
Pedro

Pedro Coimbra disse...

Como hoje anda lá pelo meu cantinho, há pessoas que só valeram a pena quando eram espermatozóides.
Aquele abraço, bfds

Andreia e Jéssica disse...

Um ótimo poema para começar o dia!


Beijinhos,
Damsel.me-Clique Aqui

Marta Vinhais disse...

A língua é destruída, destroçada, está cheia de palavras " emprestadas" e verbos mal conjugados....
São horas felizes aquelas em que encontramos poemas poderosos como este....
Obrigada pela visita
Beijos e abraços
Marta

Maré Viva disse...

Sempre profundo e actual. A nossa língua nem sempre tem sido respeitada o que é lamentável, porque língua é sinónimo de Pátria!

Bom fim de semana, caro Jaime.

Graça Pires disse...

"Vejo, por vezes, o desconcerto do insustentável mau trato da língua." Como estou de acordo com o que diz Jaime. É bom que o seu poema seja um grito de alerta para quem não tem a preocupação de escrever e falar em bom português.
Um bom fim de semana.
Um beijo.

Vanessa Casais disse...

Que poema lindo. Realmente o mau trato da língua, e a falta de um pensar próprio, não movido por modas ou manias, já chocam.

Vanessa Casais,
https://primeirolimao.blogspot.com/

N A S S A H disse...

Poesia mais bela adorei

Ana Tapadas disse...

Exactamente!
Elaborado poema ao desconcerto que por aí anda...

Beijo

Artes e escritas disse...

A estética não pode suprimir o pensamento, mas permitir que o pensamento se possa traduzir em arte, mesmo que antiestética. A tensão existe na arte, é uma demonstração simbólica como na música e na pintura, mas a palavra é necessária,estética ou não, pois a palavra vive e a música apenas sublima, embora maravilhosamente. Um abraço, Yayá.

Teresa Almeida disse...

"O bom trato do verbo", com toda a beleza e significância, é de cultivar.
Um repto certeiro.

Beijo e saúde, meu amigo Jaime.

alfacinha disse...

A minha língua materna não é o português. Só empresto do dicionário as palavras para me exprimir no seu idioma. Não falo ou escrevo corretamente, mas , estou muito honesto quando digo:Adoro a língua materna de Camões.
abraço

SOL da Esteva disse...

Gravatas ou vernizes não são definições que possam alterar o interior de cada um. A Alma da gente tem personalidade e vida própria. Gostei do disfarce da tristeza que ali existe.
Parabéns.

Abraço
SOL

São disse...

Concordo de todo contigo.

Para cúmulo há quem considere que estas nossas preocupações com a Língua não se justificam , porque erros são meras banalidades!!!

Te abraço , bom fim de Agosto

Mar Arável disse...

Na verdade.
Abraço

Manuel Veiga disse...

Poema/denúncia de grande actualidade
e qualidade!

"que nunca a voz te doa", amigo Jaime
no propósito de defesa da Língua Portuguesa

grande abraço

Sandra Figueroa disse...

Precioso poema amigo Jaime. Saludos a la distancia. Un placer leer tu obra poética.

saudade disse...

Maravilhoso poema amigo. Boa semana. Beijo

Adelina disse...

Pues tus palabras son hermosas. Ti poesia pura belleza. Un beso grande

Isamar disse...

Mais um belíssimo poema, sempre tão inteligentemente bem escrito!
Fique bem querido amigo Jaime, beijinhos!

Ana Freire disse...

Passei os meus melhores anos na escola... a aprender a escrever mal... agora com este Acordo Ortopédico... que fizeram da língua portuguesa... certamente mais pensado com os pés... do que com a cabeça... que eu não aceitei... mas que passou a ser... aceitado!... Termo que antigamente me teria dado um chumbo directo, na disciplina de Português...
Mais um belíssimo momento poético... que nos faz reflectir para além da feira das vaidades... meio de excelência, onde tantas vezes, se decidem... idiotices... vazias de tudo... até de sentido... como o presente Acordo...
Beijinho! Feliz domingo!
Ana

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

JP

tens razão!
nossa língua é tão rica e bonita, mas muito maltratada por aí.
uma crítica bem feita.
bom domingo
beijinhos
:)

Portugalredecouvertes disse...

um reparo como uma farpa
"...à espera que o saber da palavra construa, enfim,

o sustentável bom trato do verbo."
espero que o verbo seja contemplado com o respeito que merece
muito bom! às vezes dizem-nos "esperem sentados"!
não vou por aí
haja otimismo
boa semana Jaime

Bandys disse...

Ola Jaime,
Muito bem escrito e lembrado.
Não podemos perder as esperanças
que dias melhores virão.
Um beijo

Rosemildo Sales Furtado disse...

Olá Jaime! Passando para te cumprimentar e me deliciar com a leitura de mais uma das tuas belas criações. Muito profundo o teu poema.

Abraços e um ótima semana para ti e para os teus.

furtado

luar perdido disse...

Amigo Jaime; que belo poema, que bela forma de nos fazer "passear" pelas formas, pelo verbo, pelo sentido e significado de um punhado de palavras que nos brota da alma e resvala pelo papel.
Gravatas e vernizes jamais poderão "afogar" a força, a beleza e a intensidade de um poema. Muito menos de um poema teu!
Belíssimo.
Beijo... de Luar

Magui disse...

Nem todos os vernizes ficam bem, há que saber usar.
Belo poema.
Beijo

Teresa Isabel Silva disse...

palavras assertivas!
aproveito para desejar uma boa semana!

Bjxxx
Ontem é só Memória | Facebook | Instagram | Youtube

Reflexos Espelhando Espalhando Amig disse...

Jaime,
Bom dia e como esse
texto mostra palavras
e palavras.
Adoro.
Bjins de renovação de esperança.
CatiahoAlc.
Blogs
https://reflexosespelhandoespalhandoamigos.blogspot.com
https://frasesemreflexos.blogspot.com
https://soempalavras.blogspot.com
https://comentariosporaicoisatal.blogspot.com

Emília Pinto disse...

Colocam a gravata os homens, compondo assim o seu melhor fato, enfeitam-se as mulheres com os seus longos para, em alto e bom som, dizerem que temos uma lingua riquissima em vocábulos, mas não se acanham nessas alturas em usar palavras inglesas, em utilizar uma lingua tão pobre que tem a mesma palavra para vários significados, enquanto a nossa lingua tem vários vocabulos para um só significado. Uma amiga minha me dizia com frequencia que um dia destes não poderia andar sozinha, pois não sabe Inglês e começa a ser dificil decifrar o que está escrito, por exemplo numa vitrine de loja. Sabes, Jaime, indigna-me estas coisas e dificilmente me veem empregar um termo inglês, mesmo em casos de informática , a não ser que não conheça o correspondente na nossa lingua. A mim choca-me mais este desprezo pelo nosso Português do que propriamente os erros ortográficos, embora seja de lamentar que os engravatados deste país e as madames de vestidos longos e joias no pescoço cometam tantos atropelos , muitas vezes piores do que aqueles que só tiveram a possibilidade de aprender a ler e a escrever,durante os primeiros 4 anos de escolaridade. Amigo, como sempre, alonguei-me muito e espero que neste " testamento " não tenha cometido alguma indelicadeza com a nossa lingua, mas...às vezes acontece. Um abraço e SAÚDE para todos. Obrigada pelo belo poema, aliás, como sempre acontece
Emilia

vieira calado disse...

Olá! Como está?

"o sustentável bom trato do verbo." - parece
que começa a ser cada vez mais difícil, para muitos...

Abraço!

Smareis disse...

Bom dia Jaime!
Gostei de ler seu poema. Brilhante!
Continuação de boa semana. Ótimo mês de setembro.
Beijos!

Porventura escrevo disse...

Uma bonita introspecção
Bem escrita
Gostei