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segunda-feira, 3 de novembro de 2025

A mentira é uma arte [640]

 


Já que, porventura, nem tudo é inventado,

que o gosto extasiante de mentir seja incurável.

 

Ainda que imbecil, a mentira é uma arte

e tem toda a sedução do vício

no permanente feitiço de não ser descoberta,

ou por ser descoberta por quem não se importa

e sempre nos aplaude.

 

A depravação que não respira o prazer,

não tem a raiva de nos acarretar desgosto

e tomba caída numa inutilidade paradoxal

como um boneco de criança estragado

com que um maior pretendesse recrear-se.

 

Que gestos têm uma aparência tão estética,

como algo contrafeito melhor que o original,

que mentem à sua essência e contestam o propósito?

 

Mas, se a mentira nos der

descontrolado contentamento,

digamos o que aparenta ser autêntico,

de vez em quando, para a iludirmos,

ainda que alguns percebam

que estamos a dizer o contrário do que parece.

 

E quando nos sentirmos aflitos,

é hora de parar e brincar,

para que a angústia não se expresse séria

na verdade que se vira contra nós.

 

 

© Jaime Portela, Novembro de 2025